O antigo Presidente de França, que há vários anos não aparecia em público, sofria de perda de memória, possivelmente causada por uma forma da doença de Alzheimer ou um derrame que teve enquanto estava na Presidência.
Os seus mandatos como Presidente ficaram marcados pelo "não" à segunda guerra do Iraque, iniciada pelos Estados Unidos em 2003, pelo fim do recrutamento militar, pelo reconhecimento da responsabilidade do Estado francês por crimes nazis na segunda guerra mundial e pela sua posição e chamada de atenção sobre a degradação do ambiente.
Chirac também foi o primeiro Presidente francês condenado pela Justiça.
Em 2011, Jacques Chirac foi condenado a dois anos de pena suspensa de prisão por um caso de emprego fictício quando era presidente da câmara de Paris.
Jacques Chirac conseguiu conquistar a Presidência francesa em 1995, depois de duas candidaturas sem sucesso (em 1981 e em 1988).
A Assembleia Nacional e o Senado francês fizeram um minuto de silêncio assim que foi conhecida a notícia da morte do antigo Presidente, figura importante da direita no país.
Perfil de Jacques Chirac
Jacques Chirac foi uma das figuras mais proeminentes da política francesa durante 40 anos, conseguindo manter junto dos eleitores a imagem de "tipo simpático" e, ao mesmo tempo, ser conhecido como "bulldozer" entre os seus aliados e adversários de lutas políticas.
Chirac nasceu em Paris, em 1932, e estudou na Sciences Po, passando um breve período da sua vida académica em Harvard. Regressado a França, ingressa na escola dos altos funcionários públicos, a ENA, mas vê o seu percurso interrompido pela Guerra da Argélia, na qual participa e é ferido.
De volta a Paris, termina a sua formação e trabalha no Tribunal de Contas até ser chamado para o gabinete do então primeiro-ministro, Georges Pompidou.
Foi Pompidou que disse que Chirac era o seu "bulldozer".
Ao mesmo tempo, foi-se envolvendo na política, primeiro a nível local, e depois candidata-se a deputado pela primeira vez em 1967.
Com o assento ganho, é chamado ao Governo com a função de secretário de Estado do Emprego e, depois do Maio de 68, período em que terá um papel importante como mediador da crise estudantil e das greves gerais, secretário de Estado da Economia e das Finanças.
Em 1974 é chamado pelo novo Presidente, Valéry Giscard d'Estaing, a Matignon para se tornar primeiro-ministro.
Chirac apoiou a eleição de Giscard d'Estaing, mas as posições divergentes dos dois homens vão-se aprofundando e o seu mandato dura apenas dois anos.
Terá ainda outros cargos ministeriais nesse executivo.
Ao sair do Governo, cria um novo partido e, em 1977, torna-se o primeiro presidente da Câmara de Paris eleito através de sufrágio universal.
A sua imagem de político incansável e de "tipo simpático" junto dos franceses começa a cimentar-se no seu mandato como autarca de Paris, um dos maiores cargos com destaque político em França - Chirac será presidente da Câmara de Paris até 1995.
O reconhecimento político que adquire à frente da capital vai usá-lo para tentar chegar ao Eliseu.
Em 1981, ano em que François Miterrand ganha as eleições, Chirac é terceiro.
Passa então a líder da oposição e em 1986 ganha as eleições legislativas, passando a um período de coabitação difícil como primeiro-ministro de Miterrand.
A Presidência chega em 1995, depois de uma luta fratricida com Edouard Balladur, um amigo de há 30 anos.
Jacques Chirac ficará à frente dos destinos da França durante 12 anos (um mandato de sete anos e outro mandato de cinco anos) e nesse período reconheceu a responsabilidade do Estado francês na deportação de judeus durante a II Guerra Mundial, declarou o fim do serviço militar obrigatório e recusou a entrada da França na Guerra do Iraque, em 2003.
Mas também foi durante os seus anos no poder, em 2005, que o Tratado Constitucional Europeu é rejeitado em França através de referendo, apesar de ter feito campanha pelo sim.
Em 2007, depois de um acidente vascular cerebral e um enfraquecimento político devido a longos períodos de coabitação com primeiros-ministros com quem manteve conflitos, Jacques Chirac disse que não se recandidataria ao Eliseu, afastando-se da vida política ativa.
Em 2011, um processo sobre empregos fictícios, ainda como autarca da Câmara de Paris, condena-o a dois anos de pena suspensa. Esse processo e um atestado que o dá como incapaz de se apresentar em tribunal, põe um ponto final às aparições públicas do antigo Presidente.
Jacques Chirac deixa também um legado cultural importante, já que era apaixonado por museus e exposições, estando profundamente ligado à conceção do Centro Pompidou e foi o maior impulsionador do Museu do Quai Branly - Jacques Chirac onde estão coleções de arte e de civilizações africanas, americanas e asiáticas.