Depois de uma ligeira recuperação para o final da sessão de ontem, segunda-feira, 05, o barril de Brent voltou a cair já ao início da tarde de hoje, voltando à casa dos 75 USD, com uma perda relativa de 0,62%, para os 75,8 UD perto das 14:00, hora de Luanda.

É verdade que na anterior sessão, chegou aos 74,35 USD, mas isso era expectável no contexto do colapso das bolsas mundiais, que em Tóquio, o NIkkei chegou a cair 13%, no seu ior dia desde 1987, estando agora o universo bolsitas a recuperar, em mais de 50%, o barril volta a resvalar na incerteza dos dados económicos chineses e da instabilidade no Médio Oriente.

No máximo da queda de ontem, o barril de Brent atingiu um recorde de quase oito meses, levado na enxurrada bolsista e na precedente vaga de notícias sobre uma iminente recessão nos Estados Unidos da América.

Os alertas começaram na semana passada, depois de três dias em sucessão de perdas, mas só na segunda-feira, 05, o pânico chegou aos mercados... e com estrondo: a economia norte-americana, a maior do mundo, que acumula com o estatuto de maior consumidor de crude do planeta, está à beira da recessão.

Os media económicos já dão como certa uma derrapagem histórica na economia norte-americana, com uma entrada flamejante na recessão, mas o mais assustador é que nem a iminência de um conflito alargado no Médio Oriente está a ser bastante para diluir o risco de uma semana caótica nos mercados.

Em confronto estão dois pesos inigualáveis para o equilíbrio dos mercados, uma quase certa explosão do "barril" do Médio Oriente, que abastece 35% do petróleo consumido no mundo, e uma recessão nos EUA, o maior consumidor global da matéria-prima.

Com a entrada de novos produtores no mercado, como a Guiana, na América do Sul, ou, por exemplo, a possibilidade de a Namíbia, em África, emergir como grande exportador também, ou o aumento da produção noutros, como o Brasil, o mundo começa a depender menos do crude do Médio Oriente.

E, ao mesmo tempo, como sempre, uma constipação na economia dos EUA provoca uma gripe nos "tigres" asiáticos, onde as bolsas se ressentem das oscilações da economia norte-americanas como se fosse o bolso dos investidores deste lado do mundo que estivesse a arder.

E não, isto não são boas notícias para Angola, com a sua economia a atravessar um dos mais duros períodos das últimas duas décadas, mantendo uma dependência pouco sadia das exportações de crude, apesar dos esforços anunciados pelo Executivo para contrariar essa dependência.

E o que se apresenta como mais provável ao virar da esquina do advir breve não é bonito, porque, à ameaça de recessão nos "States", da China, o maior importador do mundo e a segunda maior economia, os dados que chegam não são menos cortantes, com uma redução severa do consumo que se alonga no tempo sem que os analistas percebam onde vão parar as chamas neste capim de incertezas que cobre a economia global.

O que não está fácil para os analistas deste negócio global é perceber a relevância da crise israelo-iraniana no Médio Oriente e que impacto terá tanto o agravamento desta crise, que só pode subir na escala do risco para um conflito directo, ou a diluição do perigo de uma escalada histórica...

Um dado em cima da mesa é este: um ataque do Irão a Israel está iminente e é certo e seguro que vai suceder, depois do humilhante para Teerão assassinato do líder do Hamas, Ismaeil Hanyieh por Israel na semana passada, mas nem assim isso está a equilibrar os pesos da balança da economia global...

Até porque se o "capim" no Médio Oriente pegar mesmo fogo, isso pode dar uma volta de 180º na forma de impacto na economia norte-americana, que precisa de energia barata para sair do buraco... e com o "barril" do mundo a arder, dificilmente o crude não disparará...

Mas, para já, o que se assiste é a um duro golpe nas economias mais dependentes das exportações de crude, como é o caso da angolana... com tendência a agravar... e isso...

...para as contas de Angola

... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, podem ser péssimas notícias.

Mas, para já, ter o Brent nos 75 USD, ainda bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, continua a permitir diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.