A conversa entre Joe Biden e Xi Jinping foi mais aproveitada para que um e outro desenhassem as linhas vermelhas dos respectivos interesses globais que para fumar o cachimbo da paz, mas ambos estão de acordo que não é do interesse de ninguém agir de forma insensata porque, como disse o norte-americano, a competição não pode resvalar para o conflito, intencional ou não, enquanto o chinês entende que o mundo só tem a ganhar com Pequim e Washington a cooperarem de forma sã.

E, para que uma faísca inusitada não provoque um incêndio, Joe Biden disse ao seu homólogo que o melhor é criar mecanismos de salvaguarda que impeçam eventuais conflitos, já Xi entende, como se depreende da parte da conversa que um e outro lado permitiram que se conhecesse, que uma relação sã e estável é a melhor forma de evitar incidentes perigosos.

Esta conversa entre os dois principais lideres mundiais dos dias que correm surge numa altura em que se multiplicam sinais de desconfiança mútua, como o demonstram as sucessivas notícias de que a China está numa desenfreada corrida ao armamento avançado, investindo como nunca em tecnologia militar, enquanto os EUA, por exemplo, procuram cercear os caminhos ao "Império do Meio", como também é conhecido o gigante asiático, seja através de novas alianças no Pacífico, como a Aukus, que junta americanos, australianos e britânicos.

Esta nova aliança estratégica que abrange a região indo-pacífica, como o Novo Jornal explica aqui, formalizada em Setembro último, e que passa, no essencial, por militarizar a Austrália com submarinos nucleares e outro armamento de ponta para que Camberra possa ser um travão a uma eventual procura de expansão chinesa nesta região.

Mas o cerne da questão está bem mais próximo da fronteira chinesa, alias, está no interior da China, como entende Pequim, que olha para Taiwan como parte do seu território indivisível, enquanto Taipé diz amiúde que antes a morte que tal sorte, estado em constante reforço da sua capacidade militar para fazer frente a uma inevitável invasão chinesa para repor a "normalidade".

O problema é que a capacidade militar de Taiwan é quase em exclusivo fornecida pelos EUA, que, apesar de reconhecerem por defeito que esta ilha "rebelde" é pertença da China, nunca deixou de a apoiar fora da diplomacia formal das Nações Unidas e se constituiu há décadas como protector geral do antigo bastião de Chiang Kai Chek, que em 1949 se refugiou na ilha em fuga dos revolucionários de Mao Tse Tung durante a guerra civil chinesa.

E com Taiwan surge o problema de todo o Mar do Sul da China, onde está em disputa a jurisdição sobre um largo conjunto de ilhas e ilhéus, envolvendo não só a China mas ainda Taiwan, Vietname, Brunei, entre outros... e onde os EUA mantém uma significativa presença militar que Pequim encara como uma ameaça à sua soberania.

E é neste contexto que Biden e Jinping se sentaram à mesa para dialogar... via telefone, fazendo depois deixar sair detalhes da conversa, como o insistente pedido de Xi a Biden para que este prefira relações entre ambos "sãs e estáveis" e Biden, concordando, apontou como solução a criação de mecanismos profilácticos para eventuais conflitos.

Através da agência estatal chinesa, Xinhua, ficou a saber-se que o líder chines defendeu que "China e Estados Unidos devem respeitar-se mutuamente, coexistir em paz, cooperar, gerir de forma apropriada os assuntos internos e assumir as suas responsabilidades internacionais".

Xi JInping disse ainda "estar preparado" para "construir consensos" e "dar passos" para recuperar as relações bilaterais com os EUA em diálogo franco com Biden.

Já Biden, a partir de Washington sublinhou que "a competição entre os dois países não deve transformar-se num conflito, intencional ou não".

O que vai resultar desta conversa que teve lugar já noite dentro de segunda-feira para hoje, ninguém sabe nem pode adivinhar, mas é evidente, o que se depreende da leitura dos analistas citados pelos media internacionais, é que não é de esperar mais que resultados modestos.

Mas é igualmente certo que, a partir desta conversa, qualquer mal entendido deverá ser prontamente solucionado, se para ele existir solução e se for, de facto, um mal entendido, porque as duas superpotências militares e económicas não são os melhores amigos, como o demonstram à evidência as prolongadas e custosas guerras comerciais travadas nos últimos anos, como pode ser revisitado nas notícias com links no fundo desta página.