Mas esta cerimónia, à qual apenas foram dois Presidentes, o sul-africano Ciryl Ramaphosa, e o guineense Umaro Embaló, tendo angola optado por se fazer representar pelo ministro de Estado e Chefe da Casa Civil da Presidência, Adão de Almeida, tem diversos palcos secundários.
O mais vistoso dos palcos secundários é o instalado nas imediações, como se pode perceber pelo que os media internacionais relatam a partir de Maputo, com milhares de elementos das forças de segurança a garantir que nada perturbará o momento.
Momento que marca mais uma etapa no longo percurso da FRELIMO no poder desde 1975, mas com a violência pós-eleitoral das eleições de 09 de Outubro a fazer detas eleições as mais contestadas de sempre, graças à combatividade demonstrada por Venâncio Mondlane.
Mondlane, que não tem qualquer ligação familiar ao histórico Eduardo Mondlane, tendo escolhido o nome como uma das mais significativas opções para o percurso que acha, ainda, que o levará à Presidência de Moçambique, tendo, para já, conseguido ser a figura incontornável da oposição ao Presidente Chapo.
A parte principal da cerimónia está prevista para cerca das 12:30 locais, menos uma em Luanda, tendo já começado perto das 08:00 com algumas demonstrações culturais e a chegada dos convidados e dos principais "artistas", que são o ainda Presidente Felipe Nyusi, e o seu sucessor, Daniel Chapo.
Chapo chega a este momento sob uma forte contestação popular (ver links em baixo), que deixou um rasto de centenas de mortos e milhares de feridos desde que a Comissão Nacional de Eleições divulgou, a 24 de Outubro, os resultados "oficiais" mas que só viriam a ser confirmados pelo Conselho Constitucional a 23 de Dezembro.
Do lado de lá da barricada de segurança que protege esta cerimónia, também Venâncio Mondlane sofre as agruras da incoerência da política local, depois de Albino Forquilha, o líder do Podemos, o partido que o apoiou, se ter vergado a pressão do Estado e desligado a ligação entre ambos.
De tal modo que Mondlane chega a este momento quase tão fragilizado como Chapo considerando que o "seu" Podemos foi o único partido da oposição que enviou os seus deputados para a abertura do Parlamento, na segunda-feira, 13, tendo a RENAMO e o MDM vincado a sua contestação aos resultados com a ausência.
A fraude eleitoral que Venâncio Mondlane afirma ter-lhe "roubado" a Presidência não saiu do argumentário das forças da oposição, e isso parece estar a sobressair da composição das figuras que dos países que se fizeram representar, sendo notada com saliência redobrada a ausência do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, e de Angola, João Lourenço ou, por exemplo, do ex-Presidente do país, Armando Guebuza.
Isto, depois de tanto Guebuza como Joaquim Chissano, igualmente antigo Presidente, terem feito declarações no sentido de fazer notar algum incómodo com a condução do país e do processo democrático pela sua FRELIMO, o que obriga, de forma a evitar mais sérios protestos, Daniel Chapo a repensar a sua governação.
Alguns analistas sublinham que Chapo está obrigado a encontrar formas de proceder a uma distribuição do poder por figuras ligadas ou apontadas pela oposição, porque «, como nunca sucedera antes, várias entidades de observação eleitoral presentes nas eleições, como a CPLP, admitiram que a lisura não foi o tom mais forte da votação nem a verdade eleitoral a cor mais aguerrida do pano da democracia moçambicana.
Segundo os media locais, apesar de tudo, estão presentes em Maputo, na fortaleza da Praça da Independência, mais de 30 delegações estrangeiras, contando-se entre estas as da África do Sul e da Guiné-Bissau, chefiadas ao mais alto nível pelos Presidentes, respectivamente, Cyril Ramaphosa e Umaro Embaló.
A par destes dois chefes de Estado, estão presentes três vice-Presidentes da Tanzânia, Malawi e Quénia, os primeiro-ministros de Esuatini e Ruanda, e ainda cerca de 10 ministros que ali chegaram oriundos do, entre outros, Egipto, Índia, Zibabué, Portugal ou Angola, sendo uma das ausências mais ruidosas a do Brasil, que apenas enviou o seu embaixador, e de Cabo Verde, que não tem ninguém dentro da "fortaleza" da Praça da Independência.
Recorde-se que Daniel Chapo, 48 anos, ganhou, oficialmente, as eleições de 09 de Outubro com 65,17 por cento dos votos.
O novo Presidente de Moçambique é o antigo Governador de Inhambane, natural de Sofala, formado em Direito, com um único trunfo que deverá usar para mudar a natureza claramente desgastada por desconfianças e dúvidas da democracia moçambicana: é o primeiro Presidente que nasceu já depois da independência do país do colonialismo português.