As grandes empresas chinesas, deste as colossais metalúrgicas aos conglomerados de produção automóvel, começam a parar temporariamente a actividade porque a rede energética do país não transporta energia suficiente e o défice ameaça agravar-se de forma severa nos próximos tempos, fazendo com que o efeito da Covid-19 ou do iminente descalabro do Evergrande Group na economia chinesa se pareça com uma brincadeira de crianças.
No vasto leque das empresas mais susceptíveis de serem afectadas por este "crunch" energético na China estão ainda as construtoras, que empregam milhões de pessoas, ou ainda a indústria do aço que a suporta, bem como a outros sectores fulcrais, como a construção naval.
Por detrás desta crise energética chinesa, como estão a divulgar as agências de notícias internacionais, está o défice de fornecimento de carvão, que resulta, em grande medida, do afunilamento das medidas aplicadas para o controlo das emissões de gases com efeito de estufa onde a China lidera globalmente, sendo, ainda assim, o maior poluidor planetário.
E esse esforço que Pequim está a desenvolver para atacar o problema da poluição, que resulta principalmente da queima de combustíveis fósseis, com destaque para o carvão e o petróleo, como se previa, e que ainda se prevê que vai suceder no resto do mundo face à emergência de enfrentar as alterações climáticas no âmbito da transição energética, está agora a criar problemas sérios à segunda maior economia do mundo e maior importador de crude.
Face a estes problemas que se acumulam na China e são agora a principal dor de cabeça do Governo do Presidente Xi Jinping, as grandes casas financeiras mundiais começam a perspectivar problemas para o país, com, por exemplo, a Goldman Sachs e a Nomura a reverem em baixa as projecções para o crescimento económico chinês este ano.
E esse efeito e já visível nas bolsas do país, especialmente as de Xangai e de Hong Kong, especialmente das empresas do sector automóvel e de transportes marítimos.
Este cenário é especialmente importante e pode ganhar dimensões ainda mais dramáticas porque a China é claramente o grande poluidor mundial, apenas suplantado pelos EUA, e tem afirmado no plano internacional o seu empenho para contrariar essa realidade.
E está agora numa situação mais complexa porque não é esperado que volte a aumentar o seu contributo para as emissões poluentes quando, em Novembro o mundo se reúne na Escócia para a Cimeira do Clima 2021, na qual se espera que sejam adoptadas medidas muito mais radicais para salvar a humanidade dos efeitos perversos das alterações climáticas.
Mas há ainda outra dimensão onde esta situação pode impactar o resto do mundo, que é como, perante sérias dificuldades, Pequim vai lidar com questões relacionadas com os seus paceiros em África, nomeadamente no que diz respeito à retoma dos pagamentos das dívidas - é o caso de Angola - suspensos no âmbito das medidas ani-crise da Covid-19 e no contexto do G20 ou bilateral.
Sabe-se que Angola, tal como os restantes países em crise profunda, conseguiram algum alívio com as moratórias salvíficas do G20, terá de retomar os compromissos a partir do final de 2022, mesmo que muitos deles tenham em mente a eventual reestruturação dessa dívida como forma de alongar o balão de oxigénio que, agora, e face a estes problemas, Pequim poderá ter mais dificuldade em admitir.
O outro lado da moeda é igualmente mau porque, com as unidades de produção industrial paralisadas, a China pode diminuir a importação de matérias-primas que são essenciais para as economias de muitos países fragilizados, como é o caso de Angola.