Moçambique vive uma crise pós-eleitoral há mais de dois meses e o senhor está no centro da questão. Na sua perspectiva qual é a saída?

Para sair da crise, não vejo alternativa senão os três cenários que sempre definimos. Primeiro, nós definimos a verdade eleitoral, que não foi respeitada. Não há outra forma de aferir a verdade eleitoral a não ser a ida à recontagem dos votos, mas não podemos ficar apenas na recontagem dos votos. É importante fazer-se uma auditoria forense, no sentido de trazer muito mais informações do que propriamente números, procedimentos, responsabilidades, que tipo de elícitos, que tipo de crimes cometidos e preparar um dossier que depois possa ser usado pela Procuradoria, que possa ser usado para outros procedimentos anteriores derivados disso.

A segunda hipótese seria a anulação de eleições. Isto me parece que era a visão mais aceite tanto pelos partidos na oposição como por outras instituições, incluindo a Procuradoria-Geral da República, que tinha feito um parecer sobre isso.

Devo dizer que se deve ir à mesa de negociações e discutir as possibilidades, que são imensas, de alternativas de governos de transição que possam permitir reformas profundas ao nível da legislação eleitoral, reforma do Estado, reforma das instituições públicas e também definição clara de alguns compromissos nacionais, sob ponto de vista de algumas agendas económicas que têm um impacto directo na vida da população, como, por exemplo, o que se pode fazer em cinco anos em matéria da habitação e do emprego, que são dois graves problemas que os jovens e as mulheres enfrentam. Eu já avancei com essas ideias em carta enviada ao Presidente da República.

Mantém a ideia de tomada de posse a 15 de Janeiro? Como será feita esta cerimónia fora das instituições do Estado?

A tomada de posse será, sim, feita, e é lógico que será fora das instituições do Estado, caso a tomada de posse do Conselho Constitucional (do Chapo) e não do povo, seja feita. Agora como é que isso vai ser feito? Bom, já tentámos explicar, fizemos um podcast no meu canal, onde aparecemos com várias soluções técnicas de como isso pode ser feito.

Está muito confiante nas suas posições. Conta com algum apoio externo? Que países e organizações o apoiam?

Olha, eu não tenho nenhum apoio externo. O que eu tenho, o que me sustenta bastante é o povo que eu tenho. O apoio que eu peço é um apoio aberto, são contas que eu lanço e as pessoas vão-me pondo lá, quem tem um dólar, quem tem dois dólares, quem tem três dólares, quem tem quatro dólares... esse é o único apoio que eu tenho. Substancial. Não tenho nada institucional, do Estado, coisas assim parecidas, não. E ainda bem que não tenho, porque isso é que me dá confiança, isso é que me dá independência.

Está disposto a integrar um Governo de Unidade e Reconciliação Nacional? Que posição gostaria de assumir?

Olha, eu gostaria de participar na Constituição, se esse for o consenso, de um Governo de Reconciliação. Eu gostaria de participar na Constituição, na elaboração, na estruturação, mas pessoalmente não gostaria de ter alguma posição executiva. Não tenho nenhum interesse nisso.

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