A proibição por parte da Bulgária, do Montenegro e da Macedónia do Norte a Sergei Lavrov para usar os seus espaços aéreos na deslocação que estava prevista a Belgrado, na Sérvia, deixou o Kremlin visivelmente incomodado e Lavrov (ver links em baixo nesta página) disse mesmo que aqueles três países impediram um Estado soberano de desenvolver a sua actividade diplomática normal, e esta saída abrupta de Vassily Nebenzia da sala do Conselho de Segurança (CS) da ONU é mais uma uma pedra colocada na engrenagem das relações de Moscovo com o resto do mundo.

Vassily Nebenzia deixou a sala do CS da ONU quando Charles Michel (na foto), que é um dos lideres europeus mais ruidosos na defesa da ideia de provocar uma derrota militar da Rússia no campo de batalha na guerra na Ucrânia, custe o que custar, acusava as forças russas que entraram na Ucrânia a 24 de Fevereiro, de crimes de guerra muito graves e de Moscovo ser o único responsável pela crise alimentar mundial ao proibir os cereais de saírem da Ucrânia, cuja falta está a gerar forte preocupação com o alastrar da fome severa em várias partes de África.

Michel, quando Vassily Nebenzia deixava a sala, disse-lhe, em microfone aberto, que era melhor ele sair da sala do que estar a ouvir a verdade.

Sobre a questão da ausência de cereais ucranianos e russos no mercado, devido à guerra, é facto que a frota naval russa no Mar Negro ocupa todas as rotas marítimas e vários portos ucranianos estão sob ocupação russa, mas é igualmente verdade que tanto o Governo ucraniano como o russo anunciaram que iriam travar as suas exportações de cereais por razões de segurança nacional face ao decorrer de uma guerra.

Actualmente, o Presidente russo, Vladimir Putin, já veio dizer que a saída de navios cerealíferos dos portos ucranianos do Mar Negro está apenas a ser impedida pela presença de milhares de minas navais colocadas pelas forças ucranianas e que decorrem negociações com a Turquia para proceder à limpeza destas de forma a tornar viável a circulação de embarcações.

Mas o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, acusou de forma inequívoca, a Rússia de estar a impedir a saída dos cereais e de estar a "roubar o trigo ucraniano" para o vender posteriormente, sublinhando existirem evidências desse comportamento criminoso.

No que diz respeito aos crimes de guerra, Charles Michel foi abrasivo nas acusações a Moscovo, dizendo que as suas forças cometeram milhares de crises graves no contexto de guerra, dando como exemplo a situação de Bucha, onde decorrem investigaç~es internacionais para averiguar as alegações de Kiev, que apontam para a morte propositada de dezenas de civis pelos militares russos.

Sobre este episódio de Bucha, a Rússia diz que se tratou de um embuste e que os crimes de guerra que estão a ser anunciados aos milhares pela procuradora ucraniana que os investiga, Lyudmila Denisova, carecem de provas porque, advertem os russo, "nem uma prova foi apresentada, apenas alegações infundamentadas".

Todavia, os media ocidentais têm divulgado vastas informações fornecidas por serviços secretos dos EUA e do Reino Unido que apontam para a confirmação de alguns dos crimes apontados por Lyudmila Denisova, o que Moscovo também coloca na condição de propaganda anti-Rússia gerada a partir dos governos ocidentais envolvidos no apoio militar a Kiev.

O Kremlin insiste, porém, que as suas tropas não estão a atingir civis e que os avanços lentos das suas unidades de combate provam isso mesmo, porque estão a ser feitos com o cuidado de não atingir populações civis, garantindo que os ataques visam sempre ou combatentes ucranianos e ou depósitos de armas ou ainda infra-estruturas que servem ao transporte do armamento enviado pelos países da NATO, liderados pelos EUA.

Putin sobre as crises no ocidente

Numa outra frente de "combate", Putin acusou os países ocidentais de se terem espalhado ao comprido com a desajustada estratégia de combate aos efeitos da pandemia, e agora estão a usar a questão ucraniana para justificar a sua perigosa inflação com a qual não sabem lidar.

Disse ainda que também as crises energética e alimentar que estão a ser experienciadas pelo ocidente em nada são resultado da sua acção na Ucrânia mas sim das políticas erradas e erráticas conduzidas pela União Europeia e EUA desde há uns anos a esta parte, especialmente durante o período pandémico.

Explicando, ainda na entrevista ao canal estatal russo, o chefe do Kremlin adiantou que a actual situação é resultado directo da injecção de grandes quantidades de dinheiro na economia pelos EUA, o que terá conduzido à situação dramática no mercado global da alimentação, referindo-se em especial aos cereais que escasseiam por todo o mundo mas especialmente em África, alegando que os preços subiram fortemente mesmo antes do início da sua operação militar especial.

E apontou o dedo à cegueira da União Europeia e da Comissão Europeia nas suas políticas para o sector energético, onde sobressaem as sanções ao crude russo, que deverá ficar reduzido em 90% até ao final do ano nas importações europeias.

Estas sanções, no entanto, são uma das frentes escolhidas pelos países ocidentais, além do apoio militar e financeiro, para punirem Moscovo pela invasão da Ucrânia que dizem ser totalmente injustificada e criminosa.

A emergência americana

Entretanto, o Presidente dos EUA, Joe Biden, mandou publicar uma declaração de emergência para evitar falhas no fornecimento de energia eléctrica no país devido às consequências da guerra na Ucrânia.

Na declaração onde Joe Biden acusa a Rússia pela situação que se vive no seu país, é explicado que esta medida visa facilitar a importação de equipamentos da Ásia para as unidades nacionais de produção de energia solar.

