No caso da República Democrática do Congo (RDC), como o Novo Jornal noticiou, foi o embaixador congolês em Moscovo, Ivan Vangu Ngimbi, que avançou com a existência de negociações para montar uma unidade de montagem da Kamaz, que é detida maioritariamente (49%) pelo Estado russo, via Rostec, o conglomerado tecnológico da indústria de Defesa, neste país africano.
Já no que respeita à Etiópia, o anúncio foi feito pelo embaixador russo em Adis Abeba, Evgeny Terekhin, que falou do interesse da indústria de veículos ligeiros, que é liderada pela AvtoVAZ, que produz os famosos Lada, e a GAZ, em começar a produzir veículos neste país da África Oriental.
Este recente interesse da indústria automóvel russa , seja nos veículos ligeiros, seja nos pesados, acontece num momento histórico em que o continente africano está a ser acesamente disputado, tanto na influência político-diplomática como no acesso aos seus infindáveis recursos naturais, pelos grandes blocos, sejam os ocidentais europeus e norte-americanos, sejam russos e chineses.
Nunca como neste período, que acelerou com a eclosão da guerra na Ucrânia, EUA, União Europeia, China e Rússia, avançaram com anúncios de investimentos milionários em África, sendo estes dois exemplos os mais recentes no que respeita a Moscovo, mas nem a União Europeia, os Estados UNidos nem a China têm estado a dormir, como é disso exemplo, os investimentos dos EUA em Angola no capítulo das energias alternativas ou as promessas incluídas no gigantesco projecto da Nova Rota da Seda chinês.
África tem estado no centro das atenções das grandes potências mais que nunca, não só pelo acesso aos recursos inigualáveis, mas também, e cada vez com mais relevo, na questão da influência político-diplomática no contexto da batalha global pela defesa da actual ordem mundial baseada em regras que interessa aos ocidentais, e uma nova ordem multipolar, baseada na cooperação entre iguais, que começa a ser proposta por russos e chineses para substituir a existente, que saiu da II Guerra Mundial e foi desenhada pelos EUA e aliados ocidentais, de onde se destacam FMI, Banco Mundial e a própria ONU como pilares orgânicos.
Outro exemplo têm sido as Cimeira com o continente africano, como aconteceu em Washington, em Dezembro último, na CImeira EUA-África, e vai acontecer em Julho, na cidade russa de São Petersburgo, com a Cimeira Rússia-África, que começou a ser preparada a todo o vapor com um novo "tour" africano pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, já a correr no Quénia.
Kuleba em África
Isto, quando o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmitro Kuleba, está igualmente em África, começando precisamente na Etiópia, seguindo depois para Moçambique, onde pretende combater a "campanha de desinformação" russa.
"Sabemos o quanto a Rússia investe em espalhar propaganda e desinformação em África e nós viemos para contar a história verdadeira" sobre a guerra na Ucrânia, referiu Kuleba aos jornalistas após encontros com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e a ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo.
Isto, quando a propaganda e a desinformação são claramente ferramentas usadas com empenho tanto por russos como por ucranianos, sendo que os media ocidentais estão claramente, nesse capítulo, com escassas excepções, ao serviço da comunicação veiculada por Kiev.
Em África, onde a guerra na Ucrânia é olhada de forma menos apaixonada e com menos empenho em tomar parte, os media tendem a ser mais equidistantes, com, igualmente, excepções.
No entanto, Kuleba disse, citado pela Lusa, em Maputo, que o testemunho sobre o que passa no terreno - para que "os africanos percebam melhor o que se passa na Ucrânia" - é um dos pontos essenciais nas conversas com os líderes africanos neste tour.