O barril de crude subiu mas subiu pouco, ou, pelo menos, abaixo do que os analistas estavam à espera, depois de os 13 Países Exportadores (OPEP) e os 10 desalinhados, encimados pela Rússia, que desde 2017 dão corpo à OPEP+, num esforço histórico para manipular os mercados por cima, na quarta-feira, na primeira reunião presencial desde Março de 2020, por causa da Covid-19, decidiram-se pelo corte de 2 milhões de barris por dia (mbpd) para travar a substantiva desvalorização da matéria-prima, que chegou, na passada semana, a posicionar-se, no Brent, em Londres, nos 84 USD por barril, menos 10 dólares que em meados de Fevereiro deste ano, antes do início da guerra no leste europeu.

E, quando os analistas esperavam que este esforço de estabilização dos mercados fosse resultar numa subida robusta, em Londres, o Brent, que serve de principal referência às ramas exportadas por Angola, está hoje a ganhar "apenas" cerca de dois dólares face ao fecho de quarta-feira e pouco mais de 3 antes do efeito da antecipação, por fugas de informação, dos cortes que iriam ser aprovados pela OPEP+.

No entanto, estes cortes volumosos, 2 mbpd correspondem a cerca de 2 por cento da produção total global, à volta de 100 mbpd, dos quais perto de 50 mbpd são produção do "cartel", têm outro enquadramento geopolítico se se considerar que os Estados Unidos da América, o maior consumidor do mundo, embora igualmente o maior produtor da actualidade, com perto de 12 mbpd, à frente dos sauditas e russos, ambos oscilando entre os 7 e os 9 mbpd, fez uma gigantesca pressão diplomática para levar a organização a travar o seu ímpeto na redução da produção.

Isto, porque, tal como na Europa ocidental, Japão e no resto da economia ocidental, os EUA atravessam uma das mais graves crises económicas em décadas, com uma inflação galopante e já em recordes de mais de 40 anos, e uma recessão já irreversível ao virar da esquina, muito por causa dos efeitos colaterais da guerra, do refluxo das sanções ocidentais à Rússia, e da extraordinária valorização recente da energia, gás e petróleo, amontoando-se os protestos populares e desastres eleitorais um pouco por todo o lado.

Mas nos EUA esta questão é ainda mais relevante porque o Presidente Joe Biden e o seu Partido Democrata, enfrentam já a 08 de Novembro as temíveis eleições intercalares, onde as sondagens, muito por causa da crise económica gerada no rasto do conflito no leste europeu, apontam para a perda das maiorias que tem actualmente no Congresso, tanto na Câmara dos Representantes como no Senado, e se os Republicanos de Donald Trump dominarem estas duas câmaras, a Administração Biden fica atada de pés e mãos em algumas matérias, nomeadamente na sua acção externa, como, por exemplo, no continua e avassalador apoio financeiro e militar à Ucrânia na "sua" guerra com a Rússia, que já vai acima de 50 mil milhões USD.

Para já, Biden perdeu, como se percebe pela reacção imediata do seu Secretário de Estado, Antony Blinken, que veio dizer publicamente que o Governo de Joe Biden está permanentemente a fazer um esforço, em todas as frentes, para manter os combustíveis a preços razoáveis, embora, como se percebe pela reacção popular nos EUA, com escasso sucesso.

No entanto, os efeitos práticos deste corte de 2 mbpd para Novembro está longe de se ter revelado um "tsunami" devastador para as economias ocidentais, considerando o atenuado impacto que teve até agora, face aos 93,7 USD que o barril estava a valer em Londres, perto das 09:45, hora de Luanda, com uma alta de apenas 0,4 % face ao último fecho, cujas razões, sendo várias, principalmente passam pelo facto de há muitos meses os membros da OPEP* não estarem a conseguir atingir as quotas atribuídas, o que resulta num défice face a essas metas de mais de 3,6 mbpd, mesmo tendo em conta que o corte anunciado foi bastante superior ao antecipado pelos analistas, que ira entre os 500 mil e o 1 mbpd, como o Novo Jornal noticiava na quarta-feira aqui e aqui.

Nas próximas semanas vai ser essencial perceber se o "cartel" agirá de modo a reduzir o impacto do "buraco" evidente entre a produção real e a atribuída, de forma a que os cortes que anuncia deixem de bater na carapaça de uma relativa indiferença nos mercados, conhecedores que são desta realidade.

E não menos importante será verificar qual a jogada seguinte dos EUA, que, por exemplo, tem em curso um plano arriscado de libertação de reservas estratégicas de crude, e da União Europeia, entretida que anda o bloco europeu em acrescentar mais e mais sanções à Rússia, mesmo que isso se esteja a revelar como a principal causa do pânico que varre a economia global, como, por exemplo, definir um preço máximo para a energia importada da Rússia, o que levou Moscovo a dizer que assim que tal suceder, nem ais um barril para os "países hostis".

Como azimute, o barril, se se tiver em conta as previsões dos gigantes financeiros globais, como a Godman Sachs, o barril deverá atingir os 110 USD nas próximas semanas, estando, todavia, a bola de cristal embaciada pela crise da inflação, desemprego e do medo de uma recessão nas grandes economias ocidentais ao virar da esquina do futuro.

A componente política desta reunião da OPEP+ é outra faceta a ser observada porque em Washington, segundo os media norte-americanos, Biden & Co. estão a olhar para a situação a partir de uma atitude hostil de Moscovo e Riade, dois países a atravessar as mais difíceis e complexas relações com os EUA, a ponto de o Presidente norte-americano ter visto o príncipe saudita Mohammed Bin Salman recusar-se a atender-lhe o telefone, como noticiaram os media internacionais.

Embora, como costume, não se saiba qual a posição de Angola nesta reunião, mesmo sendo um dos maiores produtores africanos, actualmente mesmo acima da Nigéria, mas por causa de grandes problemas internos em Abuja, Luanda só tem a ganhar com o resultada deste encontro de Viena de Áustria porque ainda depende grandemente dos rendimentos do petróleo para amaciar a crise económica que o país atravessa há anos.

Alias, este momento é relevante ainda porque o crude responde a 95% das exportações nacionais, mais de 35% do PIB e perto de 60% das receitas fiscais angolanas.

E, a sublimar ainda esta posição angolana, está o facto de que a sua produção actual, perto de 1,1 mbpd, está longe da quota atribuída inter pares na OPEP+, devido, essencialmente, ao envelhecimento dos seus campos e à falta de investimento na pesquisa e na manutenção da sua infra-estrutura produtiva offshore que vem em crescendo desde 2014, ano em que a crise ganhou rubor e o barril deu um tombo ruidoso para baixo da fasquia dos 100 USD.