As perdas de cerca de 16 dólares norte-americanos em pouco mais de um mês resultaram em fortes dores de cabeça acrescentadas aos já vastos problemas das economias dos países exportadores que dependem mais das receitas petrolíferas, como é o caso de Angola, apesar de tanto o OGE21 como o OGE22 terem sido elaborados com valores conservadores para o barril, 39 USD este ano e 59 para o ano que está a chegar.
Quando se esperava que a saída da crise - era, pelo menos até há uns dias, este o sentimento - iria abrir uma estrada larga para o crescimento económico e a prosperidade globais, "roubadas" pela pandemia no início de 2020, seria devolvida, o mundo foi obrigado a estancar o passo e... pensar melhor no assunto.
A nova variante do Sars CoV-2 que há uns dias foi detectada na África Austral e "infectou" de novo a economia planetária, a Omicron, não foi o Alfa e o Omega do problema actual, apesar de ser o mais grave, porque o primeiro dos três furos no barril foi feito por um "tiro" do Presidente dos EUA.
Joe Biden foi o mais acérrimo opositor às políticas de cortes e controlo da OPEP+, a organização que agrega os Países Exportadores (OPEP) e 10 independentes liderados pela Rússia, desde 2017, de quem queria mais produção e menos controlo de forma a baixar os preços da matéria-prima porque o aumento gradual da produção, 400 mil barris por dia, mensalmente, entre 01 de Julho e até 31 de Dezembro, lhe cheirava a pouco e, argumentavam, estava a ser um obstáculo gigante à recuperação da economia mundial esmagada pela Covid-19 desde o início de 2020.
Como o "cartel" liderado pela Rússia e Arábia Saudita se recusou a ceder e manteve o programa, Biden disparou um segundo tiro no barril e fez o segundo buraco, ao agregar a China, Índia, Japão e Coreia do Sul num plano de libertação de reservas estratégicas de crude para inundar os mercados e baixar os preços, o que resultou, embora de forma ligeira, pelo menos quando comparada com a registada na última semana, onde a economia global voltou a sem ensombrada pela Covid-19, versão Omicron.
Face ao pouco avanço, e com o petróleo a marcar passo acima dos 80 USD, tanto o Brent em Londres, que serve de referência às ramas exportadas por Angola, como o WTI de Nova Iorque, que mede o pulso à economia norte-americana, a maior e mais robusta, sendo ainda o maior produtor de crude do mundo, eis que do nada, surge dos confins de África a "solução" milagrosa para esvaziar o barril, com um terceiro tiro, desta feita com munição de calibre muito superior, a ponto de permitir que pelo buraco por ele feito terem saído mais de 12 % do seu valor.
Na passada sexta-feira, aquilo que a forte pressão dos EUA, da Europa e da Índia e China sobre a OPEP+ não conseguiu, tudo o que a libertação extraordinária de parte das gigantescas reservas estratégicas das maiores economias mundiais não garantiu, eis que, vinda do Botsuana e da África do Sul, a microscópica Omicron, a mais recente variante do Sars CoV-2 que provoca a Covid-19, conseguiu quase sem esforço... o barril de Brent rebolou montanha abaixo com os três buracos a permitirem a saída de dólares uns atrás dos outros... para contento das economias mais robustas do mundo...
É mesmo caso para dizer que se a Omicron não tivesse surgido "naturalmente", qualquer coisa inventada não teria melhor resultado para garantir que o petróleo regressava a valores aceitáveis para Washington, Pequim, Nova Deli, Londres, Paris, Bruxelas, Camberra, Seul...
E é aí que está hoje, valendo, perto das 09:20, hora de Luanda, 69,88 USD, mais 1,48% que no fecho de quarta-feira, isto o Brent, em Londres. Já o WTI, em Nova Iorque estava igualmente nuns "simpáticos" 66,43, mais 1,34% que na anterior sessão, à mesma hora, e também para entregas em Janeiro.
Tudo afinado pelo diapasão dos interesses das economias ocidentais e asiáticas mas claramente contra os interesses das economias exportadores de crude e petrodependentes, como é o caso das monarquias do Golfo, com a Arábia Saudita à cabeça, da Rússia e dos produtores africanos em especial, onde Nigéria e Angola precisam de preços elevados no barril para poderem respirar face à severa crise económica que atravessam desde que em 2014 o barril tombou da fasquia dos 100 USD.
A resposta a este cenário, em que se destaca o surgimento oportuno da Omicron, que vergou a solidez do "cartel", deverá ser conhecida já esta quinta-feira, 02, quando a OPEP+ se reúne, como tem feito no início de cada mês, para analisar a "big picture" e reagir, como tem feito, de forma a garantir o equilíbrio dos mercados, não sendo de rejeitar a possibilidade de uma acção imediata, prolongando, por exemplo, o actual programa para os primeiros meses de 2022 ou, como alguns analistas admitem, reduzir a produção de forma preventiva.
Esta reunião da OPEP+ é aguardada com forte expectativa pelos mercados porque esta variante do Sars CoV-2, a Omicron, é já a "besta negra" neste final de ano e início de 2022 para os países exportadores de crude.