A Comissão Europeia vai emitir hoje a sua recomendação sobre a candidatura da Ucrânia à adesão à União Europeia, sendo esperado que se manifeste favorável à concessão do estatuto oficial de país candidato.
O parecer do executivo comunitário vai ser dado na reunião semanal do colégio de comissários, e deverá ser analisado pelos chefes de Estado e de Governo dos 27 já na próxima semana, num Conselho Europeu agendado para 23 e 24 de Junho, em Bruxelas, escrevem as agências.
"Este estatuto será acompanhado de um roteiro e terá também em consideração a situação nos Balcãs e na vizinhança, em particular na Moldova", segundo Macron, citado pela Reuters.
Mas há países a expressar reservas, por isso, existe nos 27 quem defenda que a solução poderá passar por o Conselho Europeu da próxima semana concordar com a concessão do estatuto de candidato à Ucrânia mas sob condições, eventualmente reforçando o actual Acordo de Associação, para permitir uma integração progressiva dos ucranianos em alguns domínios de política comunitária, como energia, defesa e mercado interno, sem esperar pelo final do processo de adesão.
Ao fim da noite, os Estados Unidos e a União Europeia pediram à Rússia que aceite rapidamente a abertura dos portos ucranianos para a exportação dos milhões de toneladas de cereais armazenados, a fim de permitir aliviar a crise alimentar global.
O secretário de Agricultura norte-americano, Tom Vilsack, disse em conferência de imprensa na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, que Moscovo "deve agir imediatamente para abrir esses portos e acabar com esta guerra".
"É uma coisa séria, não devemos usar a comida como arma", defendeu.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que está aberto a conversar com o Presidente russo, Vladimir Putin, como parte dos esforços para chegar a um acordo para retirar grãos do porto ucraniano de Odesa, mas que vê poucas hipóteses de um acordo.
"Temos de conversar com a Rússia sobre segurança alimentar e isso pode justificar entrar em contacto diretamente com o secretário-geral da ONU para obter grãos de Odesa", afirmou Macron, que assumiu também não acreditar "muito nesse caminho", porque já conversou há algumas semanas com o presidente Putin, "mas ele não quis aceitar uma resolução da ONU sobre esse assunto."
A Rússia atribui a crise alimentar às sanções ocidentais, que "prejudicam as suas próprias exportações de grãos", e os portos da Ucrânia não podem ser abertos por causa das minas.
Recorde-se que Macron, Scholz e Draghi chegaram a Kiev dias antes de uma das mais importantes e esperadas reuniões do Conselho Europeu, que já não esconde ter de lidar com uma mudança na forma como os europeus estão a olhar para este conflito, pressionado claramente para que seja encontrada uma solução e que qualquer acordo por esta altura terá de consubstanciar uma perda de territórios para a Ucrânia, faltando saber o que podem os europeus desenbolsar para KIev de forma a que isso possa ser encarado e negociado.
Europeus mudam de linha forçados pelo custo de vida
E a provar os receios dos três líderes europeus está a primeira sondagem feita aos europeus sobre a forma como olham para esta guerra que revela uma clara mudança de posição, deixando um apoo quase generalizado para serem agora críticos e mais focados nos efeitos do conflito na sua qualidade de vida em processo de degeneração galopante, especialmente por causa do gigantesco aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis.
A generalidade das populações está a substituir aquilo que nos últimos meses foi um apoio claro e inequívoco à Ucrânia por um posicionamento mais pragmático e determinado pelos efeitos devastadores do conflito no seu bem-estar social, que diminui dia para dia sob os "bombardeamentos" da inflação, as "rajadas" de desemprego e as "explosões" de preços nos combustíveis e na falta de bens nas prateleiras dos supermercados que é já visível a olho nu.
Isso mesmo é revelado numa sondagem que envolveu 10 países europeus realizada pelo Conselho Europeu para as Relações Internacionais (ECFR, na sigla em inglês)), onde fica claro a mudança de pensamento sobre este conflito, que está agora mais focado no custo de vida que no apoio aos ucranianos, embora uma larga percentagem se mantenha ainda coerente com essa avassaladora convicção inicial.
Como se pode ler no documento divulgado pelo ECFR, a união dos europeus sobre este tema está agora claramente fragmentada e o seu foco a mudar de forma acelerada do campo de batalha para a bolsa, com uma maioria clara a querer agora uma solução rápida para o fim da guerra quando ainda há alguma semanas essa maioria estava do lado do que queriam ver a Rússia severamente punida pela sua opção de invadir o país vizinho.
Embora, apesar das alterações, ser ainda alta a percentagem dos que apoiam a Ucrânia, a mudança para o lado do que já não suportam a guerra e as suas consequências na qualidade de vida, o impacto no seu bem-estar social, é por demais evidente nos 10 países onde esta sondagem foi conduzida: França, Finlândia, Portugal, Alemanha, Itália, Polónia, Roménia, Espanha, Suécia e Reino Unido.
Um dos autores do estudo, Mark Leonard, admite mesmo que se os europeus surpreenderam Moscovo com o seu apoio à Ucrânia, os problemas resultantes da guerra só agora estão a chegar de forma pesada e muito vai depender da capacidade dos Governos europeus conseguirem o apoio dos seus povos para as medidas políticas severas que vão ser obrigados a considerar e adoptar.
E uma das mais pesadas conclusões deste estudo é que a maioria dos europeus actualmente já só quer ver a guerra acabar, a sua vida voltar ao normal, mesmo que a Ucrânia tenha de conceder territórios aos russos.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, daRússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 6 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.