Sabe-se também que há anos que os mais ricos, no âmbito do G20 e do G7, ou mesmo por iniciativa da ONU, têm produzido promessas de compensação de milhares de milhões de dólares, que repetem sempre que ocorre uma Cimeira relevante sobre as alterações climáticas mas que nunca são cumpridas.
Isso, enquanto no Corno de África e no Sahel as secas prolongadas e sucessivas queimam as esperanças de quem espera e na África Austral, além das secas brutais - como se sabe bem o que são no sul de Angola -, as cheias repentinas e imparáveis afogam o destino de quem não sabe nadar neste mar de ilusões com que o ocidente abastado vai entretendo o sul global pobre e vítima.
Mas parece que África está à beira de uma mudança de "chip", provavelmente aproveitando as disputas de gigantes pela construção de uma nova ordem global, como querem China e Rússia, Brasil e Índia, ou pela manutenção da actual, que permite o domínio planetário pelo ocidente liderado pelos EUA, exigindo mais que promessas, acções claras e concretas.
Isso mesmo saiu da recente Cimeira do Clima Africano que teve lugar esta semana em Nairobi, capital do Quénia, onde os lideres africanos, de onde o Presidente João Lourenço esteve ausente, fazendo-se representar pela sua vice-Presidente, Esperança da Costa, finalmente vieram a palco, em uníssono mostrar a sua indignação.
E fizeram-no ao exigir actos concretos de libertação da grilheta da divida, que afoga as economias africanas, como forma de apoiar estes países para lidarem com a tragédia dos efeitos das alterações climáticas em África, continente que apenas produz 4% das emissões de gases com efeito de estufa em todo o mundo mas que absorve bastante mais impacto da poluição que todos os outros continentes.
Na Declaração de Nairobi fica claro o cansaço dos lideres africanos com o circo com que o ocidente abastado e poluente os tem entretido, desde logo, como sublinhou o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, há anos que está por cumprir a promessa de transferir 100 mil milhões USD anualmente para África em apoio concreto à lide dos efeitos das alterações climáticas (ver links em baixo nesta página)
E fica ainda patente a indignação africana com o facto de os países do continente, especialmente da África Subsaariana serem sujeitos ao pagamento de taxas de juro muito kais elevadas, por vezes dez vezes mais robustas, que os países ocidentais, não fazendo qualquer sentido a alusão ao risco de não pagamento quando a história mostra que os países africanos são de boas contas, mesmo que isso reverta em desfavor das suas populações.
Mas não é apenas para a prevenção que os africanos querem dirigir eventuais capacidades financeiras extraordinárias que venham a conseguir com a redução do esforço da divida, querem antes resposta aos já evidentes, pesados e claros efeitos das alterações climáticas nos seus povos, que em nada contribuíram para elas mas que são quem mais sofre com as suas repercussões, sejam estes na forma de chuvas torrenciais, secas prolongadas, pragas de gafanhotos ou lagartas, a redução da pesca...
Se esta posição vai surtir efeitos, só o tempo o dirá, mas alguns dos presentes citados pelos media internacionais lamentam que os países ocidentais continuem a querer dirigir os programas nacionais africanos apenas porque os estão a financiar, numa clara atitude própria de mentalidade "colonial", divergindo da resposta às dificuldades actuais para a prevenção (das queimadas, por exemplo), em contramão com os interesses das populações.
E, segundo alguns destes dirigentes de organismos africanos da sociedade civil, também ouvidos pelos media em Nairobi, vai ser preciso explicar às pessoas em África, que sofrem no terreno as consequências do modo de vida ocidental na Europa ou nos EUA, como poderão aceitar investir em energias renováveis como prioridade quando passam fome por causa do "El Nino" ou "La Nina", ou seja, secas e cheias provocadas pela poluição que África não gera.