Altamente pressionado internamente, e com a guerra em Gaza a gerar igualmente excessivo desgaste político ao seu aliado principal, os EUA, o Governo israelita está a virar os canhões para o norte do país, onde, a partir do lado libanês, o Hezbollah ameaça há meses a vida das comunidades judias.

E agora, num estranho vídeo, este grupo veio mostrar as fragilidades aparentes de Israel, ao mostrar as imagens recolhidas por um drone que sobrevoou, sem oposição, cerca de uma dezena de potenciais alvos no norte de Israel, incluindo infra-estruturas energéticas, dizendo ser a lista de alvos prioritários a atingir em caso de conflito aberto.

O movimento islâmico apoiado pelo Irão, que controla o sul do Líbano, flagela há meses o norte de Israel no contexto do conflito em Gaza, obrigando à evacuação de dezenas de localidades, o que é uma afronta que o primeiro-ministro Benjamin Netanyhau parece não querer permitir que continue.

Tanto Netanyhau como os seus ministros têm repetido ameaças de lanar uma ofensiva no sul do Líbano para anular o perigo do Hezbollah, o que só seria possível se as Forças de Defesa de Israel (IDF) empregassem nesta frente quase todo o seu potencial militar.

Isto, porque Israel não pode correr o risco de voltar a ser humilhado como em 2006, quando os combatentes do Hezbollah obrigaram as IDF a ceder nalgumas importantes pretensões depois de semanas de intensos combates em que os aliados do Irão levavam vantagem.

E é este novo potencial de risco que está, de novo, a fazer ferver os mercados petrolíferos, porque é evidente o risco de alastramento do conflito na região do Médio Oriente, responsável pela produção de quase 35% do crude consumido no mundo.

Assim, olhando para o gráfico do Brent, em Londres, podia-se ver, perto das 14:30, hora de Luanda, que o barril estava a valorizar perto de 0,20%, para os 85,60 USD, deixando em aberta a forte possibilidade de mais uma semana de fortes ganhos, depois de há pouco mais de uma semana ter chegado aos 77 USD.

A contribuir para este cenário "positivo" no negócio do petróleo está ainda o ataque das últimas horas a infra-estruturas energéticas russas com drones ucranianos, especialmente nos depósitos de grandes dimensões no porto marítimo de Azov.

Recorde-se que na memória fresca dos analistas do mercados está ainda a vaga de ataques a refinarias russas de há cerca de três meses que danificou severamente sete das 11 grandes unidades de refinação russas, levando à "explosão" dos mercados internacionais.

Boas notícias para as contas angolanas

Angola é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica.

E ter o Brent nos 86 USD, bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, permite diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.