Vladimir Putin, que esteve com o seu homólogo e aliado bielorusso, Alexander Lukashenko, no cosmódromo da Vostochny, adiantou, confrontado com as sanções a que a Rússia está a ser sujeita por parte dos países ocidentais, que Moscovo "vai cooperar com os parceiros que quiserem cooperar", que deixou entender serem muitos graças à extensão euro-asiática da Rússia.

Sobre o conflito na Ucrânia, que começou a 24 de Fevereiro com o avanço das forças sob seu comando sobre a Ucrânia, Putin sublinhou que tal confronto era uma inevitabilidade "u uma questão de tempo", face ao crescente pendor nazi-fascista da governação ucraniana.

O senhor do Kremlin apontou, numa breve conversa com jornalistas, já no cosmódromo de Vostochny, na região de Amur, situada no extremo leste russo, e um centro estratégico da indústria aeroespacial do país, onde Moscovo pretende concentrar a sua actividade do sector e diluir a dependência de Baykonur, no Kazakistão, que esta guerra resultou de um longo processo de transformação da Ucrânia num "centro anti-Rússia" com base em ideologias nazis e fascistas plantadas estratégica e intencionalmente.

Citado pelos media russos a partir da TASS, Vladimir Putin acrescentou, nesta curta conversa, que se sabia há muito tempo que esta guerra iria ter lugar porque essa "base nazi e anti-russa não podia deixar-se em crescimento tão próximo da Rússia", sendo, por isso, "uma clara questão de quando e não se teria lugar".

E disse ainda que todos os "nobres e facilmente compreendidos" objectivos "vão ser alcançados" no fim da denominada operação militar especial, designação oficial da invasão da Ucrânia, que passa por garantir apoio total às repúblicas independentes do Donbass, Donetsk e Lugansk, garantindo ao mesmo tempo "a segurança da própria russa".

Reiterou a ideia de que as forças ucranianas estavam há oito anos a eliminar a população russófila do leste ucraniano e apostou na passagem da mensagem de que a Rússia é um gigante em múltiplas dimensões e que não vai ser possível ao ocidente esmagar um país com o tamanho e os recursos da Rússia, dando exemplos das tentativas que já foram feitas nesse sentido ao longo das décadas passadas enquanto União Soviética e já depois da extinção do colosso comunista.

Nesta conversa, Putin ignorou a questão das alegações ocidentais do uso de armas químicas no campo de batalha da Ucrânia, que o seu Ministério da Defesa já tinha negado e considerado mais um provocação ocidental.

Já hoje, e citado pela RT, Putin acusou o Governo de Kiev de ter recuado nos avanços conseguidos, no mês de Março, em Istambul, quanto à procura de um acordo entre os dois países que permita acabar com o conflito.

O Presidente russo admite mesmo que as negociações estão neste momento numa situação de impasse depois de já terem estado num patamar de boas perspectivas para uma solução negociada.

Garantiu igualmente que as sanções aplicadas pelo ocidente "falharam claramente" no seu objectivo de "vergar a Rússia", defendendo que a economia e o sistema financeiro russo "estão a funcionar a bom ritmo", permitindo mesmo que o país fizesse as adaptações que tinha de fazer com maior celeridade.

O Chefe de Estado russo teve mesmo o ensejo de aconselhar o ocidente a verificar bem as consequências das suas sanções para as economias ocidentais, notando ser sua aposta que "o bom senso vai acabar por vingar" quando fizerem esse exercício.

Entretanto, Washington mantém esforço para isolar Moscovo

No seu persistente esforço global para isolar a Rússia economicamente, de forma a cortar o financiamento da guerra na Ucrânia, o Presidente dos Estados Unidos da América manteve uma longa conversa por videoconferência com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, uma das grandes potências mundiais que não alinhou com Washington e a União Europeia no abrangente pacote de sanções aplicadas a Moscovo.

Nesta conversa, Joe Biden, segundo os media internacionais, procurou convencer Modi de que não é do interesse da Índia manter relações normais com a Rússia, sendo, isso sim, do interesse deste gigante asiático, apoiar o esforço norte-americano de pressionar a Rússia.

Isso seria feito se Narendra Modi alinhar com os EUA cortando as compras de energia russa, especialmente petróleo, que Nova Deli acaba de reforçar em vez de diminuir, ao, pouco antes do início da guerra, assinar um contrato de aquisição de três milhões de barris por dia por um prazo renovável de 100 dias.

Para que Modi alinhe nesta "coligação" anti-Rússia, Biden prometeu que ajudaria a Índia a diversificar as fontes de fornecimento e importação de crude.

Aparentemente, Modi procurou um meio-termo para líder com esta pressão de Washington, sugerindo a Biden que deviam unir esforços para procurar uma solução negociada para a guerra na Ucrânia, investindo na criação de condições para um encontro entre os Presidentes Putin e Zelensky.

E deu, segundo o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, que falou aos jornalistas depois da conversa com Biden, a entender que o foco desta pressão devia estar na Europa e não na Índia, porque é a Europa quem mais compra energia, gás e petróleo, à Rússia.

A Índia, tal como a China, foram as duas maiores potências que se recusaram a alinhar na punição e condenação sem meios termos da Rússia, apostando em manter com este país relações comerciais normais, reforçando-as mesmo.

Isso mesmo ficou claro na forma como Nova Deli e Pequim votaram nas duas assembleia-gerais da ONU onde foram votadas resoluções de condenação a Moscovo, abstendo-se de condenar a Rússia, inclusive naquela onde o país foi suspenso do Conselho dos Direitos Humanos da ONU.

Recorde-se que os EUA também fizeram este esforço para isolar a Rússia junto da China.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.

Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...

Milhares de mortos e feridos e mais de 4 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.