Numa nota intitulada "Paz na RDC - nota sobre negociações directas", o Ministério das Relações Exteriores usou a página da Presidência da República para informar "a opinião pública nacional e internacional" que, por motivos e circunstâncias "de força maior", não foi possível a realização, esta terça-feira, 18 de Março, em Luanda, do encontro programado entre o Governo da República Democrática do Congo (RDC) e o Movimento Março 23 (M23).

Diz o Governo angolano, na qualidade de mediador, que continua "a envidar todos os esforços" para que este encontro se realize "em momento oportuno", reafirmando ser o diálogo "a única solução duradoura" para a pacificação no Leste da República Democrática do Congo.

Como o Novo Jornal noticiou ao princípio da tarde, este encontro criou uma forte expectativa sobre o retomar do diálogo entre as partes beligerantes no leste da República Democrática do Congo (RDC), as Forças Armadas congolesas (FARDC) e os rebeldes do M23 apoiados pelo Ruanda, mas, tal como ocorreu no Processo de Luanda, que ao longo de quase três anos procurou aproximar o Ruanda e a RDC de uma plataforma comum para acabar com a violência no leste congolês, que implodiu com a desistência do Presidente ruandês, Paul Kagame, também agora foi o M23 que fez desmoronar esta nova tentativa de João Lourenço.

Segundo o porta-voz do M23, e da Aliança do Rio Congo (AFC, sigla em francês), Lawrence Kanyuka, a razão pela qual os rebeldes saltaram deste novo comboio da paz já em andamento foram as sanções da União Europeia aplicadas a líderes ruandeses e do M23.

Na rede social X, Kanyuka escreveu ainda que "algumas organizações internacionais estão deliberadamente a sabotar os esforços de paz na RDC fazendo das muito aguardadas conversações de paz impossíveis".

"As sucessivas sanções impostas aos lideres do M23, incluindo nas vésperas do agendado encontro de Luanda, comprometem seriamente o diálogo directo e impedem qualquer progresso neste processo", porque fazem com que a ida a Luanda seja "impraticável".

Estas sanções levaram mesmo ao corte de relações entre a Bélgica, antiga potência colonial, e o Ruanda, devido às ligações efectivas, como demonstrado em relatórios das Nações Unidas, entre o M23 e as Forças regulares ruandesas, com apoio logístico e militar, a que acresce a presença de milhares de soldados de Kigali no leste da RDC.

Essas forças regulares ruandesas foram preponderantes o apoio ao M23 na sua conquista das capitais dos Kivu Norte (Goma) e Sul (Bukavu) em menos de dois meses, numa ofensiva-relâmpago iniciada no início deste ano (ver links em baixo), passando a controlar as sua áreas mineiras estratégicas, nomeadamente de coltão, cobalto, lítio e "terras raras"..

Ainda segundo Lawrence Kanyuka, o grupo que representa considera ainda que, além das sanções europeias, também as recentes ofensivas das forças leais a Kinshasa, com recurso a aviões de guerra e drones, conduziram as possibilidades de viajar para Luanda para quase zero.

Isto, depois de um longo processo negocial conduzido por João Lourenço, o mediador designado pela União Africana, o Governo congolês do Presidente Felix Tshisekedi, que esteve em Luanda por pelo menos duas vezes no último mês, aceitou enviar uma delação à capital angolana para se sentar com o M23, depois de ter sempre recusado esse passo.

Este momento de colapso desta nova etapa negocial é ainda mais relevante porque é ela mesma fruto de uma exigência do Presidente do Ruanda, que deixou de estar nas Cimeiras de Luanda porque entendia que as negociações deveriam ser internas, entre Kinshasa e o M23, como, apregoava então Paul Kagame, uma organização totalmente congolesa.

O que viria rapidamente a ser desmentido pelas evidências com a demonstração do apoio ruandês aos guerrilheiros feito pelos vários media com base nos relatórios da ONU e das reconfirmações feitas pela Comunidade Internacional através das sanções aplicadas a Kigali.