Está ou não doente o senhor do Kremlin? Quase a fazer 70 anos, Vladimir Putin chegou ao poder em 1999, saltando entre cargos de Presidente e primeiro-ministro da Rússia, mas desde logo estes rumores de que padece de grande doença oncológica o perseguem.

O tema tem sido ignorado pelo Kremlin, mas, agora, com estes rumores a ganharem cada vez mais espaço nos media ocidentais, o próprio ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, veio a terreiro desmentir que Putin esteja doente, questionando se um homem que "todos os dias aparece em público" pode estar gravemente doente?".

Uma notícia da TASS, a agência de notícias oficial russa, avança que Lavrov refutou todas as notícias de que a saúde do Presidente tenha piorado no Domingo.

"Todos os dias o Presidente Putin aparece em público. Pode ser visto nas televisões, ouvido nas rádios e lido nos jornais... Não acho que uma pessoa sã possa ver sinais de doença neste homem!", apontou o chefe da diplomacia do Kremlin, acrescentando que a aparência física de Putin devia ser comparada com a de outros, numa declaração que permite perscrutar uma referência ao estado de saúde do Presidente dos EUA, Joe Biden.

Apesar desta garantia de Lavrov, não é conhecido qualquer boletim clínico do chefe do Kremlin.

Mas sabe-se que Putin está, de novo, disponível para recuperar o ciclo de negociações entre russos e ucranianos, que foram interrompidas já há várias semanas, quando a guerra na Ucrânia, que foi iniciada com a invasão russa, a 24 de Fevereiro, se prepara para cumprir 100 dias.

O próprio o disse numa nova e longa conversa com o Presidente francês, Emmanuel Macron, e com o chanceler alemão, Olaf Schulz, depois de, segundo uma notícia da BBC, ter sido por estes pressionado para voltar à mesa das negociações, mas desta feita de forma "séria e decisiva".

Ambos os lideres europeus estão a lidar ainda com uma forte pressão devido ao alastramento da fome no mundo por causa desta guerra.

Putin disse, segundo o relato posterior de Macron e Schulz, que está disponível para dar esse passo, embora não tenha ficado claro se isso o poderá levar a sentar-se à mesa com o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, que, na passada semana, veio, num vídeo, dizer que Kiev terá de aceitar negociar com Moscovo... que os seus conselheiros, radicais de extrema-direita, rapidamente demoliram afirmando que a Ucrânia nunca negociará com os russos até à sua derrota, o que deixou em alguns analistas a ideia de que o líder ucraniano poerá não dispor de plena autoridade...

Os dois lideres europeus dos dois maiores e mais importantes países dentro da União Europeia, Macron e Schulz, instaram Putin a aceitar um cessar-fogo imediato com a retirada das tropas russas da Ucrânia, ao que Putin respondeu com a abertura para voltar às negociações, até porque, como admitem alguns analistas, como o vice-presidente do EuroDefense Portugal, major-general Agostinho Costa, na CNN Portugal, se o líder russo aceita retomar de forma séria as negociações, é porque as conquistas territoriais na frente de batalha lhe permite chegar à mesa numa posição de clara vantagem negocial.

No terreno, reconhecido por Kiev, as forças russas estão a conseguir ganhar, palmo a palmo, territórios do leste, no Donbass, estando já com mais de 95% da República independentista de Lugansk - a cidade de Severodonetsk é a derradeira resistência nesta região -, e com igualmente avanços importantes na República de Donetsk, além de uma soma territorial substancial no sul do país, nas regiões de Kherson, que liga à Península da Crimeia, e um corredor alargado entre Donetsk, depois da conquista de Mariupol, nas margens do Mar de Azov.

Este mapa de conquistas permite aos russos e às milícias pro-russas controlar a totalidade dos acessos ao Mar de Azov e a uma larga parte das margens e portos do Mar Negro, o que é substancialmente mais que o objectivo inicial de conquista de Donetsk e Lugansk.

... e a guerra continua

A Rússia está a aumentar de forma inequívoca os seus ataques a infra-estruturas de interesse militar na Ucrânia com recurso a mísseis de longo alcance e de precisão, como os Iskander ou os Kalibr, disparados de sistemas móveis terrestres, os primeiros, e de navios ou submarinos estacionados no Mar Negro.

