Para concluir o processo que começou há anos, primeiro em Luanda, liderado pelo Presidente angolano, João Lourenço, e depois retomado no Catar, com um surpreendente encontro entre os Presidentes Paul Kagame e Felix Tshisekedi, em Março, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois países vão estar esta sexta-feira, 27, em Washington, na Casa Branca.
O documento vai ser assinado pelos chefes da diplomacia do Ruanda, Jean Patrick Nduhungirehe, e da RDC, Thérèse Kayikwamba Wagner, na presença do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. O que se segue pode ser o mais importante.
Sabe-se que este momento foi conseguido com a intervenção directa do Presidente Donald Trump, e o Emir do Catar, Sheikh Tamim Al Thani, que, como o Novo Jornal noticiou na altura, em meados de Março desfez a ronda negocial agendada para Luanda ao desviar Kagame e Tshisekedi da capital angolana para Doha.
Esse momento foi doloroso (ver links em baixo) para a diplomacia angolana, levando mesmo o Presidente angolano, e da União Africana, João Lourenço, a abandonar o Processo de Luanda, claramente traído pelos seus homólogos congolês e ruandês.
Por detrás desse passo inesperado esteve, soube-se depois, não apenas o Emir do Catar, também o Presidente dos Estados Unidos estava na jogada, e, já esta semana, na Cimeira da NATO, nos Países Baixos, vangloriou-se de ser o responsável pelo fim de um "guerra atroz e prolongada" no leste do Congo.
Após a assinatura do documento, que, entre outras alíneas, garante o desarme e a integração dos homens do M23 que, apoiados pelo Ruanda, há meses que dominam quase toda a geografia do leste congolês, ver-se-á por quem e como vão ser geridas as riquezas do subsolo, nomeadamente os estratégicos coltão e cobalto e as famosas "terras raras", todos essenciais para as indústrias 2.0 das potências globais, como os EUA, a Europa ocidental, a China e a Rússia ou ainda a Índia.
Além dos rebeldes do M23, com algumas fontes a garantiram que são mais de 50 mil, e os mais de 4 mil tripas regulares do Ruanda, o acordo contém normas para lidar com as milícias leais a Kinshasa e as guerrilha da FDLR que tem, acusa Kigali, bases na RDC a partir das quais ataca no Ruanda, há décadas, onde as ADF ugandesas, ligadas ao "estado islâmico", tem igualmente um papel relevante na desestabilização da região (ver links em baixo).
Além dos mecanismos de controlo das forças militarizadas, incluindo o seu desarmamento, o documento prevê ainda que os dois países respeitem a soberania do outro e aponta regras para lidar com a crise humanitária que aumentou nos últimos meses com os avanços do M23.
O regresso dos refugiados internos e nos países vizinhos está igualmente previsto e a integração de antigos militares que saíram para as forças não-estatais também.
Os especialistas não duvidam que este conflito alimentado, desde 2021, pelo Ruanda, para, sob a sua capa protectora, poder explorar ilegalmente os subsolo congolês, se terminar com o documento assinado em Washington, não porá fim à extracção dos minerais existentes no subsolo, até porque o mundo não tem como substituir o coltão que dali sai, representando mais de 70% das reservas conhecidas existentes no planeta.
Quem vai liderar essa exploração e quem vai ter de deixar a região, são as grandes questões que surgirão no day after ao acordo entre a RDC e o Ruanda, que, finalmente, preto no branco, assume que foi o instigador da acção dos guerrilheiros do M23.
Isto, porque, segundo dados de organizações internacionais, o coltão, o cobalto e as "terras raras" do leste congolês, estão a ser extraídos por empresas ligadas a potências estrangeiras, como a China, França e EUA.
Essa a razão pela qual alguns analistas admitem que o fim da acção das guerrilhas locais pode ser o princípio de uma disputa ainda mais perigosa, envolvendo os "super-poderes" globais.