Esta é uma ideia que está a germinar no continente africano, com vários momentos em que esteve em discussão mas sem que alguma vez tenha sido expressada desta forma crua como acaba de ser feito por Akufo-Addo, que organizou esta semana, em Acr,a um fórum pan-africano de quatro dias, começou na terça-feira, 14, para abordar este complexo e melindroso assunto.

Embora esse caminho tenha já começado a ser traçado com esforços paralelos para o regresso de artefactos históricos e peças de arte roubados no continente ao longo de séculos, uma verdadeira e sólida abordagem à reparação, através de indemnizações, dos danos causados aos povos africanos pelo colonialismo e pela escravatura, nunca foi tentada.

Com este passo, o Presidente do Gana arrisca a ser a ponta de um icebergue que pode ter consequências colossais no relacionamento entre as antigas colónias e as potências coloniais europeias, de onde se destacam, desde logo, a França e o Reino Unido, mas também outras menos expressivas mas igualmente nesta lista como Portugal, a Espanha, a Itália, e a Alemanha.

Para começar, como recorda o site AfricaNews, o líder ganês apresentou na última Assembleia-Geral da ONU uma primeira possibilidade de avançar para um estudo alargado sobre o impacto da exploração colonial do continente africano ao longo de séculos.

Tudo, porque Nana Akufo-Addo entende, no que não está sozinho nesse propósito, que, embora não exista dinheiro no mundo que possa mitigar esse passado colonial escravocrata e as suas consequências, está na hora de "confrontar o mundo com essa realidade que não pode continuar a ser ignorada".

Em Acra, sobre esta questão, Akufo-Addo deixou claro que, mesmo antes de ser dado qualquer passo a exigir quaisquer reparações, "o continente exige um pedido de desculpas das nações europeias" que tiveram um papel colonialista em África ou nas Caraíbas, onde existe o mesmo cenário.

Akufo-Addo disse, na abertura desta Cimeira de lideres, que "chegou o tempo de África, que viu 30 milhões dos seus filhos com vidas destroçadas pela escravatura, exigir reparações", embora seja claro que o assunto é de tal modo melindroso que só um continente unido numa frente sem brechas poderá conseguir sair vencedor de um porcesso desta natureza.

Curiosamente, na batalha mais alargada pela conquista de influência político-diplomática em África, no contexto ainda mais vasto da guerra entre potências por uma nova ordem mundial, que opõe o eixo Pequim-Moscovo-Nova Deli, que pretensamente defende os interesses do sul global, ao eixo Euro-norte-americano, que fala em nome do ocidente alargado, a questão colonial te sido usada como argumento de primeira linha por russos e chineses, que apelam à memória colectiva africana sobre os abusos e excessos cometidos no passado.

Alias, na viragem verificada em países da África Ocidental, como o Mali, o Níger ou o Burkina Faso, que cortaram relações com a antiga potência colonial, a França, virando-se para Moscovo, a questão colonial em sido usada pelos russos repetidamente, sublinhando que a então União Soviética foi fulcral na conquista das independências de dezenas de nações africanas através do apoio aos movimentos de libertação.

Neste mesmo momento em Acra, capital do Gana, o presidente da União Africana, Azali Assoumani, das Comores, depois de considerar, ainda citado pelo AfricaNews, que o colonialismo é a "fase mais negra" do continente, este ainda é a causa principal de muita da desgraça que ensombra os povos africanos.

Os primeiros passos já foram mesmo dados, por exemplo, pela Alemanha, que já pediu desculpa pelo seu passado tenebroso na Namíbia ou na Tanzânia, mas está quase tudo por fazer neste novo "mapa" simbólico em que África tem uma renovada oportunidade de ressurgir das cinzas do colonialismo e da escravatura.

E isso pode ser por várias vias, mas uma delas é seguramente a devolução de parte das riquezas conseguidas pelos países europeus em séculos de colonialismo e escravatura que em muitos casos condenou povos inteiros ao subdesenvolvimento, mesmo depois das independências.

Por exemplo, os meios usados na construção de escolas e infra-estruturas, na industrialização e na criação de malhas rodoviárias e ferroviárias gigantescas na Europa, saíram em grande medida de África, na forma de recursos naturais, onde nada disso existia quando as independências chegaram.