E se fosse preciso uma demonstração clara da abrasividade entre paquistaneses e indianos, mesmo que a tensão seja permanente desde 1947, ano da independência dos dois países do Reino Unido, a decisão do primeiro-ministro indiano demonstra-o com perigosa clareza.
Narendra Modi deu liberdade total de acção às Forças Armadas indianas para definirem o modo, os timings e os alvos da resposta ao atentado terrorista que na terça-feira da passada semana vitimou 26 turistas indianos no Vale de Baseiran, na província de Caxemira.
Assim que se soube deste atentado, Nova Deli acusou directamente o Paquistão de estar por detrás do ataque perpetrado por um grupo de três homens com armas ligeiras, naquilo que é um longo historial de acusações mútuas no contexto da disputa territorial pela região.
Com as tensões ao rubro, e depois de um punhado de situações em que, desde o dia 22, foi trocado fogo de armas ligeiras entre posições dos dois lados da linha de disputa fronteiriça, em Islamabad o Governo do primeiro-ministro Shehbaz Sharif fez saber da sua convicção de que está iminente um ataque da Índia em larga escala.
De acordo com a Reuters, Islamabad está a fazer preparativos alargados, como, de resto, já era conhecido (ver links em baixo) para fazer face a uma guerra com a Índia, que pode ser delimitada e, como tem acontecido ao longo dos anos, com solução diplomática, ou não...
É que, surpreendentemente, no que nunca tinha acontecido, a Índia saiu unilateralmente do acordo bilateral que permite o uso comum das águas da Bacia do Rio Indus, em território indiano e que é absolutamente crucial para o Paquistão.
Tanto assim é que o primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, faz saber, corroborando uma decisão do Conselho de Segurança Nacional em Islamabad, que se Nova Deli cercear o acesso à água, vital para quase toda a agricultura paquistanesa, a resposta será "total e ilimitada", numa clara alusão à possibilidade de uso de armas nucleares.
Agora, em declarações à Reuters, o ministro da Defesa do Paquistão, Khawaja Asif, disse que as unidades militares geograficamente relevantes para conter qualquer actividade militar indiana foram "fortemente reforçadas".
"Nós reforçados as nissas forças porque sabemos que está iminente (um ataque da Índia), e, por isso, nessa situação temos de tomar algumas decisões trágicas e foram tomadas", avisou, notando que a convicção desse ataque resulta do trabalho da intelligentsia nacional.
E tudo, porque Nova Deli há muito que defende que os grupos terroristas que actuam em Caxemira contam com suporte paquistanês - Islamabad sempre o negou -, parecendo muito que Narendra Modi chegou a um ponto em que, por razões de política interna, está obrigado a agir de forma mais agressiva que no passado aconteceu para ultrapassar os problemas com o vizinho nuclear.
Para já, os ataques e contra-ataques têm sido apenas de natureza política e diplomática (ver links em baixo), com, por exemplo, expulsões em massa de cidadãos de um e do outro país, ou a suspensão de tratados bilaterais, como o da água do Rio Indus, que é onde alguns analistas sublinham que está a diferença entre esta situação e outras análogas no passado.