Em 1992, o democrata Bill Clinton, inesperadamente, derrotou o republicano George Bush, que corria para uma expectável reeleição tranquila, com uma frase demolidora: "É a economia, estúpido!", fazendo sobressair as dificuldades que os norte-americanos estavam a atravessar e tinham por isso, o foco na economia. O mesmo pode estar a acontecer a Joe Biden na corrida para a reeleição em Novembro de 2024.
Pelo menos é isso que diz a sondagem agora divulgada pela revista ABC News e The Washington Post, que coloca o ex-Presidente republicano Donald Trump uns avassaladores e inesperados 10% à frente do democrata Joe Biden, a braços com uma severa crise económica com raízes profundas na inflação gerada pela eclosão da guerra na Ucrânia e o seu indelével impacto no sector lato da energia, especialmente no petróleo e gás natural.
Atribuindo quase 52% a Donald Trump e apenas 42 por cento a Joe Biden, uma diferença que os especialistas em estudos de opinião sublinham que, por norma, só com um "cisne negro", um fenómeno inesperado, é ultrapassada pelo candidato que está atrás, este cenário volta a colocar no topo das razões que definem uma disputa eleitoral a economia, e também, como em 1992, quando Clinton destronou Bush (pai), uma guerra fora de portas movia os eleitores para castigar nas urnas o Presidente em exercício. Naquele tempo a Guerra do Golfo /Iraque), agora na Ucrânia.
Nesta sondagem, que tem como nota mais sublinhada pela imprensa norte-americana o alargamento do buraco entre as intenções de voto em Biden e em Trump, quando outras, divulgadas nos últimos meses, apontava, igualmente para uma vantagem do republicano, mas muito inferior, num máximo de 3% a 4%, surge ainda como fundamento para as escolhas antecipadas dos eleitores o problema da imigração, com a chegada de centenas de milhares de migrantes centro e sul-americanos à fronteira entre o México e os EUA.
O estudo revela ainda que a popularidade de Joe Biden está pelas ruas da amargura, com apenas 37%, um número é um recorde em baixa desde 1986 para um incumbente na Casa Branca, e atira para uma avalanche de 56% que reprovam a sua acção na chefia do Governo norte-americano.
"É a economia, estúpido!", a frase maldita proferida por Bill Clinton que aniquilou George Bush em 1992, poderia, face a este números, voltar a ser proferida por Donald Trump, até porque a inflação galopante nos EUA tem sido notada como "o" problema, além do desemprego, da imigração e da criminalidade, nas sondagens antecendentes desta do Washington Post e da ABC News, o que deveria garantir aos assessores da campanha democrata que algo estava a andar mal no Reino da Dinamarca.
Mas a realidade política actual nos EUA que, a materializar estas sondagens, mudaria de forma radical com a reentrada de Trump na Casa Branca, o que poderia, por exemplo, ser um problema fora de fronteiras, desde logo na Ucrânia, onde o apoio dos EUA a Kiev seria reduzido a zero ou quase, mas também em África, onde Biden está a procurar reestabelecer pontes diplomáticas e de cooperação,que seriam, nesse caso, destruídas como um baralho de cartas, permitiria aos republicanos mudar ligeiramente o conteúdo da frase usada por Clinton em 1992, para "É a justiça. Estúpido!".
Isto, porque, se é verdade que Trump está a recolher os dividendos dos problemas da economia e da imigração, é igualmente verdade que os vários processos na justiça que enfrenta (ver links em baixo nesta página) têm sido balões de oxigénio para a sua popularidade, nomeadamente os que envolvem acusações de assédio sexual e o referente aos documentos "top secret" que levou para a sua casa privada depois de deixar a Casa Branca.
"É a justiça, estúpido!"
Esta mudança de "pormenor" na frase faria todo o sentido, passando de "é a economia, estúpido!" para "é a justiça, estúpido!", porque, na verdade, embora os eleitores garantam nesta sondagem que as suas vidas estão mais debilitadas pela economia, a verdade é que a inflação tem vindo a cair nos últimos meses de forma sólida, de mais de 8% há um ano paraos actuais 3,8%, enquanto o desemprego está em números bastante saudáveis, inferires a 4%.
"É a idade, estúpido!"
O que deixa espaço para uma pergunta difícil de responder: de que se queixam então os norte-americanos? "É a idade, estúpido!", pode ser a resposta... e esta pode estar numa outra sondagem divulgada em Abril pela NBC, onde a pergunta não era quem peferiam ver na Casa Branca a partir de Novembro de 2024 mas se gostariam de ter um dos dois mais prováveis candidatos a entra na Casa Branca.
E a resposta não podia ser mais devastadora para ambos, mas ainda mais para Biden, por causa da idade. Com 81 anos, Joe Biden é encarado como sendo demasiado velho para governar o mais rico e militarmente poderoso país do mundo, embora Trump não se saia muito melhor, aos 77 anos, sendo igualmente visto como demasiado idoso para o cargo.
Porém, como o diabo está nos pormenores, se as eleições primárias entre os republicanos não mudarem o curso da história e Trump surgir no boletim de voto em 2024, nem Biden acabar por sair de cena por qualquer razão que, aparentemente, na está a ponderar, o republicano tem uma vantagem de... 4 anos, o que equivale a um mandato presidencial nos EUA.
Mas não é só esse pormenor que move os eleitores, também as muito glosadas falhas de Biden têm sido exploradas à exaustão pela equipa eleitoral de Trump, como as suas quedas a subir e descer do avião, de bicicleta, ou cumprimentar em palco pessoas que não estão lá... tudo divulgado intensamente nas redes sociais através de "memes" demolidores para a "jovialidade" do actual Presidente dos Estados Unidos da América.