O Governador de Kharkiv, Oleh Sinegubov, recorreu às redes sociais para anunciar que as forças ucranianas rechaçaram o avanço das forças russas na cidade, a segunda maior do país, a escassos 40 km"s da fronteira da Rússia, no nordeste, estando já na linha de fronteira com o país vizinho que invadiu a Ucrânia a 24 de Fevereiro.
Sinegubov não se pronunciou sobre a possibilidade de atravessarem essa demarcação para fazer pressão sobre as forças russas e retirar meios da frente de combate no Donbass para proteger esta região russa, o que seria não apenas um revés para Moscovo como uma clara mudança no mapa global desta guerra, passando o agressor a agredido e o invasor a invadido.
Se as forças ucranianas vão dar esse passo, não se sabia ainda a meio da manhã desta segunda-feira, 16, até porque há igualmente especialistas em estratégia militar, como o major-general Carlos Branco, com larga experiência ao serviço da NATO na guerra do Balcãs, antiga Jugoslávia, que não partilham da mesma opinião.
Este oficial do Exército português aponta antes como razão para a diluição da presença das forças russas em Kharkiv um reposicionamento das tropas nos objectivos estruturais definidos pelos comandantes russos neste conflito e que passam por conquistar toda a geografia do Donbass, território constituído pelas repúblicas independentistas russófonas de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia com fronteira física com o extremo oeste da Rússia.
Quando este conflito, que começou com o avanço das forças russas sobre a Ucrânia a 24 de Fevereiro, depois de meses de ameaça face à presença de dezenas de milhares de homens e equipamento em quantidade só admissível face a uma iminente acção militar junto à fronteira com a Ucrânia, caminha a passos largos para o seu 3º mês, quando se esperava que o poderio russo, incomparavelmente superior ao ucraniano, levasse a um desfecho muito mais célere, eis que os combates se prolongam, a indefinição sobre como vai acabar esta guerra é cada vez mais cerrada e começam mesmo a ouvir-se com mais decibéis as vozes que apontam para uma vitória militar de Kiev, nem que seja porque as forças do país conseguiram impedir uma vitória clara e inequívoca de Moscovo.
Mas o que deu esta força às forças ucranianas, que, apesar de contarem com com mais de 300 mil homens em armas, dispunham de muito menos meios e equipamentos de combate? A resposta, inicialmente menos óbvia, hoje é clara: é o apoio de norte-americanos e dos seus aliados da NATO que permitiu o agigantamento da "pequena" Ucrânia, através da remessa para o país de moderno equipamento militar, no começo apenas defensivo, como era os mísseis anti-carro, Javelin e equiparados, e anti-aéreos, Stinger e equiparados, mas depois já com a entrega de material ofensivo, incluindo carros de combate, artilharia pesada e até helicópteros, além de quantidades gigantescas de dinheiro, como os 40 mil milhões aprovados na semana passada pelo Presidente dos EUA, Joe Biden, que corresponde quase ao orçamento anual em Defesa de Israel e Turquia juntos ou quase ao orçamento de um país como a Alemanha.
E este apoio não vai parar por aqui, o que só podem ser más notícias para a Rússia, porque a NATO, a organização militar criada em 1949 para agregar EUA e Canadá aos países da Europa ocidental de forma a travar a expansão da União Soviética no pós II Guerra Mundial e que, depois do colapso do gigante comunista em 1990, manteve a Rússia como o "inimigo" declarado, como o confirmam os seus estatutos, veio clarificar que o apoio empenhado e ilimitado a Kiev só parará com uma vitória ucraniana sobre as forças do Kremlin.
Com isto, como repetem à exaustão os especialistas militares, entre o firme e seguro apoio da NATO/EUA e da União Europeia - a presidente da Comissão Europeia, Ursula Leyen, já veio dizer que esta guerra só pode terminar com a derrota de Moscovo - à Ucrânia, e a certeza de que o Kremlin não pode aceitar a humilhação de uma derrota face ao vizinho, este conflito, no mínimo, tem tudo para se prolongar indefinidamente e muito para evoluir para uma guerra total, ou a III Guerra Mundial, que começara no dia em que as forças russas trocarem tiros com forças de qualquer um dos países da NATO.
Face a este cenário, hipotético, mas que cada vez mais especialistas militares admitem como estando mais perto que nunca de evoluir para uma catástrofe atómica, inclusive que na crise dos mísseis de Cuba, em 1963, quando a URSS de Krutshev e os EUA de Kennedy conseguiram evitar uma guerra nuclear no "último minuto", tanto o Presidente Joe Biden como o Presidente Vladimir Putin deixaram claro que um confronto entre a Federação Russa e os EUA rapidamente chegaria ao armagedão nuclear.
