A razão para esta nova guerra entre Índia e Paquistão, uma das muitas que os dois países travaram desde 1947, ano das suas independências do Reino Unido, todas devido a questões territoriais, foi o ataque terrorista de 22 de Abril no Vale de Baisaran, na Caxemira indiana.

Nesse ataque, reivindicado por uma organização islâmica pouco conhecida, a "Frente de Resistência", morreram 26 indianos, quase todos turistas hindus que, como sucede normalmente, visitavam as majestosas paisagens daquela região turística mas localizada na área mais problemática da conflitualidade indo-paquistanesa.

Nova Deli, como sempre sucede também perante ataques de natureza terrorista sobre indianos, acusou o Paquistão de estar ligado aos atacantes, enquanto Islamabad acusa a Índia de frivolidade nas suas acusações... uma perene troca de "galhardetes" também alimentada pelas questões religiosas entre a maioria muçulmana paquistanesa e a maioria hindu na União Indiana.

Desde 22 de Abril, no que foi o mais brutal ataque terrorista em mais de duas décadas na Índia, Nova Deli realizou sucessivas retaliações diplomáticas e políticas, com a expulsão em massa de paquistaneses do país e, no mais grave acto, saiu unilateralmente do acordo sobre a partilha da água da Bacia do Indu, que pode comprometer quase 90% da agricultura paquistanesa.

O Paquistão ripostou com semelhantes medidas, avisando, contudo, que se o Governo indiano privar os seus agricultores da vital água da Bacia do Rio Indu, todas as opções são colocadas em cima da mesa, incluindo o uso de armas nucleares.

Tal ameaça não fez o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, travar a escalada da retaliação e deu carta branca às poderosas Forças Armadas da União Indiana para definirem os timings e os alvos a atacar na vingança pela morte dos 26 turistas hindus próximo da cidade de Pahlgam, no Vale de Baisaran, área situada no território de Caxemira e Jammu indiana.

E esse poder discricionário dos comandantes militares indianos foi usado para dar início a uma sucessiva vaga de ataques com misseis lançados pela aviação de guerra da União e dos seus sistemas terra-terra, além de uma barragem de fogo de artilharia pesada durante longas horas.

Os media paquistaneses noticiam esta manhã de 07 de Maio, horas depois da primeira vaga de ataques indianos, que morreram 26 civis e mais de 40 ficaram feridas, enquanto Nova Deli fazia notar que todos os nove alvos atingidos não eram nem miliares nem estruturas do Estado paquistanês, mas sim locais relacionados com "o terrorismo".

Os indianos deram o nome de "Operação Sindoor" aos ataques que visaram os locais de abrigo dos terroristas islâmicos que Nova Deli acusa de estarem pode detrás dos ataques do Vale de Basairan com o apoio de elementos radicalizados da intelligentsia paquistanesa.

Islamabad já negou que estes ataques tenham visado locais ou campos de militantes das organizações referidas pela Índia, falando antes em áreas civis, com vítimas civis, naquilo que Nova Deli faz questão de referir como um ataque punitivo e sem a preensão de escalar a situação para uma guerra aberta com Islamabad.

Se a intenção é não escalar, então as coisas estão a correr mal, porque logo após o início da "Operação Sindoor", milhares de paquistaneses saíram para as ruas a exigir vingança e a queimar fotografias com a cara do primeiro-ministro indiano Narendra Modi.

Isto, mesmo depois de a Índia ter sublinhado que o foco foi garantir um ataque contido e medido com cuidado sendo a contenção a palavra-chave na escolha dos alvos e na sua execução, tendo o Exército da União Indiana referido no X que "foi feita justiça", podendo ser esta frase interpretada como um convite a Islamabad para não alimentar uma escalada.

Fontes das autoridades indianas referem ainda, segundo a russa TASS que Nova Deli procurou com estes ataques produzir profilaxia para novos ataques terroristas contra a Índia que estavam a ser preparados nos locais agora alvejados.

O secretário de Estado indiano dos Negócios Estrangeiros, Vikram Misri, citado pela agência de notícias russas, explicou que a intelligentsia do país está na posse de informação sobre novos ataques em preparação.

"E foi essa informação que levou à tomada de medidas para evitar novos ataques terroristas", disse este diplomata da União Indiana, acrescentando ainda que se tratou do exercício do direito de resposta e de prever novos casos de terrorismo contra bens ou cidadãos indianos.

Como o Novo Jornal avançava no final do dia de terça-feira, 06, quando tinha início a "Operação Sindoor", apesar da violência das explosões provocadas pelos misseis indianos, o desenho da "vingança contida" indiana terá tido a mão da diplomacia russa e chinesa.

E tanto Moscovo como Pequim sabem que não era possível ultrapassar a situação criada pelo grave ataque de 22 de Abril sem que o Governo indiano tivesse a sua vingança executada para também internamente ser possível conter eventuais erupções populares entre as comunidades mais radicais do hinduísmo.

Para já, a meio desta manhã de quarta-feira, 07, os media internacionais com jornalistas no terreno referem "apenas" a troca de fogo de artilharia, sendo visível uma certa contenção de ambos os lados apesar das manifestações mais radicais que existem num e noutro país.

O primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, citado pela Reuters, apelidou de "cobardes" os ataques indianos, prometendo uma "retaliação à altura", porque "o Paquistão tem agora esse direito de resposta robusta ao que foi um claro acto de guerra".

Sharif, segundo The Guardian, mandou renir o Conselho de Segurança Nacional para hoje, sublinhando que os militares do país "sabem bem como lidar com o inimigo" e que este "nunca irá ter sucesso nos seus objectivos criminosos", anunciando que durante o ataque indiano foram abatidos cinco dos seus aviões de guerra usados para lançar misseis.

Perante este cenário, sem nunca esquecer que se trata de duas potências nucleares com um longo historial de conflitualidade, desde o primeiro dia enquanto Nações independentes, saídos do Império britânico em 1947, o mundo clama por contenção, com o Secretário-Geral da ONU à cabeça.

António Guterres fez saber que está "muito preocupado" com o evoluir desta conflito indo-paquistanês ao longo da linha de demarcação da fronteira internacional, com o português a referir mesmo em primeira instância que as suas inquietações resultam dos ataques indianos.

Mas é aos dois Governos de Sharif e Modi que Guterres pede "a máxima contenção militar" sublinhando que o histórico permite a ambos perceber que só o diálogo serve como ferramenta para ultrapassar os diferendos.

"O mundo não aguentaria um confronto em larga escala entre a Índia e o Paquistão", referiu o porta-voz do Secretário-Geral, Stéphane Dujarric, deixando entre linhas o faiscante dado que é estar-se perante o risco de um conflito generalizado entre duas potências nucleares.

Sendo o país mais envolvido nos esforços diplomáticos para desanuviar a tensão entre Nova Deli e Islamabad, a Rússia também veio publicamente, através do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, mostrar a sua "profunda preocupação" com uma eventual escalada descontrolada da conflitualidade entre os dois países.

O espaço aéreo partilhado pela Índia e pelo Paquistão está já a ser evitado por dezenas de companhias aéreas de todo o mundo.