E se os EUA deixarem de apoiar a Ucrânia, tal como tem sido repetido por analistas militares, incluindo os mais próximos da NATO e do Governo do Presidente Volodymyr Zelensky, Kiev não aguentará a situação na frente das várias batalhas dispersas por mais de 1200 kms por mais de duas semanas.
A par deste receio em Kiev, que foi agora confirmado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, sob a forma de aviso aos parceiros ocidentais, dizendo que "Kiev não tem plano B para o eventual fim do apoio americano", na Europa ocidental começam a surgir indícios de que se teme que esse desfecho seja o mais provável.
Exemplo desse receio veio, também esta semana, do novo ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, Radoslaw Sikorski, que pediu com máxima urgência que os aliados ocidentais da Ucrânia se apressem a enviar misseis de longo alcance para que as suas forças armadas possam desferir ataques bem dentro do território da Rússia.
Ora, este pedido tem como pressuposto que se tal vier a acontecer, o risco de um aumento das possibilidades de confronto directo entre Moscovo e a NATO é claro, o que contrasta com o cada vez mais igualmente evidente desejo de que esta guerra termine o mais rápido possível.
Não só porque os países da NATO esgotaram os seus arsenais no apoio a Kiev como os efeitos devastadores nas economias europeias de dois anos de conflito deixaram marcas negativas profundas em quase todos, mas especialmente na Alemanha, que está em vias de perder a liderança inequívoca da condição de motor da economia europeia.
Em pano de fundo a este apelo dos chefes das diplomacias da Ucrânia e da Polónia está o aparente insolúvel impasse no Congresso dos EUA onde a maioria republicana da Câmara dos Representantes está a travar a aprovação do plano democrata do Presidente Joe Biden de enviar mais 61 mil milhões USD para Kiev.
E com as eleições norte-americanas calendarizadas para 05 de Novembro deste ano, com as sondagens, quase todas, a apontar para uma vitória folgada de Donald Trump (se este se conseguir livrar dos múltiplos processos judiciais - ver links em baixo nesta página) contra o incumbente Joe Biden, sendo a guerra um elemento em evidente perda de popularidade entre os eleitores, especialmente os mais próximos do ex-Presidente, surge como cada vez mais difícil um entendimento que venha a beneficiar o esforço de guerra ucraniano contra a Rússia.
Uma das certezas que é partilhada por uma cada vez mais alargado grupo de analistas é que sem os EUA, Kiev colapsa tanto economicamente como militarmente num curto espaço de tempo, porque os aliados europeus não têm capacidade para substituir o papel de Washington nesse fluxo vital em direcção à Ucrânia.
E a redução do apoio aparentemente está já visível para os observadores mais próximos, como o demonstra o balanço trágico dos recentes ataques passivos com centenas de misseis e drones russos sobre dezenas de cidades ucranianas, visando especialmente as três maiores, Kiev, a capital, Kahrkiv, no leste, e Lviv, a oeste.
Apesar da retórica ucraniana que se repete a cada ataque desta envergadura, de que foram abatidos a maioria dos misseis e dos drones, incluindo os hipersónicos Khinzal, que os especialistas dizem ser quase impossível de fazer, mesmo com os modernos sistemas de defesa anti-aérea Patriot ou Iris-T, a realidade é que nas redes sociais multiplicam-se as imagens dos ataques desferidos nas últimas 72 horas.
E há alguns vídeos que demonstram que a defesa antiaérea ucraniana está depauperada ao ponto de ter sido filmado um míssil, 10 vezes mais lento que o Khinzal, um KA 55, a sobrevoar a capital ucraniana sem qualquer acção dos seus sistemas antiaéreas.
O que parece ter sido reforçado com as palavras insensatas do ministro polaco dos Negócios Estrangeiros, Radoslaw Sikorski, que fez um pedido urgente de aumentar a capacidade ucraniana de infligir ataques no interior do território russo com recurso a armas ocidentais, uma linha vermelha que separa a guerra entre Kiev e Moscovo e Moscovo e a NATO, que seria, como Joe Biden e Putin admitiram, seria o fim da Humanidade tal como a conhecemos.
Para já, com as atenções dos EUA divididas entre o leste europeu e o Médio Oriente, e com o esforço da indústria norte-americana a ter de ser dividido por Kiev e Telavive, o Governo de Zelensky vem jogar a cartada da responsabilidade moral dos EUA em manter o apoio ao seu esforço de guerra, porque a esse apoio "não há alternativa" ou "plano B".
Isto tem subjacente as ruidosas promessas feitas pelos lideres ocidentais ao longo dos primeiros meses de guerra, de que o apoio a Kiev seria "até onde for preciso", destacando-se nestas frases sonoras o Presidente Biden, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o antigo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que é quem foi, em Março de 2022, a Kiev destruir as negociações que estavam a correr entre as duas partes, havendo mesmo já um rascunho assinado por russos e ucranianos, que foi depois desta visita intempestiva, rasgado por Volodymyr Zelensky.
Essas promessas estão agora, sempre, em suspenso sobre todas as declarações ucranianas a pedir mais apoio em armas e dinheiro, porque elas significam que a Ucrânia aceitou manter a guerra, onde iriam morrer centenas de milhares de soldados, apenas porque lhe foi prometido um fluxo ininterrupto de apoio sem limites durante o tempo que fosse preciso.
Aparentemente, essas palavras tinham subjacente a convicção entre os lideres ocidentais de que a Rússia seria derrotada rapidamente no campo de batalha, como vociferava então Ursula von der Leyn, o que não veio a suceder, estando, como admitiu já publicamente o CEMGFA ucraniano, Valery Zaluhzny (na foto, com Zelensky), o conflito num impasse entre trincheiras mas com as perdas ucranianas a serem insustentáveis por muito mais tempo e a Rússia, que também sofre baixas em grande número, demonstrar uma largamente superioridade nas suas campanhas aéreas com recurso a misseis, drones e aviação.
Com o Inverno instalado no leste europeu, onde as temperaturas atingem os 20º negativos por norma, podendo chegar aos -40º, os combates reduziram de intensidade e só na Primavera será possível perceber quem estará em melhor condição para avançar sobre as trincheiras do inimigo... se não for conseguido um cessar-fogo prolongado, como parece ser o desejo de cada vez mais países europeus.
Até ver, oficialmente, Zelensky mantém a posição de só negociar com a retirada do último soldado russo das fronteiras ucranianas de 1991, data da independência do país da então URSS, o que inclui as províncias anexadas por Moscovo em 2002 de Lugansk, Donetsk, Zaporizhia e Kherson, e da Crimeia, anexada em 2014.
Por outro lado, Vladimir Putin diz que só aceita negociar nos seus termos e estes são manter as áreas anexadas, desnazificar a Ucrânia e garantir que este país não entra na NATO.