Ainda não é desta que o partido de Nelson Mandela seráderrotado nas urnas, mas se as sondagens estiverem certas, e na África do Sul tendem a estar, o histórico partido vai ter menos de 40% dos votos, o que compara com 57% em 2019.
Por detrás desta derrocada eleitoral que se espera venha a ser confirmada nas urnas por cerca de 27 milhões de eleitores, estão anos a fio de crise económica que desalojou a África do Sul do lugar cimeiro das economias africanas, perdendo para a Nigéria, mas que também se traduz na perda de tracção da sua vitalidade social.
Desemprego em valores sem paralelo, inflação recorde, corrupção que comprime a sociedade e a economia, cortes de energia e água mais próximos dos países mais frágeis do continente africano que de uma grande potência como a África do Sul já foi, e ainda é, em comparação regional, são o chão onde tem crescido a insatisfação popular.
E o Presidente e líder do ANC, Cyril Ramaphosa, que procura nesta recta final da campanha, convencer o seu eleitorado de que estes são problemas conjunturais, resultantes de uma mais vasta crise global, parece incapaz de tirar o partido de uma tendência de decrescente importância no país.
Nos relatos feitos pelas grandes agências internacionais a partir de cidades como Joanesburgo, Pretória, Durban ou do Cabo é evidente um traço comum a todos eles, o desespero que cresce como capim na savana no tempo da chuva.
No entanto, e apesar do desnorte dentro do Congresso Nacional Africano, este ainda não é o tempo de John Steenhuisen, da Aliança Democrática, o partido maior entre as forças da oposição, e que é comummente visto como aquele que herdou a estrutura orgânica do antigo regime, sonhar com o "regresso" ao poder.
Nem tão pouco é o tempo dos radicais de esquerda de Julius Malema, os Combatentes pela Liberdade Económica (EFF), sonharem em castigar o ANC pela sua resiliência em avançar com firmeza para as medidas extremas de devolução total do país à comunidade nacional, que dizem ser negra...
E até o recém-criado MK, do ex-Presidente Jacob Zuma, que tal como Julius Malema, é um dissidente do ANC, vai ter de esperar por nova oportunidade, apesar de estar a crescer de forma substancial nas sondagens, para destronar o velho "inimigo" Ramaphosa.
Isto, porque, segundo alguns analistas que podem ser encontrados na imprensa sul-africana, mas pouco citados na imprensa internacional ocidental, que tem cada vez mais uma postura corrosiva para o ANC, especialmente depois de Pretória se ter posicionado ao lado da Rússia e contra Israel nos dois conflitos mais importantes para o mundo em curso, os eleitores ainda não conseguiram abandonar o "pai" da resistência e da vitória sobre o regime racista.
Nem a crise social e económica, que estão em máximos de sempre, parecem ser ainda suficientemente devastadoras para que o país faça a transição do poder do ANC para a oposição que, ou será da Aliança Democrática, o que criaria pelo menos uma forte incandescência social devido às suas "raízes", ou uma hipotética coligação EFF/MK, ou um destes a correr por si.
Todavia, se as sondagens conhecidas apontam para uma votação em torno dos 40% no ANC, o Afrobatometer aponta para a existência de cerca de um terço dos eleitores que ainda não decidiram o seu voto, o que permite de forma evidente olhar para estas eleições como aquelas onde tudo ainda é possível.
Para contrariar a tendência, Ramaphosa tenta convencer os eleitores que apresentam mais dúvidas com a promessa de gigantescos investimentos na educação, sublinhando que é a formação e as qualificações que vão ser os trunfos para travar a descida da África do Sul para um impensável subdesenvolvimento ainda há pouco mais de uma década.
Com esse investimento, o ANC promete derrubar o muro de desemprego que ameaça levar o país para caos, respaldado pela inflação galopante e pelos devastadores índices de desenvolvimento humano, que, apesar de se manterem claramente acima da média africana, estão muito longe do que era a norma na África do Sul até há poucos anos.
Na fotografia estão os quatro lideres dos quatrio maiores partidos da África do Sul, da esquerda para a direita: Cyril Ramaphosa, do ANC, Jacob Zuma, do MK, John Steenhuisen, da Aliança Democrática, e Julius Malema, dos EFF.