Em Glasgow, na Escócia, técnicos e representantes de dezenas de países têm hoje, 04, em cima da mesa o desafio de passar à acção de forma decidida para que o carvão, que é hoje fonte de quase 40% de toda a electricidade produzida no mundo, passe à história como uma dos mais perigosos emissores de gases com efeito de estufa do qual a Humanidade conseguiu libertar-se.

Pelo menos 40 países, entre estes alguns dos qua mais dependem do carvão, na condição de exportadores ou na situação de consumidores, estão disponíveis para assinar um pacto que gere um progressivo mas definitivo abandono da indústria do carvão.

Mas este é um desafio de tal ordem que o mundo não tem precedentes a que se lhe compare, como ficou bem claro na recente crise energética na China, quando o país encerrou várias centrais a carvão de produção de electricidade, em parte já a seguir uma estratégia de redução das emissões, para se libertar do epiteto do maior poluidor do mundo, e acabou por ter de fechar dezenas de fábricas, especialmente nos sectores automóvel.

Face a esta situação, o Governo de Pequim viu-se na obrigação de reabrir de urgência essas centrais a carvão e manter o programa de construção de outras para garantir que a sua economia não é prejudicada pelas imposições da urgente transição energética dos combustíveis fósseis para as energias limpas.

Mas a questão permanece inalterada e a mudança dos combustíveis poluentes para os verdes é de tal modo urgente que se isso não suceder num curto espaço de tempo, a Humanidade pode deparar-se com a sua impossível continuidade tal como a conhecemos e que o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, com base em estudos que envolveram centenas de cientistas, traduziu com esta frase: "Estamos a cavar a nossa própria sepultura".

Entre os maiores consumidores de carvão estão países como a China, de muito longe o maior utilizador deste poluente, seguindo-se a Índia e os EUA, constando da lista dos 10 maiores consumidores de carvão a Rússia, a Alemanha e o Japão, a seguir, estando depois nesta lista "suja" a Coreia do Sul, a Indonésia, a Austrália, o Vietname, Polónia e Turquia.

O grande problema para que este compromisso possa ter alguma sequência é que os maiores consumidores de carvão como combustível, a China, os EUA e a Índia, recusam-se a assiná-lo, transformando aquilo que poderia ser o início de uma frente decidida de combate ao aquecimento global em mais um falso começo.

Isso mesmo previa a jovem activista sueca, Greta Thunberg, que, com outros milhares de jovens, foi mostrar a sua insatisfação aos líderes mundiais em Glasgow, tendo defendido que nesta COP26, como nas 25 que lhe antecederam, é "tudo bla, bla, bla, bla...".

E, no entanto, sabe-se hoje sem margem para dúvidas que o carvão é o mais robusto contribuinte para as emissões de gases com efeito de estufa e é o maior responsável pelo aquecimento global entre aqueles que podem ser atribuídos à actividade humana, especialmente no pós-revolução industrial a partir de meados do século XVIII.

Apesar de China, EUA e Índia se terem mantido à margem deste compromisso, os 40 signatários do acordo dizem estar empenhados em acabar com os investimentos no sector do carvão tanto nos respectivos países como em projectos além-fronteiras, sejam investimentos públicos ou privados.

Segundo o Governo britânico, anfitrião desta 26ª COP, os 40 países, e as dezenas de organismos internacionais, incluindo grandes bancos, que firmaram este compromisso, fizeram-no ainda com a aposta em procurar influenciar de forma decisiva que o carvão desapareça das grandes economias até 2030 e nos países mais pobres em 2040.

Esta COP, tal como as restantes que a antecederam após o Acordo de Paris, em 2015, tem como azimute maestro a criação de condições para que o Planeta Terra, já claramente em estado febril, não aqueça além dos 1,5 graus celsius até ao fim do século, o que exige, nas condições actuais, um esforço colossal até 2050, meta para a meta "Emissões Zero", e até 2030 para que se verifique que os objectivos vão ser conseguidos.

Apesar de serem múltiplos os estudos internacionais, alguns realizados sob a égide das Nações Unidos, e com o cunho de alguns dos mais respeitados cientistas climáticos do mundo, que apontam para a urgência da acção face a irrefutabilidade das provas de que é a mão humana que está por detrás de grande parte do aquecimento global, a sucessão de secas severas prolongadas, os intermináveis fogos florestais na Europa e nos EUA ou na Austrália, as queimadas gigantescas nas savanas e florestas africanas, as cheias, os furacões destruidores, as cheias como nunca se viu... parecem não estar a ser suficientes para que acabe o "bla, bla, bla, bla...".