A missão congolesa, segundo a Presidência angolana, foi liderada pelo presidente da Conferência Episcopal Nacional do Congo (CENCO), bispo Fulgence Mutemba, uma das organizações mais interventivas na RDC (República Democrática do Congo).

Apesar de não ter sido publicado uma síntese da conversa entre João Lourenço e a missão religiosa congolesa, como é normal em situações destas, a página da Presidência angolana avança o porta-voz dos religiosos disse que esta iniciativa é parte da "diplomacia eclesiástica" em curso e que João Lourenço é parte "muito importante" para a resolução da crise na região dos Grandes Lagos.

Actualmente a presidir à União Africana, o Presidente angolano tem tido um papel de empenhada intervenção na procura de soluções para os problemas que envolvem a RDC e o Ruanda num contexto de sucessivas conquistas territoriais no leste congolês por parte dos rebeldes do M23, que são financiados e armados pelo vizinho Ruanda (ver links em baixo).

No entanto, as múltiplas Cimeiras de Luanda que contaram com a presença dos Presidentes da RDC, Felix Tshisekedi, e do Ruandsa, Paul Kagame, não foram suficientes para gerar um apaziguamento sólido e acabaram por colapsar quando o ruandês deixou de se fazer presente.

Ao mesmo tempo, também em Nairobi, no Quénia, onde se desenrolava outra frente para lavrar a paz no leste da RDC, também se assistiu ao processo de desmoronamento dos esforços liderados pelo ex-Presidente daquele país, Uhuru Kenyatta.

A razão, segundo vários analistas, para que tanto o Processo de Luanda como o de Nairobi terem falhado é que o Ruanda não tinha intenção de deixar que pudessem triunfar, porque as conquistas do M23 nas províncias dos Kivu Norte e Sul são, de facto, o controlo de Kigali sobre o rico subsolo em recursos minerais estratégicos da RDC.

Embora não tenha sido dito ap+os a reunião desta manhã na Cidade Alta, os religiosos congoleses esperam agora, porque já é comum o CENCO apelar publicamente a que os acordos de Luanda sejam respeitados pelas partes - um apontar do dedo ao Ruanda -, que, enquanto presidente em exercício da União Africana, Lourenço possa investir em criar uma frente de pressão para que a comunidade internacional pressione o Ruanda no sentido de travar a violência.

Isto, porque, como o Novo Jornal tem noticiado regularmente (ver links em baixo), o M23 tem gerado centenas de mortes e milhares de feridos e deslocados entre a população civil nos seus avanços de conquista das capitais provinciais do Kivu Norte (Goma) e Kivu Sul (Bukavu).

Além desta vertente regional da crise, a missão religiosa congolesa, segundo o seu porta-voz, Éric Nsenga, secretário-geral da Igreja de Cristo da RDC, protestante, procura ainda encontrar na forma como Angola resolver a sua crise interna após a guerra civil uma fórmula para aplicar no Congo com o mesmo resultado.

Isto, quando em Kinshasa, o Governo do Presidente Tshisekedi anunciou o pagamento de uma recompensa de 5 milhões USD pela captura dos três principais lideres do M23, os seus dirigentes políticos, Corneille Nangaa e Bertrand Bisimwa, e o seu chefe militar, Sultani Mukenga.

Esta recompensa avultada pouco ou nada deverá resultar, visto que, como notam os media congoleses, todos os visados possuem uma forte capacidade de movimentação para o Ruanda, Uganda e dentro do leste congolês, que é totalmente dominado pelo Ruanda e, mais a norte, pelo Uganda, aliado de Kigali.

Mas a iniciativa tem um efeito relevante para Kinshasa, que dá visibilidade à situação dramática que se vive naquela geografia, permitindo a Felix Tshisekei insistir na urgência de a comunidade internacional aplicar sanções aos lideres ruandeses, tendo como pano de fundo a comprovação pela ONU do seu envolvimento na ocupação de parte da RDC.

Além disso, Kinshasa pede às potências ocidentais, especialmente os EUA, que deixem de comprar os minerais estratégicos extraídos ilegalmente pelo Ruanda no leste congolês, com o manto protector dos guerrilheiros do M23, e que passe a negociar directamente com a RDC de forma oficial e legal.

Alguns analistas ouvidos pelos media online congoleses têm insistido ser difícil de perceber como as grandes potências ocidentais permitem com os seus negócios que milhões de pessoas sofram de forma desastrosa às mãos de guerrilheiros que usam a violência gratuita como forma de controlo territorial e social.