Embora sem confirmação oficial por parte de Kiev, o líder do Grupo Wagner, diz nas mesmas declarações ao seu canal de notícias, e depois citado pelos media russos, que o lado ucraniano teve perdas de 50 mil militares e igualmente milhares de feridos.

Face a estes números, a batalha por Bakhmut é claramente a mais devastadora em vidas humanas na Europa desde o fim da II Guerra Mundial, em 1945.

Vista pelos analistas militares ocidentais como um "picador de carne", as ruínas de Bakhmut são a demonstração clara de que a cidade foi palco de uma violência inaudita, que não deixou em pé uma única casa ou prédio.

Apesar de Prigozhin já ter anunciado o fim das operações de tomada da cidade, o lado ucraniano não confirma a saída integral de Bakhmut e as chefias miliares ucranianas garantem que a resistência continua e está em curso um conjunto de manobras para a sua reconquista, embora desta feita com o cerco da cidade em detrimento do avanço directo sobre as posições russas.

Os media ucranianos e ocidentais que cobrem a guerra do lado ucraniano dizem que as forças de Kiev a oeste de Bakhmut, na casa dos 80 mil, sendo as várias brigadas compostas pelas melhores tropas do país, e milhares de mercenários, estão a ganhar terreno a norte e a sul da cidade martirizada, procurando o seu envolvimento e cerco.

No entanto, é comummente aceite que os russos, igualmente na ordem das dezenas de milhares, tiveram tempo suficiente para fortificarem as suas posições e furar esta linha defensiva será tarefa gigantesca para os ucranianos.

As palavras amargas do chefe do Grupo Wagner

O chefe do grupo paramilitar russo admitiu ainda nesta quarta-feira o fracasso da campanha militar da Rússia na Ucrânia, afirmando que nenhum dos objectivos foi atingido.

"A operação militar especial foi lançada com o objectivo de "desnazificação", mas transformámos a Ucrânia numa nação conhecida em todo o mundo", disse Prigozhin na rede social Telegram, citado pela agência espanhola EFE e pela Lusa.

Prigozhin é um aliado do Presidente Vladimir Putin, que ordenou a invasão da Ucrânia, em 24 de Fevereiro de 2022, para "desmilitarizar e desnazificar" o país vizinho, entre outros objectivos.

Desde o início da guerra, Prigohzin tem sido um duro crítico do estado-maior russo e do ministro da Defesa, Serguei Shoigu.

O chefe do grupo Wagner considerou que a Rússia também falhou o objectivo da desmilitarização da Ucrânia.

"Se antes do início da operação especial, eles [os ucranianos] tinham, digamos, 500 tanques, agora têm 5.000. Se na altura eram capazes de combater 20.000 soldados, agora têm 400.000", afirmou.

"Acontece que estamos a militarizar a Ucrânia, e de que forma!", criticou, numa alusão ao fornecimento de armamento por parte dos aliados ocidentais de Kiev como resultado da invasão.

Prigozhin disse também que o grupo Wagner "é o melhor exército do mundo".

"Para ser correcto, devo dizer que o segundo melhor exército do mundo é o exército russo. Mas penso que os ucranianos têm um dos exércitos mais fortes", afirmou.

Prigozhin disse que os militares ucranianos conseguem usar com sucesso qualquer sistema de armas, seja soviético ou da NATO (sigla inglesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Onde está Zaluzhny?

Entretanto, depois de semanas a crescerem os rumores sobre uma possível morte do comandante das Forças Armadas da Ucrânia, o general Valery Zaluzhny, que ganharam tracção acrescida quando este não esteve presente, há cerca de duas semanas, numa cimeira de grande relevância da NATO em Bruxelas, a agência russa RIA NOvosti vem dizer que o oficial de topo ucraniano foi ferido com muita gravidade num ataque por míssil russo em Kherson, no início de Maio.

O CEMGFA ucraniano deixou de aparecer em público no início de Maio e de imediato surgiram rumores sobre o seu paradeiro, sendo que uma das possibilidades, nunca confirmadas por Kiev, era ter sido vitima de um ataque russo.

A agência estatal russa, que cita fontes dos serviços de segurança, assevera que o general Valery Zaluzhny sofreu um forte traumatismo craniano e não vai poder comandar as forças ucranianas, estando internado nos cuidados intensivos num hospital em Kiev.

Estas informações não foram confirmadas pela Ucrânia nem por qualquer um dos seus aliados ocidentais.

Todas as justificações avançadas para a sua ausência nas reuniões mais relevantes tanto interna como no exterior do país, foram assentes na situação operacional na linha da frente, onde se espera para breve a confirmação da contra-ofensiva ucraniana que segundo Kiev vai mudar o curso da guerra e garantir a expulsão dos russos do país.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro de 2022 as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação militar especial", sublinhando que o objectivo não era (é) a ocupação do país vizinho, condição que evoluiu depois para a anexação de territórios no Donbass mas também as regiões de Kherson e Zaporijia, mas sim a sua desmilitarização e desnazificação e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional.

O Kremlin critica há vários anos fortemente o avanço da NATO para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro, tendo acrescido a esta reivindicação as províncias de Kherson e Zaporijia, depois da realização de referendos que a comunidade internacional, quase em uníssono, não reconhece.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.

Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO para expulsar as forças invasoras.

A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar para a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, incluindo o sector energético, do gás natural e em parte do petróleo...

Milhares de mortos e feridos e mais de 9,5 milhões de refugiados internos e nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.