Com este documento, embora as conclusões apresentadas fiquem muito longe do que Donald Trump esperava, tendo mesmo dito antes que seria desmontado o "crime do século", a verdade é que o antigo inquilino da Casa Branca ganha um novo impulso para a corrida eleitoral de Novembro de 2024, para as quais, na verdade, já está bem posicionado ao liderar quase todas as sondagens.

Desde 2016, quando Donald Trump foi eleito Presidente dos EUA contra a democrata Hillary Clinton, que pendem sobre a sua cabeça suspeitas de que manteve ligações perigosas com a Rússia de Vladimir Putin de quem teria recebido ajudas substantivas para a disputa eleitoral e que, nas eleições do próximo ano, onde vai, provavelmente, se ganhar, como tudo indica, as eleições primários do Partido Republicano, voltar a candidatar-se, o mesmo cenário estaria a ser preparado.

Com maior ou menor impetuosidade, os estrategas do Partido Democrata, do actual Presidente, Joe Biden, têm usado os media para injectar suspeitas de que Trumpo mantém as suas ligações perigosas com o Kremlin, especialmente numa altura em que os EUA são o aliado mais próximo dos ucranianos na guerra que travam com a Rússia.

O republicano tem criticado severamente, defendendo a redução acentuada do apoio de Washington a Kiev e prometendo que se for eleito acaba com o conflito no leste europeu em 24 horas, recusando-se a condenar de forma inequívoca a invasão russa à Ucrânia.

Com o encerramento das investigações de John Durham, que não visavam as ligações de Trump a Moscovo directamente, mas sim à conduta do FBI na forma como investigou essas suspeitas em 2016, o Trump consegue mais um trunfo eleitoral para a sua nova corrida à Casa Branca.

E isso acaba por ter também um efeito importante entre os democratas de Joe Biden, porque lhes retira algum conforto político e eleitoral no apoio ilimitado que tiveram até aqui e prometem manter "até onde for preciso", como garante o próprio Presidente, aos ucranianos, a que se acrescenta o facto de a equipa eleitoral dos republicanos de Trump manter as baterias apontadas à fragilidade actual da economia dos EUA construindo pontes entre a crise e a guerra que dizem ser uma das razões para o mau momento que os norte-americanos estão a atravessar.

Todavia, esse impulso que o republicano esperava ver saltar das páginas do documento elaborado por Durham ficou longe do esperado, porque, apesar das criticas severas ao FBI, não aponta para irregularidades monstruosas por parte dos investigadores e das chefias de então do FBI.

Alguns dos erros cometidos pelo FBI e pelo Departamento de Justiça de Barack Obama agora revelados são a queima de etapas processuais para apressar o início das investigações, o que teria como objectivo, segundo Trump, ajudar a campanha de Hillary Clinton, que insistiu profusamente nas relações de conluio do republicano com Moscovo como bónus eleitoral, além de que o FBI terá aproveitado indícios não analisados devidamente como justificação para apontar a lupa ao candidato.

O que este relatório deixa em evidência não é que Trump e Vladimir Putin não se entendiam, porque isso sabe-se que sim, e o próprio não o esconde, o que faz é destruir a base de sustentação do resultado das investigações do FBI, que perdem claramente, como já tinha acontecido, e novamente alicerces.

Certo e seguro é que Trump e os estrategas da sua campanha, agora nas primárias, e depois já contra BIden, vão usar este momento como um "Ás de trunfo", sendo igualmente expectável que o façam igualmente para denunciar esquemas entre o poder político democrata e a Justiça no que toca aos vários processos em que está envolvido, desde o caso dos pagamentos à antiga actriz porno Stormy Daniels, aos documentos secretos e classificados que levou para casa quando deixou de ser Presidente dos EUA.

Provavelmente, este documento vai agora passar a ter estatuto de "estrela" no Congresso, onde os republicanos iniciaram, na Câmara dos Representantes, um processo de investigação à actuação do FBI e do Departamento de Justiça (Ministério da Justiça) de alegado favorecimento político dos democratas de Joe Biden.

Recorde-se que John Durham foi nomeado em 2019 pelo procurador-geral de Trump, William Barr, a seguir ao procurador especial Robert Mueller ter concluído uma outra investigação sobre uma suspeita de conluio com a Rússia para moldar o resultado eleitoral a favor do republicano.

Essa investigação, que de alguma forma é agora anulada, ou diminuída na sua sustentabilidade, por esta, levou a diversas condenações entre elementos próximos de Trump ao ter chegado à conclusão de que Moscovo ajudou Trump embora sem determinar sem rebuço que os homens da sua campanha ou ele próprio estivessem a par desse trabalho subterrâneo feito especialmente nas redes sociais e através das famosas fake news.