Donald Trump fala ao mundo esta quinta-feira, 18, no Milwukee, onde decorre a sua apoteótica entronização, não apenas como candidato, mas, depois de ter saído ileso do atentado que por dois centímetros não lhe ceifou a vida, já como quase, quase Presidente eleito.
E quando tudo apontava para uma nova fase da política norte-americana, menos agreste depois daquele momento histórico, que levou mesmo o ex-Presidente a fazer anunciar que iria mudar o seu discurso para a convenção republicana, amaciando-o de forma a unir o país, eis que Vance saiu das profundezas do Ohio para voltar a lançar a velha retórica cheia de acidez "evangelizadora" em nome dele... de Trump.
O até agora senador do Ohio, de 38 anos, a nova estrela da política júnior norte-americana, pegou na batuta e mudou o ritmo da orquestra, voltando a tocar as heróicas repletas de eufemismos salvíficos em nome de Donald Trump, dizendo coisas como estas: "As pessoas que governaram este país falharam e voltaram a falhar até que ele chegou" para salvar os EUA.
Meteu no saco dos falhanços tanto os antigos Presidentes democratas, indo a seta envenenada primeiro para o peito enfraquecido do actual, Joe Biden, como os republicanos que ocuparam a Casa Branca antes de Donald Trump, o que dá corpo e voz à ideia de que o Partido Republicano está em profunda metamorfose para o... Partido Trump.
Isto, porque, como "explicou" Vance no seu discurso de apresentação na condição de candidato a vice-Presidente, a sucessão de falhados acabou em Donald Trump, voltou a acinzentar com Joe Biden e está agora prestes a voltar aos trilhos do sucesso com a quase, quase certa eleição do milionário "perfeito" que volta a caminhar para a Casa Branca atravessando um oceano de condenações e processos judiciais, acusações de agressões sexuais, de fraude, de falsificação de documentos... intocável, portanto.
"O Presidente Trump representa a última oportunidade da América para restaurar aquilo que se for perdido pode nunca mais ser recuperado", disse mas não explicou com detalhe a que se referia, que será algo como... tudo o que for feito pelo "salvador" Trump será o melhor para os Estados Unidos da América.
Vai ser importante perceber nas próximas horas se este discurso de J.D.Vance, hoje um indefectível do trumpismo mas que nos últimos anos disse o pior de Donald Trump, comparando-o mesmo a um "ditador horrendo" como "o próprio Hitler", é uma versão refeita e amaciada num contexto pós-atentado falhado ou é um retomar do tom rude pré-atentado.
Ou se, no final, é apenas ferrugem mostrada ao mundo para que um discurso de um novo Trump, unificador e apaziguador, possa brilhar ainda mais de forma a colher com mais eficácia os votos no campo difícil do eleitorado moderado...
Vance condenou, com firmeza, mas sem surpresa, o atentado contra Trump no passado Sábado, mas com um ligeiro twist que pode significar muito ao longo desta campanha, agora ou quando faltarem apenas semanas, ou mesmo dias, para 05 de Novembro, o dia das eleições.
"Eu quero que os americanos voltem a ver o vídeo do atentado falhado, que não ceifou a vida dele por um centímetro", disse Vance, para, de seguida, meter o tal twist que pode mostrar o caminho surpresa mais à frente: "Considerem as mentiras que eles vos contaram sobre Donald Trump e depois olhem para a sua fotografia, desafiante, com o punho no ar".
Sobre a icónica imagem de Trump, tirada no comício que foi palco da tentativa falhada de assassinato, na Pensilvânia, a emergir do meio de um cacho de agentes dos serviços secretos, com a bandeira dos EUA em fundo, ensanguentado, com o punho no ar, apelando, com dentes cerrados, "fight, fight, fight", que Vance quer que os americanos vejam, é, afinal, nesta versão, uma espécie de memória-outdoor para as "mentiras que eles (os democratas) contaram sobre Donald Trump" e que conduziram ao atentado.
A oposição férrea de J.D. Vance ao apoio dos EUA à Ucrânia não foi esquecida no discurso, mas ficou em segundo plano face a este desenvolvimento na retórica desenvolvida em torno do que aconteceu no passado Sábado, sendo, porém, de ressalvar que o quase, quase vice-Presidente dos EUA defende que "a segurança" na Europa tem de ser paga pelos aliados europeus porque "acabaram as borlas no exterior" e "os americanos têm de estar primeiro".
