A Goldman Sachs, um dos oráculos de topo no negócio da energia, emitiu uma nota nas últimas horas, citada pelas agências, onde avança que os preços do crude vão subir ainda mais 20% este ano, depois de se ter assistido a uma recuperação quase vertiginosa nas últimas semanas, tendo passado, o Brent, de 51 USD por barril a 02 de Janeiro para os actuais 63,40, com Nova Iorque - WTI - a acompanhar a par e passo esta tendência.

Ainda segundo esta nota da Goldman Sachs, o barril de crude vai subir nitidamente mais que aquilo que eram as previsões em finais de 2020 porque se prevê que a procura pelas grandes economias ultrapasse a capacidade de resposta na produção devido aos cortes estratégicos em curso pela OPEP+, a organização que agrega 23 países, incluindo os 13 da OPEP e um grupo de 10 não-alinhados liderado pela Rússia.

De acordo com este "oráculo", a procura global, com o mundo a sair do remoinho gerado pela pandemia da Covid-19, vai recuperar para níveis pré-pandémicos porque a procura vai superar, e compensar, um esperado retorno da produção do fracking norte-americano, que empalideceu em 2020 devido aos baixos preços tendo em conta o seu elevado breakeven - ou ainda a produção iraniana com o aguardado aliviar das sanções com a chegada de Joe Biden ao poder nos EUA.

E se se confirmarem os prognósticos da Goldman, o barril de Brent vai chegar aos 70 USD até meados do ano, atingindo os 75% nos meses seguintes, até ao início de 2022, sublinhando que para isso vai contribuir ainda a solidez saudita na aposta da manutenção dos cortes, que, recorde-se, acrescentou de mote próprio 1 milhão de barris por dia (mbpd) aos cortes de mais de 5 mbpd negociados entre os membros da OPEP+.

Mas não é apenas esta abordagem da Goldman Sachs que permite adivinhar um novo fulgor no sector petrolífero, demonstrado pelos 63,37 USD, mais 0,73% que no fecho de sexta-feira, a que o Brent - a referência para as exportações angolanas - chegou hoje.

É evidente, para a generalidade dos analistas, que a matéria-prima está num ponto de viragem para diminuir a sua importância no mundo devido ao crescente desvio de investimentos da pesquisa pelas "majors" para as energias verdes, por causa da pressão global nesse sentido face à urgência de salvar o planeta do sufoco gerado pelos gases com efeito de estufa e onde a queima de hidrocarbonetos surge como o vilão de serviço.

Mas é igualmente verdade que os próximos anos, sendo difícil estabelecer aqui um calendário mas nunca menos de 10 anos, segundo algumas opiniões sólidas, vão ainda ter o petróleo e o gás natural como os combustíveis da economia planetária por excelência, e que os últimos anos, especialmente desde 2014, o mundo assistiu a uma queda abrupta nos investimentos no sector - como é evidente em Angola, cuja produção tem vindo a cair de forma continuada, dos mais de 1,8 mbpd para os actuais 1,28 mbpd -, fazendo isso com que a oferta vá diminuindo enquanto a procura se manterá em torno dos 100 mbpd logo que os efeitos pandémicos se desvanecerem.

Basta ter em conta que este mês de Fevereiro assistiu ao regresso do barril a valores acima dos 65 USD quando, em Abril de 2020, por causa da crise gerada pela Covid-19, o barril atingiu valores abaixo dos 20 USD em Londres, e 40 USD negativos - isso mesmo, nem a pagar 40 USD havia compradores - no WTi de Nova Iorque, onde chegou recentemente aos 60 USD.

Como pano de fundo para esta recuperação está a forte recuperação da procura nos EUA assim que Donald Trump dexou a Casa Branca e Joe Biden anunciou o seu plano de estímulos à economia no valor de 1,9 triliões de dólares - 12 zeros -, ou ainda o reforço gigantesco das campanhas de vacinação, bem como a solidez demonstrada pela China no controlo da pandemia e na contínua subida das exportações e no consequente consumo de petróleo, o que, sendo as duas maiores economia do planeta, permite o efeito de arrasto para resto do mundo.

E no imediato?

No imediato, o que está a consolidar a subida para além desta nota "açucarada" da Goldman Sachs, é o efeito da vaga de frio polar que se instalou no sul dos Estados Unidos, que levou à paragem de muitas das plataformas no Texas, diminuindo a produção daquele que é actualmente o maior produtor mundial - porque os sauditas e os russos estão "presos" na estratégia de cortes da OPEP+ - e também o maior consumidor do planeta.

Isto, porque, mesmo que o frio polar esteja a diluir-se no Texas, vai ser necessário um traalho extra e vários dias para que toda a infra-estrutura produtiva volta ao normal, com os canos e as válvulas limpos do gelo.