A grande fuga, e a mais relevante, aconteceu na Cadeia Central de Maputo, de máxima segurança, onde os manifestantes deixaram sair mais de 1500 detidos, quase todos com penas grandes para cumprir, e alguns presos políticos.

Os protestos que voltaram em força às ruas das cidades e vilas moçambicanas após a divulgação dos resultados definitivos das eleições de 09 de Outubro, esta semana, na segunda-feira, 23, pelo Conselho Constitucional não foram uma surpresa, ou algo inesperado, mas há dados novos em relação aos protestos anteriores que estão a gerar redobrada preocupação.

Além das fugas das cadeias de Maputo (na foto abertura das portas da cadeia de máxima segurança de Maputo), incluindo ainda a de Manhiça, no norte da província de Maputo, as imagens que inundam as redes sociais mostram centenas de locais a serem pilhados com a polícia e o exército a observarem e sem intervirem.

Noutros podem-se ver mesmo elementos das forças de segurança a carregarem também bens pilhados de supermercados, armazéns, bombas de gasolina, o que não se viu nos anteripres protestos que começaram logo a 24 de Outubro quando a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) os divulgou atribuindo uma vitória esmagadora da FRELIMO.

O partido que governa Moçambique desde 1975 não conseguiu apenas eleger Daniel Chapo para Presidente da República, como arrebatou uma expressiva maioria absoluta no Parlamento e varreu todas as 11 províncias do país.

A seguir ao anúncio da CNE, seguiu-se um período de relativa acalmia mas, esta segunda-feira, como estava previsto já, o Conselho Constitucional reconfirmou os resultados, com ligeiras alterações que em nada mudaram o cenário de estrondosa vitória da FRELIMO, seguindo-se a também esperada retoma dos protestos.

Há, no entanto, questões que se levantam agora que não se viram antes, porque, apesar de se verem de novo dezenas de mortos e milhares de feridos, nota-se que, embora sem confirmação oficial, apenas nas imagens divulgadas nas redes sociais, um aproximar das forças de segurança aos protestos populares.

Isso, nomeadamente através da inacção perante as pilhagens, incluindo das Forças Armadas, com o abandono das esquadras da Polícia da República de Moçambique (PRM), e com as imagens inquietantes de indivíduos fardados e armados a carregarem bens pilhados...

A resposta a estas situações, que ainda não é grave porque, na medida das suas possibilidades, as famílias já aguardavam este cenário caótico e foram adquirindo bens, alimentos e água, e face à impotência aparente das forças de segurança, nos bairros e nas comunidades mais resguardadas, estão a ser criadas forças de defesa populares para impedir os ataques selvagens às lojas e aos armazéns de bens de consumo.

Este movimento de autodefesa foi fortemente impulsionado pela libertação de milhares de presos das duas cadeias, a de máxima segurança de Maputo, na Matola, e a de Manhiça, sendo expectável que o mesmo venha a suceder noutras regiões.

O próprio comandante da PRM, Bernardino Rafael citado pelos media locais, admitiu que com tantos criminosos à solta espera uma subida em flecha do crime, porque a taxa de capturas dos foragidos é mínima.

Numa conferência de imprensa em Maputo, o comandante da PRM afirmou que os próximos dias vão ser muito complicados com a criminalidade a crescer de forma vertiginosa, porque entre os libertados pelos manifestantes estavam dezenas de terroristas com ligações a organizações de jihadistas.

E, ao que tudo indica, a vaga de protestos não deve parar por aqui porque Venâncio Mondlane, o candidato apoiado pelo Podemos, que ficou em segundo lugar, com cerca de 24% dos votos, contra 65% de Chapo, e tem gerido as vagas de protestos a partir do exterior, mantém o apelo à rebelião popular contra a fraude e roubo eleitoral pela FRELIMO.

De acordo com os media em Moçambique, morreram mais de 100 pessoas desde segunda-feira, cm largas dezenas a serem baleados pelas forças de segurança, sendo que 33 mortos foram resultado directa do processo de fuga das cadeias.