Esta ordem Presidencial cria um espaço temporal onde são levantadas as taxas de importação de células solares como forma de aumentar a resposta solar ao défice de energia que o país atravessa e que, no Inverno, deverá ser ainda mais grave.

Os dois principais motivos para as disrupções que os EUA estão a observar no sistema de distribuição de energia eléctrica são a questão da guerra na Ucrânia e os fenómenos meteorológicos extremos devido às alterações climáticas.

Porém, recorde-se, também por determinação de Biden, os EUA proibiram totalmente as importações de carvão, gás e crude russos.

Há ainda, segundo alguns especialistas no sector, a questão das centrais nucleares que são alimentadas em grande medida por urânio fornecido pela Rússia e não se sabe se Moscovo interrompeu ou não o envio deste material radioactivo para os EUA, o país que mais alimenta em verbas e material militar o esforço de guerra da Ucrânia.

Depois do início da invasão russa, Há 3 meses, os EUA são o 3º país a avançar com medidas radicais para esbater os efeitos secundários do conflito no leste europeu, depois de a Alemanha ter aconselhado os seus cidadãos a manter reservas alimentares para 10 dias e o Governo da Polónia ter dado autorização extraordinária aos seus cidadãos para se abastecerem de madeira em todas as florestas do país como forma de garantir reservas para o aquecimento no tempo mais frio.

Entretanto, na frente de batalha, as forças russas...

... estão praticamente a dominar por completo a cidade estratégica de Severodonetsk, o último reduto da resistência ucraniana na República Popular de Lugansk, cuja independência é apenas reconhecida por Moscovo, tal como a de Donetsk, no Donbass, leste ucraniano, com fronteira com a Rússia.

Estes avanços territoriais russos são já reconhecidos pelo Presidente ucraniano, que garante não ser ainda a derrota da resistência no Donbass mas admite que se trata de uma situação extremamente difícil.

E isso parece ser á evidente com a tomada desta cidade de Severrodonetsk que é o que sustem ainda menos de 5% do território de Lugansk por tomar pelas unidades de combate russas e das mílicias independentistas, o que, segundo a BBC, resultou do sucesso russo na penetração das linhas de defesa urbanas montadas pelas forças ucranianas.

O reforço da capacidade de combate de Moscovo

Sem que as autoridades militares russas o tenham desmentido, para a frente de combate, o Kremlin está a enviar largas dezenas de milhares de homens das unidades militares do centro e do oriente da Rússia, de forma a reforçar o poderio militar russo no Donbass, onde decorre aquela que os dois lados já admitiram que é a batalha decisiva, ou batalhas, desta guerra e que os especialistas miliares definem como sendo a expulsão das forças ucranianas das repúblicas independentistas de Donetsk e Lugansk, e a ligação terrestre entre o Donbass e a Península da Crimeia, o que daria a Moscovo o controlo sobre todo o Mar de Azov e uma boa parte do Mar Negro.

Segundo as informações disponíveis, e dependendo das fontes, do lado russo podem estar entre 120 e 160 mil militares em avanços lentos nas frentes de combate, com reforços permanentes vindo da Rússia, procurando, tanto de sul, como de Norte, avançar e cercar as entre 80 e 100 mil tropas ucranianas, que se concentram na frente do Donbass.

O foco das forças russas é não só expulsar os ucranianos das "suas" repúblicas do Donbass (Donetsk e Lugansk) como garantir que cortam a capacidade de os aliados de Kiev conseguirem fazer chegar o material militar, desde os mísseis anti-aéreos e anti-carro, Javelin e Stinger, às viaturas blindadas enviadas pelos EUA e aliados ocidentais, para o que estão a empregar centenas de mísseis de longo, médio e curto alcance, mas com forte precisão, como os M-54 Kalibr, que estão a ser disparados dos navios estacionados no Mar Negro e da Crimeia, e os 9K-720 Iskander, de menor alcance mas mais manobráveis porque podem ser deslocados em viaturas de rodas nas imediações do campo de batalha.

Com este armamento sofisticado, os russos estão a visar vias férreas, pontes e aeródromos ou mesmo aeroportos, como sucedeu na passada semana, em Odessa, onde o aeroporto desta que é uma das maiores cidades do país, foi parcialmente destruído porque ali estava armazenada grande quantidade de equipamento militar enviado do exterior pelos países da NATO.

Já os ucranianos, sem capacidade de acção aérea, procuram, através dos meios sofisticados que estão a receber dos seus aliados, com realce para os mísseis antiaéreo e anticarro Stinger e Javelin, cuja eficácia tem forçado as colunas russas a refrear os avanços, e que podem ser o factor de equilíbrio neste conflito, não só atrasar o avanço russo para os seus objectivos como ganhar tempo de forma a desgastar as forças russas a ponto de conseguir que o Kremlin aceite negociar de forma mais vantajosa para Kiev.

Os ucranianos estão, porém, a ser fornecidos diariamente também por artilharia pesada e carros de combate que permitem às suas unidades maior resistência ao avanço russo e, por vezes, recuperar território que estava já nas mãos das forças de Moscovo.

Nos últimos dias, as unidades de combate ucranianas retomaram a cidade de Kahrkiv, a apenas 50 kms da Rússia, no norte da Ucrânia, chegando mesmo à fronteira do país vizinho. No entanto, esta reconquista ucraniana pode não ter grande valor militar porque as forças russas, segundo alguns analistas, só permaneciam na cidade como forma de fixar forças ucranianas mantendo-as afastadas do foco principal da guerra, que é a região do Donbass.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.

Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.

A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da

Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...

Milhares de mortos e feridos e mais de 4,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.