Apesar de o barril de Brent estar a observar, perto das 09:00 de hoje uma importante recuperação, esta, permitindo algum alívio, ainda não é, porém, suficiente para permitir descansar ao Executivo de João Lourenço, porque o preço ainda está cerca de 4 dólares abaixo do valor de referência usado para a elaboração do Orçamento Geral do Estado (OGE 2020).
Depois de ter chegado a bater na casa dos 49 USD, o barril está hoje a valer em Londres 50,90 USD, o que significa que precisará ainda de subir pelo menos quatro dólares para se posicionar nos 55, o valor de referência do documento que serve de bussola financeira ao Governo angolano.
Como o Governo, através do ministro dos Petróleo, Diamantino Azevedo, já admitiu, se estes valores não se alterarem de forma suficiente, uma revisão do OGE 2020 poderá tornar-se inevitável em breve por forma a adequar as despesas previstas no Orçamento às receitas possíveis com o barril de crude - o petróleo ainda é responsavel por cerca de 95% das exportações nacionais - nos valores actuais.
Por detrás deste sobe e desce dos mercados petrolíferos estão as renovadas garantias de aumento dos cortes e da extensão no tempo dos que estão em vigor por parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e dos seus aliados na estratégia de subtracção da produção como ferramenta de equilíbrio dos mercados, à qual se junta a Rússia e mais 11 produtores, incluindo os importantes Kazaquistão e México na associação ad hoc OPEP+.
Nos próximos dias, os membros da OPEP+ vão voltar a reunir de emergência em VIena, Áusria, na sede mundial da OPEP, para definir o novo conjunto de medidas, que vão passar, seguramente, por mais produção cortada e a expansão do calendário de cortes para o final do ano, quando deveria terminar em Junho próximo.
A queda substancial das últimas semanas, que levou a matéria-prima a bater recorde de meses em baixa, deveu-se ao impacto da pandemia provocada pelo novo coronavírus Covid-19, primeiro na China, a segunda maior economia mundial e o maior importador de crude planetário, e depois no resto do mundo, com destaque para a Europa, cujo impacto, só no gigante asiático, levou a uma diminuição do consumo em cerca de 2 milhões de barris por dia, 20 por cento da média diária, situada nos 13 milhões de barris por dia.
Para além do Brent, também do outro lado do Atlântico, no nova-iorquino WTI, o barril bateu no fundo, chegando aos 43 USD, uma queda brutal de mais de 55 antes do impacto da pandemia de Covid-19.
E com esta queda, embora hoje, tal como o Brent, o WTI esteja a recuperar, surgiu outro efeito com pesado impacto na queda abrupta do valor do crude, que foi o efeito na indústria alternativa do fracking, ou petróleo de xisto, cuja extracção é conseguida através da injecção e químicos a altas pressões no subsolo, fazendo explodir este tipo de rocha para extrair crude e gás natural.
Mas o problema é que esta indústria, que permitiu aos EUA, a maior economia global, passar de importador de petróleo para exportador líquida da matéria-prima, só é rentável a partir dos 70 USD por barril, no Brent, ou dos 60 no WTI, em média.
O que leva a concluir, e com efeitos já pesadamente sentidos entre os produtores, que a actividade do fracking está neste momento a gerar elevados prejuízos, e assim se manterá, o que será insustentável, como as subsequentes falências a serem inevitáveis, até que o breakeven seja novamente alcançado, o que, para já, não é perspectivado com segurança pelos especialistas, embora estes admitam, genericamente, que isso vai depender do "calendário" do Covid-19.
Recorde-se que os preços do crude estão a cair mais de 20% desde Dezembro, coincidindo com o início da epidemia/pandemia na cidade chinesa de Wuhan, província de Hubei, com mais de 3.000 mortos em todo o mundo e mais de 80 mil infectados.
As quebras económicas registadas são uma consequência, essencialmente, da paragem forçada da indústria exportadora chinesa, com dezenas de fábricas, incluindo as de grandes macas mundiais, como a Apple, no quadro das medidas draconianas impostas pelas autoridades chinesas para controlar a progressão do novo coronavírus.
E o mesmo já está a suceder noutros países, especialmente nos mais expostos, como a Itália, na Europa, ou a Coreia do Sul, na Ásia.