O turismo de natureza e caça é uma das principais fontes de receita do Botsuana, país que alberga a maior população do mundo de elefantes selvagens (um terço da população mundial) e uma boa parte deste fluxo de turistas é alimentado pela procura de troféus de caça.
Com a possibilidade, colocada este ano, pelo ministro do Ambiente daquele país europeu, de proibir a importação de troféus de caça, o Presidente do Botsuana, que tem nos seus mais de 130 mil elefantes a vaguear pelas savanas, uma gigantesca fonte de receitas, não perdeu tempo a reagir.
Mokgweetsi Masisi, claramente furioso com a medida em análise pelo Governo alemão, diz agora que se tal suceder, vai enviar 20 mil elefantes para a Alemanha como forma de manter equilibrado o seu habitat.
Isto, porque as medidas de restrição à caça regrada destes animais, no âmbito das campanhas globais de preservação, levou a uma explosão da população de elefantes no Botsuana, o que tem criado sérios problemas no país, seja nas fazendas, seja devido às secas prolongadas.
Os elefantes africanos, o das savanas e o das florestas, duas espécies distintas, estão colocados na parte de cima da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) como em risco de extinção.
Apesar de existir uma relativamente densa população de elefantes da savana (loxodonta africana) no Botsuana, na Namíbia ou ainda no Zimbabué, isso não resulta da boa saúde da espécie no conjunto continental, onde os paquidermes têm desaparecido a um ritmo alucinante.
Por exemplo, em Angola, cuja população era, antes de 1970, superior a 70 mil indivíduos, e ainda alguns milhares que faziam a transumância periódica entre Angola e a Namíbia ou o Botsuana, hoje, esse número está abaixo dos 3 mil, embora a recuperar no pós-guerra.
Mas é no norte do continente que as populações de elefantes estão a desaparecer a maior velocidade, a ponto de já não existirem ou serem quase inexistentes em estado selvagem em países onde ainda há meio século existiam manadas com centenas de animais, como no Mali, Burquina Faso, Níger, Chade, Sudão e Sudão do Sul, RCA...
No último estudo global feito às populações de elefantes da savana africano, mais de 35% do total desapareceu nos últimos 15 anos e se este ritmo se mantiver, em menos de uma década, mais de metade da sua população actual terá desaparecido.
Desde 2007, 160 mil foram abatidos ou deixaram de ter viabilidade de subsistência e pereceram, sendo a caça a razão principal para este Armagedão entre os paquidermes africanos, mas a seca (ver links em baixo nesta página) também surge como responsável.
Num estudo de 2016, Angola surge como um dos países onde a população de elefantes da savana está em maior risco, tal como os Camarões, a Tanzânia e Moçambique.
Este cenário mostra claramente que em países como o Botsuana, o interesse económico na preservação dos elefantes trouxe a esta espécie um novo fôlego, com um aumento ou manutenção de populações que de outra forma seria impossível, porque exige um forte investimento na vigilância contra a caça furtiva, que é a grande causa para a extinção destes gigantes.
O problema actual no Botsuana é que o país, que proibiu os troféus de caça em 2014 mas que, por pressão das comunidades locais de agricultores, em 2019 reintroduziu a permissão, sendo um passo relevante para atrair um grupo restrito mas importante de visitantes.
Todavia, essa permissão de obtenção de troféus de caça só faz sentido se os caçadores puderem levar consigo os prémios pela sua coragem de matar animais com espingardas de grande calibre e alcance e a distâncias... seguras.
Alias, o Presidente Masisi, citado pelo britânico The Guardian, ironiza mesmo, sublinhando que "e muito fácil estar sentado em Berlim (capital alemã) e ter opiniões sobre os assuntos internos do Botsuana, mas a verdade é que nós estamos a pagar o preço da preservação destes animais para o mundo".
O Botsuana precisa, aparentemente, de se ver livre de alguns milhares de animais, e, para isso, tem oferecido manadas inteiras aos países vizinhos, desde logo Angola, que já recebeu oito mil, e Moçambique, para onde seguiram já mais de mil, ocupando territórios onde outrora vaguearem manadas gigantescas destes trombudos.
E se no ocidente o discurso sobre os elefantes no Botsuana não mudar, o Presidente Masisi, como já tinha acontecido antes com Londres, promete ver-se livre de pelo menos 20 mil que serão enviados para as savanas... alemãs.