Como pano de fundo para esta ideia de regresso de uma guerra de larga escala na Europa, que os analistas estimam que, a suceder, seria a mais grave desde o fim da II Guerra Mundial, há mais de 70 anos, suplantando mesmo as fratricidas guerras dos Balcãs, na década de 1990, está a exigência de Moscovo de manter as fronteiras da NATO-OTAN fora dos seus limites territoriais.
Essa exigência nasce, aparentemente, da possibilidade de a Ucrânia (ver mapa) estar na iminência de aderir ao tratado de segurança do Atlântico Norte, criado por norte-americanos e a Europa Ocidental no pós-guerra para fazer face ao Pacto de Varsóvia criado pela antiga União Soviética, a leste.
Entretanto, as agências internacionais estão a avançar que os países da NATO enviaram meios militares pesados, incluindo avões de guerra, navios e tanques para vigiar a fronteira a leste da organização com a Rússia.
Esta informação foi passada pela própria NATO, em Bruxelas, onde deu conta do reforço de meios na região por parte da Dinamarca, Espanha, França, Países Baixos e Estados Unidos, numa clara demonstração de força perante Putin.
Joe Biden tem, secundado pelos seus aliados britânicos, reafirmado a sua convicção, o que tem sido atestado estrategicamente por fugas de documentos das secretas norte-americanas para a imprensa, de que a Rússia está há largos meses a preparar uma invasão da Ucrânia, tendo já mais de 120 mil militares, apoiados por equipamento militar de vulto, nas proximidades da fronteira com a Ucrânia.
Os territórios a leste da Ucrânia são de maioria russófila, e culturalmente próxima de Moscovo, bem como a Península da Crimeia, que foi tomada pela Rússia em 2014, o que faz com que, pelo menos essa faixa de território possa vir, segundo estimam alguns analistas, a ser tomada igualmente por Moscovo, de forma a garantir maior profundidade de campo face ao avanço territorial da NATO para os países do leste europeu, aproximando-se das fronteiras com a Rússia.
Apesar desse avanço, tanto Putin, como o seu experiente ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, têm reafirmado que a solução para o problema da pressão ocidental sobre as fronteiras russas deve ser tratado pelo diálogo, tendo mesmo Moscovo e Washington reunido diversas vezes ao mais alto nível, incluindo os seus Presidentes, para lidar com este assunto, que tem, do lado russo, como linha vermelha a exigência de alguns países, especialmente a Ucrânia, ficar de forma da NATO indefinidamente.
Agora é a União Europeia, que se recusa a alinhar pelo mesmo diapasão de Washington e Londres, entra em cena e exigir aos norte-americanos mais informações sobre o porquê de ter mandado retirar os seus diplomatas de Kiev.
E espera que isso seja feito na reunião dos 27 prevista para as próximas horas, onde vai estar presente Anthony Blinken, o secretário de Estado (ministro dos Negócios Estrangeiros) dos EUA, a quem competirá explicar o porquê de Washintin estar tão segura de uma invasão iminente da Ucrânia por tropas russas.
Mas a União Europeia juntou-se aos americanos no sentido de accionar sanções à Rússia caso a possibilidade de invasão suceda.
O Alto Representante da União para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrel, deixou claro que não é intenção dos europeus alinharem com os aliados americanos, embora tenha enfatizado que isso pode mudar se Blinken avançar com explicações suficientemente alicerçadas em factos sobre a possibilidade da invasão iminente.
"Blinken vai explicar-nos a razão desse anúncio. Nós não vamos fazer o mesmo, pois não temos razões especificas para tal. Penso que não devemos dramatizar. Enquanto as negociações prosseguirem, e elas estão a prosseguir, não creio que tenhamos de deixar a Ucrânia. Mas talvez Blinken tenha mais informação para partilhar connosco", declarou o dirigente espanhol, citado pela Lusa.
Este passo, a retirada de familiares de diplomatas é o primeiro passo das medidas de protecção que antecedem, normalmente, o risco iminente de guerra ou atentados terroristas, seguindo-se-lhe a retirada dos diplomatas não essenciais, e por fim, antes do corte de relações, a chamada a casa dos embaixadores.
A retirada dos familiares dos diplomatas é, porém, comummente táctica usada para empolar artificialmente um problema de forma a gerar forte mediatização e mobilização de aliados para pressionar determinado dirigente político ou países.
Esta questão começou a ser falada na imprensa mundial com maior intensidade quando, como o Novo Jornal noticiou, a 4 de Dezembro de 2021, o The New York Times, um dos mais prestigiados jornais dos EUA, noticiou, com base em alegados documentos das secretas, que a Rússia estava a fazer preparativos evidentes para invadir a Ucrânia.
É ainda de salientar que o problema no leste europeu cresceu exponencialmente desde que foi despoletada a crise no Indo-Pacífico, devido à disputa pela influência geo-política entre norte-americanos e chineses nesta vasta região, especialmente com o problema de Taiwan pelo meio.
E tudo exponenciado ainda mais com a criação do acordo entre o Reino Unido, os EUA e a Austrália, para fazer frente aos avanços chineses, que levou a que a França fosse prejudicada num negócio de milhões que envolvia a venda de submarinos a Camberra.