A subida relevante do valor do barril de crude dos últimos dois dias é resultado directo dos esforços entre os 27 membros da União Europeia para formalizar um embargo total às importações de petróleo russo como punição pela invasão da Ucrânia a 24 de Fevereiro.
Apesar desse passo ainda não poder ser dado devido à oposição de alguns países que não têm condições efectivas para substituir as importações da Rússia, e pelo facto de o bloco europeu funcionar com base na regra da unanimidade, os mercados já antecipam um resultado "positivo" para esse esforço no curto prazo.
Os dirigentes europeus, desde a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, ao chefe da diplomacia dos 27, o espanhol Josep Borrell, passando pelo presidente do Conselho, o belga Charles Michel, insistem empenhadamente na conclusão deste processo punitivo para Moscovo, tendo em conta que os Estados-membros, no conjunto, entregam diariamente mais de 800 milhões de euros à Rússia pela importação de energia, especialmente gás e petróleo, com os quais, dizem, Vladimir Putin está a financiar a sua guerra na Ucrânia.
Apesar de países como a Hungria ou a Áustria estarem, para já, solidamente contra essa decisão, os mercados esperam que o seu problema seja resolvido através dos mecanismos solidários internos, como, por exemplo, a construção de oleodutos e gasodutos transfronteiriços.
Isto, porque, apesar de substancialmente mais caros, os Estados Unidos já se comprometeram a fornecer aos europeus o gás e o crude que actualmente compram à Rússia, de forma a que as sanções a Moscovo possam avançar, especialmente o 6º pacote de medidas punitivas contra Moscovo que está em aprovação e onde este é um dos pontos mais importantes.
No entanto, sempre com o facto de a Rússia ser hoje um dos três maiores produtores de crude e de gás do mundo, alguns analistas admitem que no final deste mês de Maio, para quando está prevista uma Cimeira de lideres nacionais dos 27 da União Europeia, o veto da Hungria poderá ser levantado com a apresentação de alternativas válidas pelos restantes membros para que Budapeste tenha acesso a todo o petróleo de que carece, se deixar de comprar aos russos.
Mas se isso não suceder, porque por detrás da decisão da Hungria não está apenas a questão de acesso à energia, havendo ainda questões de natureza mais complexa, como as políticas, considerando que o Presidente do país, Viktor Orban, é um aliado histórico de Moscovo, alguns analistas, como Simon Watkins, especialista do sector, admitem que esta fase de alta histórica dos mercados petrolíferos, que levou mesmo o barril aos 139 USD a 09 de Março, ficando a escassos sete dólares do recorde de sempre, 147, atingido em Junho de 2008, deixa de ter sustentação e o barril entrará numa inevitável espiral descendente.
Watkins sugere mesmo que o normal, face a um protelar do boicote europeu ao crude russo, é que o barril volte aos preços de antes do início do conflito na Ucrânia, por volta dos 65 USD, atendendo ao facto de a Rússia manter a forte procura europeia pelo seu petróleo, que andava, antes do conflito, à volta dos 2,7 milhões de barris por dia em crude bruto e mais de 1,5 milhões de barris em refinados, especialmente gasóleo.
As vendas russas sofreram ligeiros acertos em baixa para a Europa ocidental porque alguns países optaram por avançar para um embargo total ao crude exportado por Moscovo, como a Polónia e a Bulgária, antes de Bruxelas concluir o pacote de sanções, alem de que os EUA também avançaram já para um boicote total à energia russa no âmbito das sanções aplicadas após a invasão da Ucrânia.
A estancar essa possível sangria, se o complexo processo de embargo total ao crude russo se mantiver em stand by por desacordo entre os membros da União Europeia, está o descontinuar dos confinamentos anti-Covid-19 na China, como o Governo de Pequim já veio dizer que está para breve.
Isto, depois de quase dois meses de fortes restrições à mobilidade em cidades como Xangai e até na capital do gigante asiático, entre muitas outras, deixando mais de 100 milhões de pessoas com escassa ou nenhuma mobilidade, diluindo de imediato o consumo de energia e, consequentemente, das importações da matéria-prima.
Se se confirmar um regresso dos mercados a valores pré-invasão da Ucrânia, Angola será um dos países exportadores mais sacrificados, porque está a ser, como a Fitch Solutions esclareceu já, um dos mais beneficiados.
É-o porque o petróleo representa cerca de 95% do total das exportações nacionais, mais de 35% do seu PIB e até 60% das receitas fiscais que garantem o funcionamento do Estado.
PR quer refinarias a tapar buraco da queda das exportações
O Presidente da República aproveitou a abertura em Luanda, na segunda-feira, do 8º Congresso Africano de Petróleo e Gás para lançar o desafio interno de atingir uma refinação de 400 mil barris por dia quando os três projectos de construção de refinarias e a requalificação da de Luanda estiverem concluídos.
João Lourenço, admitindo que o País tem vindo a ver a sua produção diária diminuir desde 2016, especialmente por causa da ausência de investimentos no sector, estando hoje abaixo de 1,2 milhões de barris por dia (mbpd) quando há uma década era superior a 1,7 mbpd, avançou com a meta de 400 mil barris - um terço da produção máxima actual - refinados nos próximos anos.
Esta meta apontada pelo Chefe de Estado pressupõe a conclusão dos três projectos de refinarias em curso, de Cabinda, Soyo e Lobito, e ainda a requalificação da actual refinaria de Luanda, construída em 1956 para uma capacidade máxima de 60 mil barris/dia mas que não tem ultrapassado os 30 mil nos últimos anos, em média.
Neste discurso de abertura do 8º Congresso Africano de Petróleo e Gás, que decorre na capital angolana até quinta-feira, 19, o Presidente da República explicou que a ideia subjacente a este desafio é levar a que, através da exportação de produtos refinados, especialmente combustíveis, o País possa substituir, precavendo o futuro, os resultados das suas exportações, até aqui dominadas pelo petróleo bruto, evoluindo de grande importador para exportador de refinados.
"Com vista a passar a ser não só exportador de petróleo bruto mas também de produtos refinados, o Executivo colocou entre as suas principais prioridades a construção das refinarias de Cabinda e do Soyo, a requalificação da refinaria de Luanda, todos projectos em curso, e o projecto maior da refinaria do Lobito, a iniciar tão cedo quanto possível, garantindo no conjunto a refinação de quase 400.000 barris de petróleo bruto dia no futuro", apontou.