Para piorar a situação no terreno, se esta guerra teve como detonador principal a exigência de Moscovo de que a Ucrânia não aderisse à NATO, por considerar que esse passo colocaria em causa a sua segurança vital, eis que a Finlândia, que aumentará em 1.300 quilómetros a fronteira da NATO com a Rússia, e a Suécia, anunciam que vão pedir a adesão à Aliança Atlântica.
O Kremlin já vez saber que esse passo terá consequências técnico-militares e políticas, mas não disse ainda quais. Entretanto, este problema poderá estar a ser amaciado pela Turquia, que já veio dizer que não aceita a adesão dos dois países escandinavos, por questões de política interna, o que pode deixar este processo em stand by porque a sua entrada, estatutariamente, só acontece se for aceite por unanimidade.
Com sinais claros vindos do campo de batalha de que os russos estão a enfrentar condições de resistência e dificuldades de avançar no terreno, os efeitos colaterais desta guerra que terá, no mínimo, mais uns meses largos pela frente, são já considerados outra frente de combate, só esta global, como se os efeitos secundários desta guerra se tivessem mundializado, desde logo na crescente insegurança alimentar em regiões menos favorecidas do mundo, desde logo em África, onde só na parte oriental do continente mais 20 milhões de pessoas passaram à condição de em risco de morte por fome, mas também na Ásia e em partes da América Latina.
Nos países mais desenvolvidos, o problema é o aumento do custo de vida graças a uma inflação galopante e a bater recordes de décadas, com os alimentos e os combustíveis cada vez mais caros, com protestos populares a surgirem diariamente, e com riscos políticos que podem ser melindrosos, como foi o caso da derrota pesada do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson - o maior defensor da necessidade de apoiar Kiev até à derrota de Moscovo -, em eleições locais, com os inquéritos de opinião a confirmarem que foi o aumento do custo de vida que levou ao seu "castigo" nas urnas, ou como na Alemanha, onde em eleições intercalares na Renânia do Norte-Vestfália, a maior região autónoma do maior pais europeu, o partido do chanceler Olaf Scholz, foi derrotado com severidade, sendo as razões da escolha dos eleitores igualmente o descontentamento com os efeitos da guerra na sua qualidade de vida.
E sabe-se hoje que com o passar dos dias, com o avolumar das consequências da guerra, como o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, já advertiu, em continentes como o africano é de esperar que as dificuldades sociais acelerem ou provoquem instabilidade social que, or sua vez, levará a golpes de Estado em vários países, ou, pelo menos, forte instabilidade político-militar.
Secretário-geral da NATO diz que Kiev "pode ganhar" a guerra
Entretanto, como noticia a Lusa, secretário-geral da NATO defendeu hoje que a Ucrânia "pode ganhar" a guerra contra a Rússia e avisou que a candidatura da Finlândia e da Suécia à Aliança prova que "uma agressão não compensa"
Jens Stoltenberg defendeu hoje que a Ucrânia "pode ganhar" a guerra contra a Rússia e avisou que a candidatura da Finlândia e da Suécia à Aliança prova que "uma agressão não compensa".
Este respons+avel, que falava à margem de uma reunião informal de ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO em Berlim, a principal ofensiva russa, na região oriental de Donbass, "está em ponto morto" e a Rússia "não está a atingir os seus objectivos estratégicos".
Por isso, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) mostrou-se confiante de que Kiev "pode ganhar" a guerra.
Sobre a candidatura anunciada da Finlândia e da Suécia à Aliança Atlântica, Stoltenberg disse que a entrada dos dois países seria "um momento histórico".
"Reforçaria a segurança comum e demonstraria que a porta da NATO está aberta e que uma agressão não compensa", afirmou.
Rússia recusa negociar libertação de soldados da siderúrgica de Azovstal
A situação em Mariupol, onde um punhado de resistentes ucranianos do Batalhão Azov, de génese neo-nazi permanece entrincheirado na Azovstal, uma gigantesca unidade metalo-mecânica e siderurgia, é um dos focos mediáticos mais importantes deste conflito, porque existe a possibilidade já admitida por alguns analistas de que ali possam estar a ser protegidos "segredos" de interesse estratégico tanto para russos como para os países da NATO.
Por isso, como noticiou a Lusa, o negociador russo diz que "fazer dos criminosos de guerra Azov o objecto de negociações políticas é uma blasfémia em relação à história de 1941", quando a Alemanha nazi invadiu a União Soviética.
A Rússia recusou negociar a eventual libertação dos combatentes ucranianos do batalhão nacionalista Azov, que estão entrincheirados há várias semanas na siderurgia de Azovstal, aos quais designou de "criminosos de guerra".
"Fazer dos criminosos de guerra Azov o objecto de negociações políticas é uma blasfémia em relação à história de 1941", quando a Alemanha nazi invadiu a União Soviética, disse este domingo o principal negociador da Rússia, Vladimir Medinski, no Telegram, citado pela agência Efe.
