As primárias parecem um relógio suíço, com quase nada que possa, a não ser acontecimentos inesperados, impedir um novo confronto entre Trump e Biden, uma espécie de tira-teimas entre dois velhos lobos da política norte-americana.
Agora com 77 anos, Donald Trump prepara-se para a vingança da humilhante derrota que lhe foi imposta por Joe Biden, que já fez 81, em 2020, impedindo-o de se fazer eleger para um segundo mandato, como seria expectável.
Há analistas que admitem que só essa sede de vingança de um e a procura da confirmação do resultado de 2020 do outro leva estes dois idosos a novo embate eleitoral, mesmo sabendo ambos que as sondagens dizem que os norte-americanos os acham demasiado velhos.
Todavia, as sondagens são igualmente nítidas ao darem, com diferenças que vão dos 2% aos 8%, a vantagem a Donald Trump para 05 de Novembro, confirmando o robusto favoritismo nas primárias onde a sua mais importante adversária tem sido derrotada sem piedade.
Nikki Haley, a antiga embaixadora na ONU de Trump, disputa agora com ele as primárias mas não tem conseguido mais que conferir brilho aos feitos eleitorais do seu antigo "boss", embora esta tenha conseguido uma vitória no estado de Washington.
Todavia, esse triunfo no estado-capital do país não tem qualquer importância na caminha vitoriosa de Donald Trump, que tem nesta super-terça-feira, 05, o derradeiro teste à sua entrada no boletim de voto Presidencial, onde decorrem votações primárias em 16 estados.
Mas é igualmente a última oportunidade para a antiga embaixadora Haley mostrar se lhe resta energia suficiente para se manter na corrida, depois de ter sido derrotada sem dó nem piedade em mais de uma dezena de estados, excepto Washington, onde já se votou.
Nem as sondagens nem os analistas admitem sequer que a adversária de Trump possa chegar ao fim da super-terça-feira com um esgar de possibilidades de vir a ser nomeada para ser a cara dos republicanos no boletim de voto das Presidenciais de Novembro.
Alias, tudo indica que, depois deste dia supervitaminado eleitoralmente, Trump iniciará a sua caminha triunfante até Junho, onde terá lugar a reunião dos delegados conquistados pelos candidatos que vão indicar o nome republicano para se bater com o incumbente Joe Biden.
Os acontecimentos inesperados para impedir que Biden encontre Trump no boletim de voto em Novembro, além da saúde dos dois idosos, podem ainda surgir dos vários processos judiciais que envolvem ambos, mas com maior preponderância o republicano.
Se Biden tem de lidar com a investigação em curso no Congresso sobre a sua participação em alegados negócios ilícitos de que o seu filho Hunter é suspeito, e ainda um percalço sobre documentos secretos encontrados na sua garagem, Já Trump tem de gerir uma lista de 91 processos que o vão acompanhar muito além das eleições de Novembro.
O mais grave é claramente o que compreende a suspeita de galvanizar a horda de radicais que invadiu o Capitólio (Congresso) a 06 de Janeiro de 2021, quando ainda era Presidente, onde morreram várias pessoas, incluindo policiais, levando imagens aterradoras da capital dos EUA para o resto do mundo.
Este é claramente o mais grave dos processos em que está envolvido o ex-Presidente, tendo mesmo levado o Tribunal do estado do Colorado, um dos 16 desta super-terça-feira, a ordenar a sua saída do boletim de voto, embora o Supremo Tribunal tenha revertido esta decisão.
Trump já foi também ouvido em tribunal em processos de abuso e ataque sexual a diversas mulheres, e tem pendente sobre a sua cabeça o caso dos milhares de documentos "top secret" que levou para a sua casa privada quando deixou a Casa Branca e ainda fuga a impostos.
Todavia, o dado mais relevante, internamente, destas Presidenciais é a insatisfação generalizada dos eleitores com a obrigatoriedade de escolher entre dois homens de idade avançada, porque nem um nem outro pode dar garantias de que chega ao fim do mandato de quatro anos.
Já no que diz respeito às consequências na política externa da eleição de um ou de outro, são de grande relevância porque dificilmente se encontra na história um embate eleitoral com garantia de impacto tão severo na definição do olhar de Washington para o resto do mundo.
Exemplo disso é o que vai suceder no âmbito da guerra na Ucrânia, onde, actualmente, os republicanos estão a impedir a aprovação por Joe Biden de novas ajudas a Kiev em armas e dinheiro, e com a garantia já firmada por Trump de que vai acabar com o conflito em 24 horas.
Ora, um objectivo tão avassalador como este avançado por Donald Trump só é possível de conseguir com o fim total do apoio dos EUA à Ucrânia, garantindo assim a sua derrota militar face a uma Rússia cada vez mais robusta militar e economicamente, contra todas as expectativas no ocidente.
Outra consequência que dificilmente deixará de ser confirmada com uma vitória de Trump, que é o que as sondagens antecipam, é a mudança substantiva das relações com a Rússia, sendo de esperar uma aproximação com Trump e um aumento do fosso caso vença Biden.
Já no que diz respeito ao outro foco complexo no xadrez mundial que é a China, como mostrou no mandato entre 2016 e 2020, Donald Trump deverá enveredar por um agravar das tensões com Pequim, regressar à sua guerra económica e acrescentar risco ao foco de tensão que é Taiwan.
Se esse momento chegar, vai ser, todavia, interessante perceber como é que Trump lidará com uma aproximação ao seu "amigo" russo, Vladimir Putin, ao mesmo tempo que insere asteróides no braço-de-ferro com Xi Jinping, o Presidente chinês e actualmente "melhor amigo" do chefe do Kremlin que em Washington é visto como a maior ameaça aos EUA.
Há uma garantia dada por Trump se este voltar à Casa Branca, que é um voltar a olhar para dentro como a grande prioridade, nomeadamente para as questões migratórias, e um afastamento da prioridade africana atribuída por Biden na sua política externa, o que pode ser um problema para Luanda depois de Angola ter mudado a agulha das prioridades do oriente para o ocidente. (ver links em baixo nesta página)