Segundo informações pelos media russos e confirmados pelo Governo de Kiev, as unidades de combate russas estão a tomar quase por completo, mais de 95% da república de Lugansk, no Dombass, estando em curso igualmente avanços importantes na república de Donetsk.

Sendo a região do Donbass a principal frente de batalha, ali as forças russas já conseguiram cercar mais de 15 mil tropas ucranianas, na área de Severodonetsk, na república independentista de Lugansk, com um previsível desfecho trágico para os defensores nacionais ucranianos.

A guerra entre a Ucrânia e a Rússia está a entrar numa "fase prolongada", com Moscovo à procura do controlo total da região do Donbass e da ocupação do sul.

O reforço da capacidade de combate de Moscovo

Sem que as autoridades militares russas o tenham desmentido, para a frente de combate, o Kremlin está a enviar largas dezenas de milhares de homens das unidades militares do centro e do oriente da Rússia, de forma a reforçar o poderio militar russo no Donbass, onde decorre aquela que os dois lados já admitiram que é a batalha decisiva, ou batalhas, desta guerra e que os especialistas miliares definem como sendo a expulsão das forças ucranianas das repúblicas independentistas de Donetsk e Lugansk, e a ligação terrestre entre o Donbass e a Península da Crimeia, o que daria a Moscovo o controlo sobre todo o Mar de Azov e uma boa parte do Mar Negro.

Segundo as informações disponíveis, e dependendo das fontes, do lado russo podem estar entre 120 e 160 mil militares em avanços lentos nas frentes de combate, com reforços permanentes vindo da Rússia, procurando, tanto de sul, como de Norte, avançar e cercar as entre 80 e 100 mil tropas ucranianas, que se concentram na frente do Donbass.

O foco das forças russas é não só expulsar os ucranianos das "suas" repúblicas do Donbass (Donetsk e Lugansk) como garantir que cortam a capacidade de os aliados de Kiev conseguirem fazer chegar o material militar, desde os mísseis anti-aéreos e anti-carro, Javelin e Stinger, às viaturas blindadas enviadas pelos EUA e aliados ocidentais, para o que estão a empregar centenas de mísseis de longo, médio e curto alcance, mas com forte precisão, como os M-54 Kalibr, que estão a ser disparados dos navios estacionados no Mar Negro e da Crimeia, e os 9K-720 Iskander, de menor alcance mas mais manobráveis porque podem ser deslocados em viaturas de rodas nas imediações do campo de batalha.

Com este armamento sofisticado, os russos estão a visar vias férreas, pontes e aeródromos ou mesmo aeroportos, como sucedeu na passada semana, em Odessa, onde o aeroporto desta que é uma das maiores cidades do país, foi parcialmente destruído porque ali estava armazenada grande quantidade de equipamento militar enviado do exterior pelos países da NATO.

Já os ucranianos, sem capacidade de acção aérea, procuram, através dos meios sofisticados que estão a receber dos seus aliados, com realce para os mísseis antiaéreo e anticarro Stinger e Javelin, cuja eficácia tem forçado as colunas russas a refrear os avanços, e que podem ser o factor de equilíbrio neste conflito, não só atrasar o avanço russo para os seus objectivos como ganhar tempo de forma a desgastar as forças russas a ponto de conseguir que o Kremlin aceite negociar de forma mais vantajosa para Kiev.

Os ucranianos estão, porém, a ser fornecidos diariamente também por artilharia pesada e carros de combate que permitem às suas unidades maior resistência ao avanço russo e, por vezes, recuperar território que estava já nas mãos das forças de Moscovo.

Nos últimos dias, as unidades de combate ucranianas retomaram a cidade de Kahrkiv, a apenas 50 kms da Rússia, no norte da Ucrânia, chegando mesmo à fronteira do país vizinho. No entanto, esta reconquista ucraniana pode não ter grande valor militar porque as forças russas, segundo alguns analistas, só permaneciam na cidade como forma de fixar forças ucranianas mantendo-as afastadas do foco principal da guerra, que é a região do Donbass.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.

Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO.

A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar paara a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da

Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...

Milhares de mortos e feridos e mais de 4,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.