Neste encontro em Nova Iorque, na sede da ONU, as agências onusianas tomaram a palavra para descrever uma situação alarmante, onde, como exemplo avançado pela directora executiva da UNICEF, Catherine Russel, uma criança é violada de meia em meia hora nas fases mais intensas do conflito.

A par da violência sexual sobre mulheres e crianças, o leste da RDC, onde os rebeldes do M23, apoiados pelo Ruanda, já ocupam uma vasta área, incluindo as capitais dos Kivu Norte e Sul, Goma e Bukavu, e as principais áreas mineiras, é ainda fonte de milhões de deslocados.

O cenário descrito pelos responsáveis pelas várias agências da ONU na quarta-feira, 16, é "esmagador", segundo relatam os media internacionais, sendo que são acrescentados todos os dias milhares de mortos, feridos e deslocados, internos e para os países vizinhos, como o Burundi, à já dramática contabilidade de três décadas de ininterrupta conflitualidade com incidência sobre as populações civis.

As populações civis são aqui especialmente violentadas porque a exploração de minerais estratégicos, como as terras raras, o coltão ou o cobalto (ver links em baixo), exige a expulsão das populações, que, em dezenas de casos, vivem literalmente em cima de solos ricos nestas matérias-primas cobiçadas pelas potências ocidentais e asiáticas para as suas indústrias 2.0.

Catherine Russel disse ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que não pode continuar a ser ignorado o facto de se tratar de uma "crise sistémica" onde o abuso sexual está a ser usado como arma de guerra para desvitalizar famílias, aldeias e comunidades, com, por exemplo, um aumento de 100% de casos de violação de crianças nos primeiros meses deste ano.

E Huang Xia, o enviado especial do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, para a região, sublinhou, citado pelas agências, a esperança de que um cessar-fogo possa aliviar o sofrimento é optimismo excessivo porque essa possibilidade está ainda muito longe.

Recorde-se que o Presidente angolano, João Lourenço, desistiu de mediar o conflito entre Kinshasa e o Ruanda, ou o seu braço armado, o M23, ao perceber que, em Março, os Presidentes da RDC, Felix Tshisekedi, e do Ruanda, Paul Kagame, tinham trocado, à sua revelia, Luanda por Doha, no Catar, a convite do Emir Sheik al-Thani, para negociar.

Porém, depois desse momento de rara provocação diplomática protagonizado por Tshisekedi, Kagame e al-Thani, nada avançou e o M23 e Kinshasa não foram capazes sequer de se sentarem à mesa na capital catari, o que se reflecte na continuada violência no leste congolês.

Huang Xia nota mesmo que as violações da lei internacional e os direitos humanos aumentam diariamente na região e a crise humanitária não era tão dramática há muitos anos na RDC e nos países vizinhos, como o Burundi ou o Uganda e o Ruanda.