O ataque perpetrado pela "Frente de Resistência", que defende a integração da Caxemira indiana no Paquistão, gerou a mais agressiva resposta da Índia em décadas (ver links em baixo), levando mesmo a trocas de fogo entre os dois países.

Passaram quase duas semanas desde que o Vale de Besairan, na Caxemira indiana, viu as suas paradisíacas paisagens manchadas de sangue, o que, nas múltiplas crises entre os dois países nesta região dos Himalaias em décadas, seria tempo suficiente para acalmar os ânimos.

Mas não é o caso desta vez, com o primeiro-ministro indiano, que cancelou a sua visita à Rússia, onde deveria participar nas comemorações relevantes do 80º Aniversário da derrota nazi na II Guerra Mundial devido a esta crise, a dar sinais de rara disponibilidade para não deixar passar este momento sem um castigo exemplar ao Paquistão.

Narendra Modi, depois de ter saído unilateralmente de um acordo histórico de partilha de água com o Paquistão na Bacia do Rio Indus, considerado existencial para Islamabad, e de expulsões em massa de cidadãos de um e do outro lado, deu liberdade de acção ao Exercito indiano para escolher a forma e o timing do "castigo" ao vizinho.

E agora, já nesta terça-feira, 06, num momento em que Islamabad ameaça com o seu arsenal nuclear qualquer corte pela Índia no acesso vital a essa água para a sua agricultura, em Nova Deli, o Governo de Modi ordenou a realização de uns inauditos exercícios miliares envolvendo as populações civis dos Estados mais próximos da fronteira com o Paquistão nesta quarta-feira, 07.

Os analistas são unânimes sobre o facto de nunca, desde 1947, aquando da independência de ambos os países do Reino Unido, estas duas potências nucleares estiveram tão perto de um confronto sem quartel, ameaçando o mundo com um Armagedão atómico.

Mas há outro dado que acrescenta lastro a esse receio, que é, como foi já referido por analistas, o facto de o Paquistão, um aliado histórico dos Estados Unidos, ter sido pressionado por Washington nos últimos anos para fornecer enormes quantidades de armamento e munições de artilharia à Ucrânia, no seu confronto com a Rússia.

Com esse fornecimento sob pressão dos EUA, Islamabad terá, segundo relatos dados como certos pelos media indianos, ficado sem capacidade de enfrentar uma guerra convencional com a Índia, o que deixaria os paquistaneses sem saída que não fosse o recurso ao nuclear.

Esse cenário está a assustar as grandes potências regionais, incluindo a China, que, segundo relatos dos media asiáticos, está a pressionar o seu velho aliado, o Paquistão, para se conter nas ameaças e pedir a mediação russa para esta crise, aproveitando o facto de Moscovo ter relações privilegiadas com Nova Deli.

Aparentemente esse pedido de Pequim foi respeitado e, numa curiosa entrevista à TASS, a agência de notícias oficial russa, o embaixador paquistanês em Moscovo, Muhammad Khalid Jamali, vem dizer que Islamabad conta com a mediação do Kremlin para atenuar a crise com a Índia.

O diplomata paquistanês em Moscovo disse mesmo à TASS que já está em contacto com o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo para abreviar essa mediação, numa altura em que se soube igualmente que o Presidente Vladimir Putin manteve uma longa conversa telefónica com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.

Nessa conversa, segundo os media russos e indianos, Putin condenou severamente o terrorismo em Caxemira, mostrando a abertura de Moscovo para exercer esse papel de mediação, enquanto o jornal Izvestia refere que o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, já está em contacto com os seus dois homólogos indiano e paquistanês.

Aparentemente, segundo a TASS, em perspectiva está já um plano que consistirá na redução paulatina das tensões até que seja possível garantir o sucesso de um encontro em Moscovo de Putin com os dois lideres em contenda, Narendra Modi e o primeiro-ministro paquistanês Shehbaz Sharif.

Em pano de fundo a este papel de crescente protagonismo diplomático de Moscovo nesta região cada vez mais relevante do mundo estão os esforços bem-sucedidos de Sergei Lavrov em atenuar as adstringências históricas entre indianos e chineses, onde ganhou um lastro sólido para ter agora o respeito de Islamabad, que tem vindo a melhorar as suas relações com a Rússia, e Nova Deli.

Mas a tarefa de Lavrov não é fácil, porque vai ser, segundo vários analistas indianos, impossível obter de Nova Deli garantias de contenção sem que sejam observados sinais claros de disponibilidade de Islamabad para perseguir e punir severamente as forças rebeldes que actuam há anos na Caxemira indiana com apoio, segundo os indianos, dos serviços secretos paquistaneses.