A epidemia de Ébola que afecta o Uganda desde 20 de Setembro é provocada por um vírus com origem geográfica no Sudão denominado "Sudan ebolavirus (SUDV)" e para o qual, ao contrário das estirpes responsáveis pelas epidemias na RDC, em 2018 e 2021, e na África Ocidental, em 2013, não existem vacinas testadas para atacar o avanço da infecção.

A medida radical de proibir, por prazo indeterminado, até que a epidemia esteja dominada e seja considerada extinta, as actividades ligadas ao paranormal e à medicina tradicional, foi tomada porque as tradições ancestrais no Uganda, como de resto na generalidade dos países africanos, estão a afastar as pessoas dos centros de saúde criados para cercar a infecção, acabando por contribuir de forma grave para o seu alastramento.

Os responsáveis médicos no Uganda avançam mesmo que o vírus está a ser mais difícil de controlar porque muitas pessoas recorrem aos curandeiros tradicionais e ficam em casa, com as suas famílias, sabendo que estão doentes mas desconhecendo que se trata de Ébola e da sua facilidade de transmissão e alastramento na comunidade.

Desde 20 de Setembro até 07 de Novembro, segundo um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), foram confirmadas 55 mortes confirmadas e perto de 30 suspeitas, em quase 200 contaminações, sendo que perto de duas dezenas aguardam confirmação laboratorial.

A gravidade da situação levou o director regional da OMS-África, Matshidiso Moeti, lançou um veemente apelo à comunidade internacional para apoiar as autoridades nacionais do Uganda e as equipas médicas internacionais enviadas para o terreno.

Isto, porque se suspeita que já existam casos da doença na vizinha RDC e também na Guiné-Conacri

As autoridades estimam que sejam precisos perto de 100 milhões USD para a primeira linha de combate à infecção, embora apenas 20% deste montante foi recebido, avançou o responsável da OMS-África.

Recorde-se que o vírus já se espalhou por várias regiões do Uganda e está claramente instalado na capital, Kampala, para onde muitas das pessoas se estão a dirigir em busca de melhores cuidados de saúde do que aqueles que existem nos meios rurais.

Esta epidemia ugandesa tem potencial para se alastrar aos pelos países vizinhos, como a RDC, que vive actualmente uma grave situação de confrontos militares nas províncias do Kivu Norte e Kivu Sul (ver links em baixo, nesta página) que impossibilitam a colocação de equipas médicas no terreno, com possível resultado catastrófico para a saúde das comunidades locais e, provavelmente, com risco de crise de saúde pública internacional.

De forma a evitar a evolução para o pior cenário, a OMS-África enviou já para o local 80 especialistas, estando o Uganda a colocar mais 150 técnicos, entre estes 60 epidemiologistas, nas áreas mais sensíveis.

Entre outras medidas, como a limitação da mobilidade interna, excepto em situações excepcionais definidas por lei e a antecipação do fim do ano lectivo foram algumas das medidas tomadas pelo Governo do Presidente Yoweri Museveni.

A sua ministra da Saúde, Janet Museveni, lembrou que o Uganda tem vindo a adquirir vasta experiência na lide de surtos de Ébola, embora lamente que esta estirpe do Ébola, com origem no Sudão, ao contrário do que tem sucedido no Congo e na África Ocidental, não conta com uma vacina testada para ser aplicada.

Todavia, adiantou a responsável política pela saúde no país, desta vez, que é a terceira epidemia vivida no Uganda desde 2012, vão ser testadas três fórmulas para averiguar a sua eficácia na prevenção da infecção, começando com a sua aplicação em pessoas com contacto provado com pacientes infectados, de forma a verificar se existe algum tipo de protecção a partir do medicamento.

Ébola, as origens

O vírus do Ébola foi descoberto pela primeira vez na RDC, província do Equador, em 1976, passando dos animais selvagens, como macacos, para o homem, devdo ao uso destes animais na alimentação das comunidades.

A República Democrática do Congo é o país com mais epidemias registadas, 13, até ao momento, tendo já sido registadas 14 epidemias, sendo a mais mortífera - mas não a mais grave registada até hoje - a que ocorreu no leste do país, em 2018, que só foi debelada totalmente em 2020, tendo feito mais de dois mil mortos e milhares de infecções.

A epidemia mais grave de sempre ocorreu em 2013/14, na África Ocidental, com epicentro na Serra Leoa e Libéria, tendo morrido mais de 11 mil pessoas, abrangendo ainda Conacri e Nigéria, deixando mais de 100 mil infectados e uma forte perturbação socio-económica em toda a região, tendo as vacinas experimentais sido fundamentais para o seu controlo, senfdo estas aplicadas depois de a OMS ter declarado um problema de saúde pública internacional e atribuído a esta situação a categoria de pandemia.

O Ébola transmite-se através de fluídos corporais e contactos intensos entre portadores do vírus e pessoas não contaminadas, podendo ainda ser absorvido o vírus pelo organismo em contacto com objectos usados por indivíduos infectados.

As práticas ancestrais de contacto com o cadáver pela família e comunidade mais próxima da família é, a par da actividade de curandeiros e praticantes de medicina tradicional, uma das principais razões para as dificuldades de cerco ao vírus e à sua irradicação.

Os sintomas mais comuns são semelhantes aos da malária, com febre, vómitos, dores musculares... evoluindo depois para hemorragias internas graves.