Se, por um lado, essa aparente estagnação é resultado do que já se sabe e que os especialistas esperam que se confirme na reunião mensal marcada para hoje, 01/09, à tarde, que é a manutenção da agenda de aumento de 400 mil barris por dia, mensalmente, no seio da OPEP+, a organização que junta os Países Exportadores (OPEP) e os seus aliados, desde 2017, liderados pela Rússia, até Dezembro, por outro, também a diluição da tensão no Médio Oriente esperada no decurso do esforço diplomático franco-iraquiano que junta em Bagdade iranianos e sauditas para estabelecer os parâmetros da melhoria das relações entre Riade e Teerão, está a ter um efeito de adormecimento dos normalmente sanguíneos mercados globais da matéria-prima.
Mas, a jusante deste efeito calmante está ainda o quase certo retomar da normalidade da exportação no Irão, um dos maiores, em potencial, exportadores da OPEP, quando, o que é esperado para breve, as negociações em curso sobre o acordo nuclear, envolvendo EUA, Rússia, China e UE, permitirem a este gigante do crude mundial entrar de novo nos mercados internacionais pela porta grande, ou seja, voltar a abrir o "pipeline" por onde podem voltar ao negócio até, no limite máximo, 5 milhões de barris por dia, embora essa meta tenha como barreira a deterioração gerada pela inexistente manutenção na infra-estrutura produtiva iraniana nos últimos anos, o que deve levar quase uma década a realinhar a 100 por cento.
No entanto, esse espaço temporal deverá ser fortemente encurtado com a entrada em funcionamento do gigantesco campo petrolífero recentemente descoberto e baptizado de Karoun, cluster onde se estima existirem mais de 67 mil milhões de barris em depósito nos diversos campos, cada um deles com potencial acima de 670 milhões de barris, o que, no conjunto, vai permitir de imediato mais de 1 milhão de barris por dia (mbpd) a chegar ao mercado.
Esta momento auspicioso para a indústria petrolífera iraniana acrescenta renovadas dificuldades para as economias mais dependentes da exportação de crude, como é o caso da angolana, considerando que, além de o aumento da oferta ter um impacto imediato no valor do barril, também é de enorme relevo o facto de, como sucede em quase todo o crude extraído no Médio Oriente e Golfo Pérsico, o breakeven por barril para os investidores é muito mais baixo que, por exemplo, no continente africano, em média, o que tendencialmente enxagua o apetite para as majors olharem para África quando pensam em novos investimentos, o que é dia após dia mais rarefeito devido às exigências impostas pela urgente transição energética devido ao efeito da queima de crude nas alterações climáticas.
Mas, para já, o barril de Brent, referência para as exportações angolanas, mantém-se acima dos 71 USD, 71,79 USD, mais 0,35% que no fecho de terça-feira, muito devido à diminuição dos stocks nos EUA, ao mesmo tempo a maior economia mundial e o maior produtor global, o que indica aos mercados que a economia mundial já não está tão agrilhoada aos efeitos nefastos da pandemia que desde o início de 2020 manteve, e ainda mantém, o mundo sob pressão.
Mas também as perspectivas dos técnicos da OPEP são de molde a dar lastro aos mercados, visto que um recente relatório do "cartel" aponta para que ao longo de 2022, mas com especial volume, até ao fim de 2021, o mercado seja dominado por um défice na oferta face ao aumento generalizado do lado da procura face ao ressurgimento económico planetário.
Mas o senão está sempre ao virar da esquina e, face a este défice na oferta, os Estados Unidos, como nota a Reuters, estão a exercer uma forte pressão sobre a OPEP+ de forma a que o "cartel" aumente a produção além do que está previsto, considerando Washington que isso é fundamental para sustentar a retoma económica em todo o mundo.
Alias, o documento libertado pela organização onde esta estima a evolução do consumo até final de 2022, aponta para um aumento substancial face à anterior análise, com um aumento dos 3,3 mbpd em média durante o próximo ano, para os 4,2 mbpd.
Sendo Angola um dos países na linha da frente das repercussões do sobe e desce dos mercados petrolíferos, devido à sua dependência das exportações de crude para o equilíbrio das suas contas - o petróleo ainda é responsável por mais de 94% das exportações e mais de 60 por cento dos gastos do Executivo e acima de 50% do PIB.
Angola e o futuro breve
Este cenário de recuperação permite algum optimismo nas contas nacionais mas ainda longe de um regresso ao patamar alcançado a partir de 2008, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano, permitindo um boom económico como nunca visto até ali.
A produção actual está abaixo dos 1,3 mbpd e em constante declínio devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016.
Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção demora a arrancar para os patamares mais próximos daqueles que se viram no passado, especialmente por causa da deterioração da infra-estrutura produtiva que desde 2014 viu os investimentos das "majors" descer, a fraca aposta na pesquisa por novas reservas e o envelhecimento de alguns dos mais importantes poços activos no offshore nacional.
Para já, com o barril acima dos 71 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de mais de 32 USD em cima dos 39 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.
E, no âmbito do esforço do Governo para que o País não deixe de estar no radar dos investidores, aprovou em Conselho de Ministros um diploma de define regras e procedimentos para a atribuição de concessões petrolíferas em Regime de Oferta Permanente.
Isto vai permitir a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados e, segundo o comunicado deste CM, o documento legal permitirá permanentemente "a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados, de áreas livres em blocos concessionados e de concessões atribuídas à Concessionária Nacional, para potencializar e atrair investimentos nas actividades de exploração e produção de petróleo e gás natural, mediante o procedimento de concurso público".