Quando a NATO e o seu líder de facto, os Estados Unidos, já admitiram que o míssil que atingiu território polaco foi disparado pelas forças ucranianas, provavelmente a partir do seu sistema de defesa antiaéreo, numa altura em que o país estava sob uma chuva de mísseis russos contra as suas infra-estruturas de energia, e o Governo da Polónia veio reconfirmar essa tese, de Kiev, Volodymyr Zelensky, não desarma, exige que seja dado acesso aos seus especialistas para investigar no local da explosão, mantém que não foram as suas forças armadas a disparar e mantém a acusação de que foi um ataque deliberado de Moscovo.
Os especialistas militares que estão a ser ouvidos pelos media internacionais demonstram claras dificuldades em perceber o objectivo desta estratégia de Zelensky, que já foi desmontada por todos os intervenientes no conflito, desde os seus principais aliados ao Kremlin, até porque se lhe fossem dados ouvidos pelos lideres da NATO/EUA, isso seria o equivalente ao começo de uma guerra directa desta organização militar ocidental com a Federação Russa, que dispõem, de longe, dos maiores arsenais nucleares do mundo.
E, em pano de fundo, estão as palavras dos Presidentes dos EUA, Joe Biden, e da Rússia, Vladimir Putin, pouco depois do início do conflito, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de Fevereiro, quase há nove meses, coincidindo ambos na ideia de que um confronto entre Estados Unidos e a Rússia escalaria rapidamente para um confronto nuclear catastrófico.
É isso que pretende Volodymyr Zelensky? É a questão que está a ser colocada em quase todas as análises a este posicionamento claramente desajustado do regime de Kiev. Aparentemente sim, tal como parecia ser o objectivo dos países Bálticos, Lituânia, Letónia e Estónia, e da Polónia, que, logo após a explosão em Przewodow, admitiram uma resposta militar contra Moscovo.
E, quando já todos os que inicialmente pugnavam por um ataque retaliatório contra a Rússia refizeram as suas posições, depois de o Presidente dos EUA, Joe Biden, o chefe da NATO, Jens Stoltenberg, que segue sempre as orientações de Washington, e o Presidente polaco, Andrzej Sebastian Duda, terem admitido que se tratou de um míssil ucraniano S-300, de fabrico russo, de Kiev vem a informação de que Zelensky recusa aceitar que se ratou de um disparo das suas forças armadas e mantém o dedo apontado a Moscovo, exigindo que os seus especialistas sejam autorizados a ir a Przewodow para investigar e confirmar as suas acusações.
Da parte de Moscovo, como o notou o embaixador na ONU, Vassily Nebenzia, esta postura incompreensível do Presidente ucraniano só pode ser interpretada como uma forma "profundamente irresponsável" de fazer despoletar um confronto directo entre EUA/NATO e Rússia, dando assim início à III Guerra Mundial.
O diplomata russo nas Nações Unidas foi ainda mais longe e defendeu que se trata de uma manobra intencional ucraniana para levar a esse confronto alargado ao sublinhar que Zelensky está a insistir numa tese de ataque deliberado russo quando está na posse de todas as informações sobre a autoria ucraniana do disparo do míssil que atingiu a pequena localidade fronteiriça na Polónia.
Recorde-se que a explosão que atingiu Przewodow, na terça-feira, e matou duas pessoas, aconteceu num momento em que a Rússia despejava uma chuva de misseis sobre dezenas de cidades ucranianas, quase todos tendo como alvos as infra-estruturas eléctricas do país.
O S-300, um míssil da era soviética, década de 1980, que os peritos polacos dizem ter caído no território polaco, foi, de acordo com as teses ocidentais da NATO e dos EUA, e também da Polónia, disparado pela defesa antiaérea ucraniana provavelmente contra um míssil russo que se destinava a um alvo no país e por qualquer razão se desviou da sua trajectória, não atingiu o alvo, e acabou por explodir no solo.
Mas a tese em crescendo nos media russos, e que é admitida já por alguns analistas ocidentais, e tem respaldo mesmo dentro da Polónia, através de um antigo autarca na cidade de Lublin, que abrange a pequena localidade atingida, Jaroslaw Pakula, é que este míssil foi disparado intencionalmente por Kiev para forçar a uma intervenção da NATO e que a organização ocidental conceda, depois de muita insistência de Zelensky, à criação de uma zona de exclusão aérea nos céus ucranianos, o que é o mesmo que dizer, com admitiu Joe Biden, dar início à guerra directa entre Washington e Moscovo.
Este episódio está a fragilizar a posição de Kiev face aos seus aliados, especialmente por ter admitido que podeia manipular potências como os EUA ou o Reino Unido no sentido de os levar a uma guerra catastrófica mundial com a Rússia.
E os danos podem não ser apenas reputacionais para o regime ucraniano, podem levar ainda a uma maior retracção do apoio miliar e financeiro dos países ocidentais, á fortemente pressionados pelos seus cidadãos cansados do impacto gigantesco da guerra na sua qualidade de vida devido ao aumento do custo dos bens de consumo, especialmente os alimentos e os combustíveis.
Entretanto, a Polónia anunciou que, afinal, já não vai accionar o Artº 4º da NATO, que impõe consultas entre todos os 30 membros sobre este assunto, como tinha dito que faria quando ainda estava em cima da mesa o plano de acusar Moscovo por este "ataque".
EUA dizem ser improvável Kiev expulsar forças russas no curto prazo - Lusa
Os Estados Unidos admitiram hoje que é improvável, no curto prazo, que a Ucrânia seja capaz de expulsar as forças russas dos territórios ocupados por Moscovo, incluindo a Crimeia
"A probabilidade de uma vitória militar ucraniana, expulsando os russos de toda a Ucrânia, incluindo a Crimeia, a probabilidade de isso acontecer em breve não é muito alta, militarmente", comentou o chefe do Estado-Maior dos EUA, general Mark Milley, durante uma conferência de imprensa, ao lado do secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin.
Milley classificou ainda como "crime de guerra" os ataques com mísseis russos que atingiram infra-estruturas eléctricas na Ucrânia, na terça-feira.
"Alvejar deliberadamente a rede eléctrica civil, causando danos colaterais excessivos e sofrimento desnecessário à população civil, é um crime de guerra", acusou o general.
A Rússia realizou ataques maciços sobre as infra-estruturas civis ucranianas, em todo o país, na terça-feira, inclusivamente perto da fronteira com a Polónia, deixando milhões de casas sem energia, segundo Kiev.
Milley disse que cerca de um quarto da população ucraniana tinha ficado sem acesso a energia, devido aos ataques de mísseis lançados pelas forças russas e que estimou terem sido entre 60 e 90.
Citando os múltiplos fracassos das forças russas, incluindo a recente retirada da cidade de Kherson, o general norte-americano lamentou que Moscovo tenha decidido realizar "uma campanha de terror".
"Falharam os seus objectivos estratégicos e agora estão a falhar operacional e taticamente", concluiu Milley.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação militar especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho, condição que evoluiu depois para a anexação de territórios no Donbass mas também as regiões de Kherson e Zaporijia, mas sim a sua desmilitarização e desnazificação e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional.
O Kremlin critica há vários anos fortemente o avanço da NATO para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro, tendo acrescido a esta reivindicação as províncias de Kherson e Zaporijia, depois da realização de referendos que a comunidade internacional, quase em uníssono, não reconhece.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO para expulsar as forças invasoras.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar para a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas de fora o sector energético, do gás natural e em pate do petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 5,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.