Teerão e Telavive estão num mortal jogo de "ping-pong" com cada bola a aproximar mais não só a região do Médio Oriente mas também o mundo de um confronto entre as duas maiores potências militares daquela geografia que pode assumir dimensões bíblicas.
E que só vai terminar quando um dos "jogadores" falhar a bola, o que, para já, não parece vidente, porque Israel e o Irão já vieram avisar que, cada bola atirada para o lado da "mesa" do adversário, terá como reposta outra ainda mais violenta e com mais sofisticados efeitos.
Há décadas que iranianos e israelitas se ameaçam mutuamente de destruição, mas é igualmente verdade que, até hoje, se têm contentado com pequenos golpes de efeito controlado.
Seja com Israel a assassinar e a atacar indivíduos importantes na nomenclatura iraniana, de generais da Guarda Revolucionária a cientistas do seu programa nuclear, seja com os "proxys" iranianos do Hezbollah ou outras milícias a visar posições militares em território israelita ou no exterior.
Mas nunca tinha acontecido um ataque directo do Irão a Israel, com centenas de misseis e drones de longo alcance, o que eleva para um novo e relativamente desconhecido patamar de beligerância entre estes dois inimigos de estimação histórica.
O Presidente iraniano, Ibrahim Raisi, e também o líder superemo, aiatola Ali Khamenei, logo após o ataque ao consulado em Damasco, disseram que Israel tinha ido longe demais, deixando-os sem espaço de manobra e forçados a responder de uma forma clara e inequívoca.
O resultado foi o início deste letal jogo de ping-pong, que ambos os lados estão dispostos a continuar a jogar e a manter a bola em movimento de um lado para o outro, com a certeza de que o mundo está a ver como começou mas ninguém ousa adivinhar como vai terminar.
Enquanto em Teerão se aguarda para ver o que vai fazer Israel, em Telavive, o Gabinete de Guerra (na foto) criado pelo Governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyhau, o mais radical tanto ideologicamente como no capítulo religioso de sempre, com os falcões de guerra de garras mais afiadas nele presentes, reúnem esta terça-feira pela 3ª vez em 24 horas para ultimar o desenho final do contra-ataque.
Com os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e a União Europeia a pedirem contenção, pelo menos publicamente, Netanyahu está apertado entre a parede dos aliados que exigem uma redução da tensão e a espada dos radicais que com ele governam Israel e exigem guerra...
Alguns analistas apontam como saída mais provável para o primeiro-ministro israelita aceitar a inevitabilidade de atacar mas reduzir as consequências ao escolher alvos fora do território iraniano, optando pelas suas unidades militares na Síria ou os quartéis do Hezbollah ou das milícias xiitas iraquianas.
Até porque, para lançar um ataque directo contra território iraniano, contra as suas instalações militares ou ligadas ao programa nuclear, Israel teria de optar por não respeitar a soberania dos países árabes vizinhos, que fecharam os seus espaços aéreos, e criar problemas onde estes já sobram.
Ou então, lançar os seus aviões, drones e misseis numa trajectória de milhares de quilómetros e perigoso, atravessando o Mar Vermelho, o Mar Arábico e o Golfo Pérsico... permitindo ao Irão detectar trajectórias e preparar-se com tempo para se defender.
Provavelmente, após a 3ª reunião do Gabinete de Guerra israelita, não será revelada a moldura do ataque, apenas que este terá lugar em breve, e uma das questões em cima da mesa é que o Irão, ao lançar os seus drones e misseis avisou os aliados e vizinhos de Israel com 72 horas de antecedência.
Esse gesto foi visto como uma forma de vincar a resposta mas de uma forma que permitisse a Israel não escalar o conflito para um patamar de tudo ou nada, escolhendo como alvos em Israel apenas bases militares e postos de controlo e comando das Forças de Segurança de Israel (IDF) sem vítimas mortais registadas.
Vai agora Israel optar pelo mesmo método, ou elevar a fasquia para a zona perigosa de um confronto total, sabendo-se que o Estado judaico possui bombas nucleares, além de um dos mais sofisticados e dotados exército do mundo graças ao ilimitado apoio norte-americano.~
Mas com a certeza igualmente de que o Irão, que, segundo algumas fontes, já tem a arma nuclear, porque só com esse elemento dissuasor se permitiria entrar neste perigoso ping-pong, além de ser possuidor de tecnologia hipersónica para a sua capacidade balística, estando, assim, capacitado para provocar grande devastação nas cidades israelitas, que, como o resto do mundo ocidental, nem possui esta tecnologia nem tem como a travar.
Até que se perceba a dimensão da resposta israelita à resposta iraniana ao ataque de 01 de Abril em Damasco, onde foram mortas 11 pessoas, entre estas sete militares, destacando-se dois generais de topo da Guarda Revolucionária, o mundo ficará em suspenso, porque, mesmo que os EUA se mostrem empenhados em garantir que esta será contida, não está apagada a possibilidade de um conflito como o mundo nunca viu no Médio Oriente.