As tropas francesas estão no Burquina Faso ao abrigo de um acordo assinado entre os dois países no âmbito do combate ao jihadismo islâmico radical, mas, com a clara aproximação à Rússia do Governo de transição do capitão Ibrahim Traoré, que chegou ao poder em Setembro de 2022 através de um golpe de Estado, a presença francesa começou a ser insustentável.
O Burquina Faso foi palco de dois golpes militares nos últimos dois anos e isso coincidiu com uma degradação acentuada da qualidade das relações entre Paris e Ouagadougou, com a antiga potência colonial a ser repetidamente acusada de incapacidade militar para lidar com a insurgência jihadista.
Apesar de as coisas, aparentemente, não terem melhorado com a chegada ao país, embora oficiosamente, dos soldados da fortuna russos do Grupo Wagner, porque os ataques dos radicais islâmicos continuam a fustigar as populações do norte do país, a verdade é que os franceses estão há meses a ser fortemente contestados em sucessivas manifestações populares nas ruas da capital, onde pontuam bandeiras russas ao lado da nacional.
Face a esta situação, que ficou ainda mais faiscante quando, há escassas semanas, o Governo de Traoré ordenou a saída das tropas francesas, num contexto diplomaticamente adstringente, com a expulsão do embaixador Luc Hallade, em Dezembro.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, numa primeira fase, mostrou alguma resistência à saída dos seus militares, acusando mesmo a Rússia de estar por detrás desta deterioração das relações com Ouagadougou, dizendo que queria primeiro falar com o Presidente de transição.
Agora, ao que parece ser já um facto, essa conversa não teve lugar ou não correu de feição para o Palácio do Eliseu, em Paris, e a França acaba de anunciar que as suas tropas vão deixar o Burquina Faso até ao final do mês de Fevereiro.
Este é o segundo golpe na FranceAfrique, a denominação da influência geográfica nas suas antigas colónias africanas do Sahel e África Central, depois de o mesmo ter sucedido no Mali, outro país onde ocorreram golpes militares e onde ocorreu uma clara aproximação a Moscovo em detrimento de Paris.
A par do anúncio da saída dos seus 400 militares, o Governo de Paris mandou ainda regressar o seu embaixador em Ouagadougou, embora para consultas, o que, não sendo uma saída permanente, é diplomaticamente uma demonstração de forte descontentamento.