... porque a única dimensão que pode ser controlada neste conflito que já dura há mais de 10 meses, com exequibilidade, é o apoio dos Estados Unidos da América, militar e financeiro, sem os quais a Ucrânia não teria condições para prolongar o conflito, sabendo-se como se sabe que nem o Presidente russo deu, ainda, quaisquer sinais de poder ceder os territórios anexados, sendo que nem sequer os controla ainda todos, nem o Presidente ucraniano se mostrou, até agora, minimamente disponível para ceder "um centímetro" da geografia ucraniana reconhecida internacionalmente.
Com as recentes declarações do chefe do Kremlin no sentido de voltar, mais uma vez, a mostrar disponibilidade para negociar a paz com o país vizinho, surge a necessidade de voltar a relembrar quais as condições para tal, sendo que essas são as mesmas desde que a guerra começou a 24 de Fevereiro: manter a Península da Crimeia, anexada em 2014 após referendo popular, e as quatro regiões anexadas em Setembro, igualmente após referendos não reconhecidos pela comunidade internacional, desde logo as Repúblicas de Donetsk e Lugansk, e as províncias de Zaporijia e Kherson.
Do lado de Kiev, o alinhamento das condições para a paz é mais simples e tem apenas meia dúzia de palavras: quando todos os soldados russos saírem do território ucraniano sem condições, sendo que isto voltou agora a ser dito depois de nas últimas horas, Putin ter afirmado a um canal estatal russo que a Rússia só está a defender os seus interesses estratégicos, que não tinha alternativa e que esta incursão militar na Ucrânia foi essencial para garantir a segurança vital da Federação Russa.
Quase em simultâneo, sem que se possa admitir quaisquer coincidências, em entrevista a um portal ucraniano, citado pelas agências internacionais, o chefe da secreta ucraniana, Kirylo Budanov, veio refirmar que a linha dura do pensamento político em Kiev não se moveu um milímetro, reafirmando que a Crimeia vai ser reconquistada através de um uso inteligente da guerra e da diplomacia, introduzindo, todavia, um elemento de novidade que é a palavra "diplomacia", cuja interpretação nem é fácil nem evidente na sua dimensão e importância para eventuais negociações.
O gás russo pode voltar a fluir para a Europa ocidental
Outra declaração a precisar da melhor hermenêutica disponível foi feita pelo vice-primeiro ministro russo, Alexander Novak, em declarações à agência oficial Tass, no fim-de-semana, anunciando que o gás russo pode voltar a fluir para a Europa ocidental depois da interrupção gerada pela guerra e pelas ameaças mútuas de sanções e cortes, umas atrás das outras.
De acordo com Novak, o fornecimento pode ser feito através do gasoduto Yamal, que entra na Europa ocidental via Polónia, como era normal antes da guerra, sendo que este tipo de anúncios aveludados do Kremlin são sempre merecedores de forte desconfiança por parte dos países ocidentais, porque as actuais sanções, embora isso esteja previsto, ainda não abrangem o gás natural, sendo que Moscovo tem vindo a reduzir as quantidades disponibilizadas de forma substancial.
Sinais de que muito há a fazer antes da paz...
... é a sucessão de ataques nestes dias festivos, com os russos a bombardear áreas em Kherson, com vários mortos anunciados pelos ucranianos, e os ucranianos a responderem com um ataque a uma importante base aérea em território russo, em Saratov, onde a queda de destroços de drone faz três mortos.
Pelo menos três militares morreram, esta segunda-feira, depois de terem sido atingidos pela queda de destroços de um drone ucraniano numa base militar na região de Saratov na Rússia, avançam as agências russas, citando o Ministério da Defesa do país.
"A 26 de Dezembro, por volta da 01:35 hora de Moscovo, um veículo aéreo ucraniano não tripulado foi abatido a baixa altitude ao aproximar-se do aeródromo militar de Engels, na região de Saratov", disse o Ministério da Defesa russo, citado pelas agências russas que, por sua vez, estão a ser citadas pela Lusa.
"Em resultado da queda dos destroços do drone, três militares russos do pessoal técnico que estavam no aeródromo ficaram feridos fatalmente".
O aeródromo militar de Engels situa-se a cerca de 500 quilómetros a leste da Ucrânia.
Entretanto, Mykhailo Podolyak, o principal conselheiro do Presidente ucraniano e o mais acérrimo defensor da guerra como única opção para expulsar os russos do país, veio dizer que "a Rússia não quer negociar, apenas esconder as suas responsabilidades".
Acrescentou que Kiev quer ver apenas os russos no tribunal onde forem julgados pelos crimes cometidos com esta guerra.
Podolyak acusou ainda Moscovo de querer "continuar a matar impunemente" e, para isso, camuflar as suas acções com as pretensas disponibilidades para negociar, fazendo um sublinhado ao que tem sido a política oficial de Kiev: "Nem um centímetro para os russos".
"Recordarei àqueles que se propõem ter em conta as iniciativas de 'paz' de Putin que neste momento a Rússia está a 'negociar', matando os habitantes de Kherson, exterminando Bakmut, destruindo as redes de Kiev e Odessa... A Rússia quer matar com impunidade", escreveu Podoliak no Twitter, citado pela Lusa.