Os dois cidadãos britânicos e um marroquino que foram capturados pelas forças pró-russas da República independentista de Donetsk, que, com Lugansk, compleam os dois territórios separatistas do Donbass, foram condenados à morte por pelotão de fuzilamento devido à sua actividade enquanto mercenários, como "provou" serem o tribunal onde foram julgados mas que o Governo britânico, no caso dos dois jovens oriundos do Reino Unido, frisa que se trata de miliares integrados nas Forças Armadas ucranianas e não mercenários.
Um destes militares já está na Ucrânia, integrado nas forças de defesa do país, há quatro anos, o que o retira da condição de mercenário que, de acordo com a Convenção de Genebra, não tem os mesmos direitos que os prisioneiros de guerra "normais".
Confrontado com esta situação, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, já veio dizer que se trata de uma iniciativa judicial da República Popular de Donetsk, que apenas Moscovo reconhece, e que, por isso, não se irá pronunciar sobre uma decisão soberana da Justiça local.
Lavrov diz mesmo que os crimes de que são acusados foram cometidos no território de Donetsk e que, por isso, Moscovo não tem como interferir.
Porém, é conhecido que a questão não se reduz a um reconhecimento da soberania de Donetsk porque esta república é uma criação russa desde o início e sem o apoio russo não existiria, sendo, face a isso, clara a influência do Kremlin num processo como este que, sem a sua autorização superior, não poderia ter lugar.
Todas as organizações internacionais de defesa dos Direitos Humanos e vários países criticaram a forma como decorreu este julgamento, totalmente à margem das leis internacionais.
O Ministério da Defesa da Federação Russa diz que estão, presentemente, mais de 3.500 mercenários a combater pela Ucrânia neste conflito, sendo que, inicialmente, eram mais de 7 mil, número entretanto reduzido para metade devido à morte em combate e à fuga de muitos destes combatentes estrangeiros que foram chegando à frente de batalha desde 24 de Fevereiro, dia da invasão russa da Ucrânia.
Estes mercenários são oriundos de mais de 50 países, anunciou ainda um porta-voz do ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu.
Entre os milhares de prisioneiros feitos pelas forças russas estão cerca de mil mercenários estrangeiros, de entre estes, perto de 400 que se renderam no decurso do cerco à metalo-mecânica Azovstal, em Mariupol.
O número de combatentes estrangeiros ao serviço da Rússia não é conhecido, embora se saiba que muitos provenientes da Síria, entre outros países do Médio Oriente, estão nas trincheiras ao lado das forças do Kremlin ou pró-russas, como o próprio Presidente Putin já admitiu publicamente.
Putin, o Grande...
... tem na sua mão a vida destes jovens militares Aiden Aslin, 28 anos, e Shaun Pinner, 48, os dois britânicos, e o marroquino Saaudun Brahim, de 26 - existem dados diferentes sobre a idade deste último - renderam-se às forças russas e milícias pró-russas em distintos locais e datas, os primeiros dois em meados de Abril, em Mariupl, na Azovstal, e o terceiro, em meados de Março, na cidade de Volnovakha.
Alguns analistas admitem que este julgamento, embora apressado, foi pensado para ter como efeito uma demonstração de magnanimidade do Presidente russo, que, depois da sentença, interferirá pelas suas vidas, embora se trate apenas de uma possibilidade sem que tenha sido admitida oficialmente em nenhuma circunstância pelo Kremlin.
Mas tal atitude poderia fazer sentido depois de Putin ter publicamente, face a uma audiência de jovens empreendedores, admitido uma comparação com o czar Pedro, o Grande, que reinou entre 1672 e 1725, tendo-se este notabilizado pelas políticas de modernização da Rússia e o seu alargamento territorial a Oeste, em direcção à Europa ocidental, permitindo igualmente isso resultar em vantagens numa fase posterior à guerra, onde Moscovo vai precisar de refazer as suas relações diplomáticas e comerciais.
Nesta comparação, Putin lembrou a guerra de 21 anos travada por Pedro, o Grande, com a então Suécia, tendo na época conquistado território que os russos viram como uma recuperação de terras enquanto na Europa ocidental foi encarado como usurpação de um vasto território no norte europeu, sem esquecer que foi ainda este czar que tomou para a Rússia vastas regiões de Azov, do Mar Negro e no Mar Báltico.
Nesta comparação fica ainda em evidência que Pedro, o Grande fundou a cidade de São Petersburgo, a terra natal de Putin, tendo governado por 43 anos, sendo que o actual senhor do Kremlin ainda vai "apenas" em 23, embora seja já comparável, embora em menor dimensão, a sua reconquista de territórios para a "mãe Rússia" com a ocupação de mais de 100 mil kms2 no leste da Ucrânia.
Sobre a guerra...
...mantendo-se as dificuldades de distinguir informação de propaganda, os dois lados deste conflito vão anunciado os seus feitos e objectivos, tendo o porta-voz do Kremlim Dmitri Peskov, já garantido que o conflito só acaba quando a Rússia conseguir alcançar todos os seus objectivos.
As forças pró-russas da autoproclamada república popular de Donetsk na Ucrânia, reconhecida pelo Kremlin, anunciaram esta quinta-feira o início da batalha por Sloviansk, que juntamente com Kramatorsk, serão os principais objectivos russos no Donbass.
"Estamos a levar a cabo a batalha por Sloviansk", declararam as chefias militares pró-russas através do sistema de mensagens Telegram.
No passado domingo, os separatistas afirmaram que estavam a 19 quilómetros de Sloviansk, sinalizada como "cidade chave" para a tomada do bastião militar ucraniano de Kramatorsk.
O Estado Maior General da Ucrânia informou que as forças russas "concentram preparativas para continuar a ofensiva em direcção a Sloviansk e Barvinkove", na região de Kharkiv.
De acordo com as milícias pró-russas, as forças das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk apoiadas pelo Exército da Rússia "libertaram e estabeleceram o controlo total sobre 231 localidades da região", incluindo Svitohirsk e Tetyanivka.
Entretanto, a Ucrânia declarou que poderá "reconquistar" a cidade de Severodonetsk em "dois ou três dias", se dispuser de armas de artilharia ocidentais "de longo alcance".
As forças russas tentam controlar totalmente aquela cidade industrial ucraniana na região do Lugansk, importante para o controlo de toda a zona mineira do Donbass.
De acordo com Serguei Gaidai, governador ucraniano da região oriental do país, as forças de Kiev recuperaram terreno nos últimos dias e o "armamento ocidental" pode ser crucial para alterar a situação militar.
A Ucrânia tem insistido nos pedidos, ao Ocidente, de sistemas de lançamento de foguetes de longo alcance.
"O destino do nosso Donbass é decidido naquela zona (Severodonetsk)", disse o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na noite de quarta-feira.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da
Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 4,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.