Apesar de o barril ter conseguido chegar ao dia de hoje, pelas 09:30, hora de Luanda, acima da fasquia dos 90 USD, no Brent de Londres, a referência dominante para as ramas exportadas por Angola, e este ser um valor que permite às petroeconomias viver tempos de abundância, se for tido em conta o último semestre, a matéria-prima andou numa montanha-russa entre o pico de mais de 137 USD e os 80 USD, estando actualmente na sua fase de declínio de onde dificilmente se soltará nos próximos tempos.
Perto das 11:00, hora de Luanda, o barril estava a valer 90,82 USD, mais 1,67% que no fecho de quinta-feira, uma ligeira subida face à queda significativa dos últimos dias.
Isto, porque o petróleo é a mais sensível das commodities aos altos e baixos da economia global, especialmente às grandes economias, como a chinesa, a norte-americana e as europeias, todas elas a atravessar graves crises, inflação, desemprego e recessão no horizonte nas ocidentais, e de crescimento e restrições pandémicas na China, o que levou, por exemplo, os bancos centrais dos EUA e da União Europeia a umas robustas e históricas subidas das taxas de juro para fazer face a uma igualmente histórica e flamejante inflação.
Perante este cenário, como os analistas têm sublinhado, o petróleo até se está a aguentar bastante bem, tendo, para isso, contribuído a recente, e também histórica, decisão da OPEP+, organização que desde 2017 junta os 13 Países Exportadores (OPEP) e 10 desalinhados encabeçados pela Rússia, para manter os mercados equilibrados por cima, de cortar 100 mil barris por dia à sua produção a partir de Outubro, quando, desde o início de 2021, o que se em visto é um aumento, gradual mas sólida da produção do "cartel".
Para os países africanos que integram esta poderosa organização, que controla 50% do crude extraído diariamente em todo o mundo - perto de 100 milhões de barris por dia, com oscilações ligeiras face ao sobe e desce dos mercados, ou gigantes (para perto de 80 milhões), como ocorreu com a pandemia da Covid-19, em 2020 -, a manutenção do barril acima de 100 USD há quase seis meses é uma lufada de ar fresco para as suas asfixiadas economias, especialmente a angolana, que atravessa uma das mais sérias ameaças à sua estabilidade social sem que se veja como possível uma rápida diversificação da economia para evitar estas tremuras sócio-económicas.
Em pano de fundo, actualmente, depois da tragédia pandémica, veio a bonança nos mercados gerada pela catástrofe que foi e está a ser a guerra na Ucrânia, que, por sua vez, desembocou em dois canais que tanto podem levar à subida da energia nos mercados como à sua derrocada.
Por um lado, o conflito no leste europeu está a gerar uma espiral inflacionista em todo o ocidente, com os EUA e a Europa ocidental a observarem valores recorde de 40 anos, o que é o húmus ideial para fazer crescer uma recessão abrangente, o desemprego sobe e o descontentamento social galopa com o feio nos dentes; por outro lado, as sanções à Rússia, por ter invadido a Ucrânia a 24 de Fevereiro, levou o G7 (sete países mais industrializados do mundo) a acordar num preço máximo para o petróleo russo que chega aos mercados, o que levou o Presidente Vladimir Putin a dizer de imediato que se tal acontecer, nem mais um pingo de crude ou de gás russos chegarão à Europa ocidental e a todos os países alinharem nessa "ideia estúpida".
Este limite vai ser introduzido a 05 de Dezembro para o petróleo bruto e 05 de Fevereiro de 2023 para os produtos refinados. Os valores não são ainda conhecidos.
E sim, é esta "ideia estúpida" que vai marcar o passo aos mercados nos próximos dias, senão semanas.
O Departamento do Tesouro norte-americano já fez saber, embora ainda não sejam conhecidos os valores máximos para o crude russo definido no âmbito do G7, que esse passo vai ser dado e que a pressão será exercida, estando excluído o prémio de risco, o tal "price cap" será forçado pela recusa de seguros, financiamento, serviços de mercados e vendas para os navios que transportem petróleo Made in Russia, se não tiver sido adquirido dentro do limite definido.