Medinski considerou errado e inadequado comparar Azovstal com a resistência dos defensores da fortaleza de Brest (Bielorrússia) face ao avanço das tropas de Hitler.
O negociador russo questionou se aqueles soldados soviéticos usaram escudos humanos, atiraram em civis pelas costas, trocaram civis por comida e medicamentos ou concordaram em ser retirados para outros países com a promessa de não lutar contra o inimigo.
Ao falar de crimes de guerra, Medinski refere-se ao "genocídio", como o intitula Moscovo, cometido nos últimos oito anos pelo Exército ucraniano contra a população civil de Donbas.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao anunciar a "operação militar especial" russa na Ucrânia, usou a "desnazificação" do país como um dos argumentos, chamando os neonazis de "bastardos".
A Turquia mostrou-se disponível para acolher os combatentes que se encontram na empresa siderúrgica do porto de Mariupol (mar de Azov), entre os quais haverá mais de mil feridos.
Um grupo de familiares dos combatentes, principalmente mulheres, viajou para a Turquia para se encontrar com o Presidente Recep Tayyip Erdogan, cujo país já sediou negociações entre a Kiev e Moscovo.
Esta semana os ex-presidentes da Ucrânia Leonid Kuchma, Victor Yúschenko e Petro Poroshenko apelaram à comunidade internacional para salvar aqueles que ainda resistem na fábrica de Azovstal, onde ainda existe um grupo de civis, disseram.
Numa carta, os antigos chefes de Estado pedem ajuda, "com todos os recursos diplomáticos disponíveis", para as autoridades de Kiev salvarem as vidas de civis e soldados ucranianos que "a Rússia está a tentar eliminar por ordem do [Presidente russo Vladimir] Putin, com métodos bárbaros no complexo de Azovstal".
Embora Putin tenha ordenado a suspensão do ataque à unidade, o bombardeamento é intenso, segundo as autoridades ucranianas.
De acordo com um vereador de Mariupol relatado no Telegram, soldados russos usaram bombas de fósforo branco na luta pelo controlo da cidade na região de Donetsk.
O reforço da capacidade de combate de Moscovo
Sem que as autoridades militares russas o tenham desmentido, para a frente de combate, o Kremlin está, segundo serviços secretis ocidentais, a enviar largas dezenas de milhares de homens das unidades militares do centro e do oriente da Rússia, de forma a reforçar o poderio militar russo no Donbass, onde decorre aquela que os dois lados já admitiram que é a batalha decisiva, ou batalhas, desta guerra e que os especialistas miliares definem como sendo a expulsão das forças ucranianas das repúblicas independentistas de Donetsk e Lugansk, e a ligação terrestre entre o Donbass e a Península da Crimeia, o que daria a Moscovo o controlo sobre todo o Mar de Azov e uma boa parte do Mar Negro.
Segundo as informações disponíveis, e dependendo da fontes, do lado russo podem estar entre 120 e 160 mil militares em avanços lentos nas frentes de combate, com reforços permanentes vindo da Rússia, procurando, tanto de sul, como de Norte, avançar e cercar as entre 80 e 100 mil tropas ucranianas, que se concentram na frente do Donbass.
O foco das forças russas é não só expulsar os ucranianos das "suas" repúblicas do Donbass (Donetsk e Lugansk) como garantir que cortam a capacidade de os aliados de Kiev conseguirem fazer chegar o material militar, desde os mísseis anti-aéreos e anti-carro, Javelin e Stinger, às viaturas blindadas enviadas pelos EUA e aliados ocidentais, para o que estão a empregar centenas de mísseis de longo, médio e curto alcance, mas com forte precisão, como os M-54 Kalibr, que estão a ser disparados dos navios estacionados no Mar Negro e da Crimeia, e os 9K-720 Iskander, de menor alcance mas mais manobráveis porque podem ser deslocados em viaturas de rodas nas imediações do campo de batalha.
Com este armamento sofisticado, os russos estão a visar vias férreas, pontes e aeródromos ou mesmo aeroportos, como sucedeu na passada semana, em Odessa, onde o aeroporto desta que é uma das maiores cidades do país, foi parcialmente destruído porque ali estava armazenada grande quantidade de equipamento militar enviado do exterior pelos países da NATO.
Já os ucranianos, sem capacidade de acção aérea, procuram, através dos meios sofisticados que estão a receber dos seus aliados, com realce para os mísseis antiaéreo e anticarro Stinger e Javelin, cuja eficácia tem forçado as colunas russas a refrear os avanços, e que podem ser o factor de equilíbrio neste conflito, não só atrasar o avanço russo para os seus objectivos como ganhar tempo de forma a desgastar as forças russas a ponto de conseguir que o Kremlin aceite negociar de forma mais vantajosa para Kiev.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 4,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.