O Governo nigeriano foi o primeiro a reagir ao tornar público em comunicado o seu "desagrado" por cidadãos nigerianos terem sido impedidos de entrar nos abrigos, especialmente nalguns construídos no tempo da União Soviética, que são mais pequenos, e ainda nos comboios para saírem das cidades mais posicionadas na linha do avanço das forças russas.

Como se pode verificar nas redes sociais, onde correm depoimentos de cidadãos de diversos países africanos, havendo mesmo entre estes alguns angolanos, a razão para estas atitudes são, quase sempre, alicerçadas na cor da pele.

Abuja, no documento que está a ser citado pelas agências de notícias, reage exigindo "tratamento com dignidade" aos cidadãos africanos, incluindo nos países vizinhos da Ucrânia, como a Roménia ou a Polónia, em cujas fronteiras estas dificuldades também estão a ser sentidas, particularmente devido à inexistência de vistos de entrada mas com um claro alheamento do facto de se tratar de refugiados em fuga de uma geografia em guerra, o que exige, de acordo com as leis internacionais, uma muito maior flexibilidade.

Só nigerianos estão registados mais de 4.000 estudantes na Ucrânia, a maior parte deles ainda no país, cinco dias depois do início das hostilidades, são igualmente às centenas estudantes e trabalhadores de outras nacionalidades, desde ganeses, sul-africanos, costa-marfinenses, quenianos... com várias dezenas de angolanos igualmente "entalados" nestes comportamentos xenófobos.

Os vários governos africanos estão a enviar elementos das suas embaixadas para as fronteiras de forma a aligeirar a tormenta dos seus cidadãos, ao mesmo tempo que surgem protestos contra as atitudes xenófobas, especialmente de organizações da sociedade civil ligadas à defesa dos Direitos Humanos.

Muitos dos africanos estão, como referem vários testemunhos nas redes sociais, a ser enviados para o fim das filas nas fronteiras ucranianas antes de chegarem à Roménia, apenas por causa da cor da pele.

E na chegada a países como a Polónia, o tratamento tem sido igualmente desigual para com os africanos.

O Governo da Polónia já refutou estas acusações de racismo ou xenofobia, sublinhando que nem sequer os documentos inválidos estão a servir para travar a entrada das pessoas no país, apesar de isso estar posto em causa em múltiplos vídeos dispersos pela internet.

Também as autoridades ucranianas negam que tal esteja a suceder, mas as imagens são claras.

Esta situação é resultado directo do conflito que opõe a Ucrânia e a Rússia, país que invadiu, na passada quarta-feira, o país vizinho, tendo resultado numa fuga gigantesca de pessoas das cidades, tendo a capital, Kiev, ficado praticamente vazia dos seus mais de 2,5 milhões de habitantes, embora só uma parte tenha chegado às fronteiras da União Europeia.

Entre estes, estão milhares de pessoas oriundas de países que não integram o bloco europeu, como os africanos, e, por isso, passam por maiores dificuldades, seja no apoio ao regresso a casa, seja nos processos burocráticos fronteiriços.

As Nações Unidas estimam que mais de 7 milhões de pessoas vão passar em breve à condição de refugiados nos países mais próximos da Ucrânia, tendo o seu Secretário-Geral anunciado uma ajuda de emergência de 20 milhões USD para fazer face às necessidades imediatas.