Ora, se este plano for avante, mais uma ventania chegará aos mercados para ajudar ao turbilhão em que já estão, porque Putin vai fechar a torneira dos oleodutos russos para o ocidente e a torneira dos gasodutos para a Europa ocidental. Se tal suceder, não mais uma crise à vista, é a maior das crises jamais vistas ao virar da esquina.
Isto, porque a economia da Europa ocidental ainda é "viciada" no gás russo e dele depende largamente, não estando países como a Alemanha, Itália, Áustria, República Checa... entre outros, preparados para passar o rigoroso Inverno onde as temperaturas chegam aos 30º negativos, mas sem que isso seja o lado mais negro desta crise em perspectiva, é-o a certeza que existe de que a força motriz da economia europeia, a indústria alemã , não resistirá sem uma hecatombe à secura do gás oriundo da Rússia.
Isso mesmo foi dito esta semana por Klaus-Dieter Maubach, CEO da UNIPER, o gigante alemão da energia, para quem "o pior ainda está para chegar", antecipando que a crise é já de tal monta que tudo está em risco e antecipa que os preços, que já estão, nalguns casos, 300% acima de antes da guerra, podem subir ainda muito mais, criando um cenário insustentável, para a economia e para as famílias neste Inverno.
O que este responsável veio dizer encaixa no relatório também recente do sector industrial-químico alemão, onde se adverte para o colapso total do sector se a Rússia fechar a torneira a 100% do gás para a Alemanha. E há algo que na Europa se sabe há décadas: se a indústria alemã ficar febril, a economia europeia entra em coma sem chegar ao chão.
E é isso mesmo que pode estar a acontecer se ambas as partes mantiveram a palavra: se o G7 avançar com o preço limite e se Putin fechar as torneiras.
Do segundo, já se sabe que tem conseguido divergir as suas exportações para a Ásia, Índia e China em destaque, que ficou pendurada com as sanções europeias e norte-americanas, e deve conseguir fazer o mesmo à restante, face à sede que aqueles gigantes asiáticos têm sempre por energia barata, já a palavra dos EUA e da União Europeia, tem sido mais porosa, como se vê pelo facto de estarem a comprar energia russa mais que nunca apesar das sanções impostas, seja, como os EUA, através de terceiros, seja, como os europeus, para encherem os depósitos das reservas antes de chegar o dia de accionar o embargo, que, sobre o qual, nem sequer existe concordância entre os 27 membros do bloco europeu.
E até os EUA estão a avançar com cautelas e caldos de galinha sobre a questão do preço limite à energia russa, porque, apesar da ameaça com voz grossa, de fininho esclarecem que o tal "preço limite", como adiantou a secretária-assistente do Tesouro dos EUA para os crimes financeiros, Elizabeth Rosenberg, citada pela Reuters, terá em conta um "valor razoável" atendendo aos custos de produção para o sector energético russo, o que, pode facilmente ser traduzido por uma alquimia financeira que visa não beliscar muito as sensibilidades do Kremlin.
Mas a resposta de Putin não se alterou e avisou: "Não enviaremos nem mais uma gota de crude, gás, carvão, óleo de aquecimento, nada, não enviaremos mais bada para quem teve ideia tão estúpida".
Alias, esta decisão deve ter sido tomada depois de analisadas as possibilidades de a mudança de tubos de oeste para oriente poder ser alternativa, o que parece estar a ser o caso, com os recordes de aquisições de gás e crude russos pela China, Índia e outros "tigres asiáticos, estando já anunciada um encontro entre Vladimir Putin e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, para os próximos dias, o que deixa antever uma aceleração na parceria "sólida como uma rocha" entre Moscovo e Pequim, como foi denominada a relação entre os dois países pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi.
Para os países africanos exportadores de crude, o pior cenário, o fecho da torneira por Putin, pode ser a "melhor" notícia a curto prazo, porque isso levará a uma valorização substantiva da energia enviada para os mercados pelos restantes fornecedores, desde logo Angola, que, apesar de estar a perder produção há vários anos, ainda envia acima de 1,1 milhões de barris por dia para o mundo.
E isso é de extrema importância considerando que o crude - e o gás pode, finalmente, disparar como matéria-prima exportável em quantidades impactantes - ainda responde por 95% das exportações angolanas, 35% do seu PIB e cerca de 60% das receitas fiscais.