A acusação surgiu após o devastador ciclone tropical Chido (ver aqui e aqui) ter atingido e destruído grande parte do território ultramarino francês de Mayotte, porque este foi especialmente mortífero entre os milhares de migrantes pobres que ocupam os "musseques" do arquipélago.

Face a este cenário dantesco, o ministro francês do Interior, Bruno Retaillieau, acusou o Governo das Comores de ter organizado ao longo dos últimos anos uma migração em massa para mayotte com intuito de ocupar o território.

A acusação não surge por acaso, porque o Governo de Moroni tem apontado com especial dureza o caso de Mayotte como um exemplo de uma ocupação colonial de África por um país europeu.

Mayotte tem cerca de 300 mil habitantes em várias ilhas com uma área total de 370 kms2, pouco maior que a Faixa de Gaza, sendo que a maior parte da populaão é constituída por migrantes originários das Comores.

E foi precisamente essa população que contribuiu com a esmagadora maior pate das vítimas do ciclone Chido, que no passado fim de semana atingiu Mayotte e seguiu, depois, para Moçambique, por habitar áreas de extrema pobreza habitacional no arquipélago.

Face a este cenário, Retailleau, que se deslocou ao minúsculo território francês entre Madagáscar e Moçambique, avisou que vai apertar as medidas de contenção da migração ilegal para Mayotte enquanto disparava contra Moroni acusando as Comores de ter fomentado essa mesma migração clandestina com fins de invasão territorial.

Na resposta, o Governo de Moroni, que fica a menos de 100 kms de distância para Mayotte, considerou as acusações do ministro do Interior francês como "muito inapropriadas", naquilo que é uma longa e flamejante troca de acusações devido à migração clandestina e à presença colonial francesa nesta região do sudeste africano.

Mayotte é a região francesa mais pobre, estando não apenas na causa de toda a Europa mas ainda com indicadores medíocres mesmo no contexto africano, que Paris diz ser por causa da presença de milhares de imigrantes ilegais das Comores.

O colonialismo francês em África no século XXI não é apenas sujeito da retórica de Moroni, também o Azerbaijão tem chamado este tema para o palco internacional, criticando fortemente a presença francesa além-mar.

Ainda no ano passado, o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, se posicionou como forte defensor dos povos colonizados por França dizendo que apoia a sua autodeterminação, apelando ao resto do mundo que se posicione contra este "neocolonialismo" de Paris.

Porém, estes disparos contra a França por parte do Presidente Aliyev são resultado da reacção de Baku ao apoio de Paris à Arménia, nas disputas que mantem com o Azerbaijão, nomeadamente no conhecido enclave de Nagorno-Karabak.