Biden está-se a despedir... ou a recuperar forças?
O ainda Presidente e candidato a um segundo mandato democrata, Joe Biden, apanhou o mundo de surpresa, conseguindo um espaço nas capas dos jornais que estavam quase sem excepção dedicadas à convenção de entronização de Trump, anunciado que, afinal, pode mesmo ir embora e dar lugar a outro na corrida à Casa Branca.
Numa entrevista à BET News, Joe Biden admitiu, pela primeira vez, que o tal debate desastroso com Trump, onde a sua fragilidade física e intelectual ficaram expostas como nunca, pode ter sido o seu fim político, deixando escapar que se lhe fosse diagnosticada uma enfermidade séria, sairia de cena.
Isto, horas antes de a Casa Branca ter anunciado que o Presidente tinha contraído Covid-19, uma doença que no imaginário dos eleitores norte-americanos é excepcionalmente grave, até porque serviu de mote a uma boa parte da retórica anti-Trump usada pelos democratas, depois deste minimizar a importâncias das vacinas e da própria infecção durante a pandemia.
Todavia, na sua aparição em público após o anúncio de que estava infectado com Sars CoV-2, prestes a subir para o avião presidencial, rodeado por vários seguranças e membros da sua equipa mais próxima, Joe Biden surge sem máscara (na foto), falando aos jornalistas, assinalando que se sentia "muito bem", mas claramente mais vergado e com dificuldades motoras mais acentuadas que o costume.
Apesar de tudo, Biden já reiterou que está de pedra e cal na corrida eleitoral e que não vai desistir... Mas, como o próprio já disse na mesma entrevista, se ocorrer um agravamento do seu estado de saúde, o mais provável e mesmo ir embora.
Até porque, há outra "doença" com a qual dificilmente conseguirá lidar e para a qual não há vacinas testadas com 100% de sucesso: a vertiginosa queda nas sondagens, primeiro após o desastre que foi o debate com Trump, e depois, ainda com mais vigor, com o surgimento do atentado contra Trump.
O peso do dinheiro
Fortemente pressionado para abandonar por financiadores da campanha, especialmente o poderoso lobby de Hollywood e o ainda mais robusto grupo ligado a Wall Street, Trump, que os media norte-americanos sublinham estar a ser pressionado em sentido contrário pela mulher, Jill Biden, e pelo filho mais velho, Hunter Biden, pode estar entre a espada e a parede e os analistas admitem agora mais que nunca que é o The End para o velho leão do Delaware.
Até porque, para fechar este círculo que se aperta em torno de Biden, que fará 82 anos ainda este ano, mas depois das eleições, a 20 de Novembro, veio a terreiro a ainda mais velha, e democrata, Nancy Pelosi, de 84 anos, pedir-lhe que deixe o caminho para alguém mais novo.
A antiga líder democrata da Câmara dos Representantes veio justificar esta facada nas costas do seu correligionário de décadas com um facto que é quase, quase indiscutível: as sondagens mostram que "ele" não tem quaisquer possibilidades e a sua teimosia está a colocar em causa o futuro do Partido Democrata.
Outro peso-pesado dos democratas, Chuck Schumer, líder do Partido Democrata no Senado, veio igualmente defender que o melhor para o partido e para o país é que Biden saia de cena, porque a sua teimosia pode ser um golpe difícil de superar por muitos anos.
Isto, porque, como têm sublinhado alguns analistas, com a vitória quase, quase assegurada por Trump, e se este não cometer o mesmo erro que Biden está agora a cometer, agarrando-se ao cargo com unhas e dentes, o seu actual candidato a vice-Presidente, J.D. Vance, de apenas 38 anos, se tiver um bom desempenho, pode facilmente ganhar em 2028, o que, em síntese, será o mesmo que dar como certo que o Partido Democrata ficará fora do poder nos próximos 12 anos.
Face ao actual quadro, onde se destaca a sucessão de sondagens que apontam como facto que os democratas, tanto o eleitorado como os eleitos no Congresso, defendem maioritariamente a saída de cena de Joe Biden, é provável que o ainda Presidente dos EUA anuncie em breve que sofreu um sério agravamento do seu estado de saúde depois de contrair Covid-19.