Esta decisão, anunciada agora por Donald Trump, está a ser acompanhada pela colocação de centenas de militares da Guarda Nacional nas ruas de Washington, ao mesmo tempo que a Polícia local passa a ser comandada pela Casa Branca directamente.

Isto é possível, e é mesmo uma medida legal, embora extremamente controversa, que alguns analistas consideram a antecâmara do totalitarismo, muito semelhante a situações que em países com democracias "menos" consolidadas levaram a golpes de Estado institucionais.

Porém, Donald Trump está a recorrer a um instrumento legal para controlar a segurança e as forças que a garantem na capital do país, onde estão os três ramos do Estado democrático federal, seja o Congresso (Capitólio), a Presidência (Casa Branca) e o Supremo Tribunal Federal.

Esse instrumento é a Seção 740 da Lei de Autonomia de Washington DC, o distrito que delimita a capital do país e do Estado com o mesmo nome, que foi aprovada em 1973, e dá ao Presidente o controle, se este o reivindicar, das forças de segurança, alegando "condições especiais de natureza emergencial que exijam o uso da força da Polícia Metropolitana para fins federais".

Neste caso, Donald Trump, ladeado do seu secretário da defesa, Pete Hegsteh, e a Procuradora Geral, Pam Bondi, justificou este polémico passo, que só pode usar por 30 dias, embora seja renovável em condições extraordinárias, e tem de explicar ao Congresso em 48 horas, com a "situação dramática de insegurança".

Na mesma toada, e na mesma conferência de imprensa na Casa Branca, defendeu que essa insegurança que justifica esta medida rara, é resultado "da imigração descontrolada", mesmo que todos os dados existentes indiquem que a insegurança em Washington, que é localmente governada por democratas, tem vindo a diminuir há vários anos,

E a primeira medida conhecida foi a expulsão de todos os mendigos das ruas de Washington, o que implica que milhares de pessoas, todos pobres, muitos imigrantes, vítimas, na sua grande maioria, da desigualdade social promovida pelas política neoliberais promovidas tanto por democratas como por republicanos mas claramente mais a gosto destes últimos, o partido de Trump.

Curiosamente, a última e controversa lei aprovada pela maioria republicana no Congresso, por iniciativa Presidencial, definida como Pacote Tributário, a 04 de Julho, implica uma gigantesca redução de impostos para os mais ricos, uma redução histórica dos apoios sociais aos mais pobres, eliminar um reduzir a maioria dos programas sociais, ou, entre outros, eliminar os apoios à transição energética, o que vai levar muitos milhares de norte-americanos para as ruas, mesmo com empregos estáveis.

Mas Donald Trump não pretende ficar por aqui, tendo mesmo anunciado na mesma ocasião que esta medida deverá ser implementada noutras cidades governadas localmente pelos democratas, o que permite sem margem para grandes dúvidas perceber que a Casa Branca está a tomar de assalto o poder local onde governam democratas, depois de ter maiorias sólidas no Congresso, Câmara dos Representantes e no Senado, e no Supremo Tribunal Federal.

Alguns analistas admitem que se estes passos não conduzem a uma intenção de controlar o país, no mínimo, de uma forma muito próxima da ilegalidade, mesmo que suportada em leis polémicas locais, mas que pode destapar outras intenções, como, por exemplo, gerar continuamente novos focos de atenção para os media de forma a desviar os olhares das questões mais melindrosas para o Presidente norte-americano.

Entre estes estão, no topo da lista, o polémico e pesado escândalo (ver links em baixo) de pedofilia e abusos sexuais " Ficheiro Epstein" onde o Presidente norte-americano alegadamente aparece em destaque, ou os dados catastróficas da economia, com inflação galopante, desemprego em níveis perigosamente elevados e a dívida pública a passar já os provavelmente insustentáveis 37 triliões USD, somando diariamente cerca de 22 mil milhões de dólares ao "bolo".

Mas, para Trump o mais relevante é que "a capital (Washington) foi tomada por gangues violentos e criminosos" prometendo limpar a cidade dos factores que geram a insegurança, mesmo que em 2024 os índices de criminalidade e insegurança foram os mais baixos em mais de três décadas.

Apesar de ter colocado em cima da mesa o alargamento desta medida a outras cidades governadas pelos democratas, não, de facto, a primeira vez que assume a decisão de chamar a si a responsabilidade de restaurar a lei e a ordem, mesmo que sob justificações irreais ou muito longe do retrato que delas fez, como foi o caso de Los Angeles, Califórnia.

Em junho último, Donald Trump mobilizou a Guarda Nacional na Califórnia contra a opinião do governador democrata, Gavin Newsom, para reconquistar a segurança e a legalidade em Los Angeles depois de violentos protestos contra as detenções de imigrantes no âmbito da "limpeza" e mega-expulsão de imigrantes dos Estados Unidos.

Note-se que também em Washington, a "mayor" (presidente da autarquia) democrata, Muriel Bowser, contraditou as alegações de Trump sobre os índices de criminalidade na cidade para tentar travar a medida que retira aos eleitos locais uma boa parte dos poderes que as eleições lhes conferiram.

Muriel Bowser lembrou que nos primeiros cinco meses de 2025, os crimes violentos caíram,nde acordo com dados municipais, 26%, já depois de uma acentuada queda de 35% no ano passado, enquanto a criminalidade geral caiu pouco menos de 10%.