Em França, o Governo do Presidente Emmanuel Macron emitiu um comunicado onde informa que "apoia o TPI, a sua independência e a sua luta contra a impunidade em todas as situações", colocando Paris em rota de colisão com Washington.

Como era esperado, o anúncio, na segunda-feira, 20, do procurador internacional do TPI, o britânico Karim Khan, que tinham sido emitidos os mandatos de captura internacional para Benjamin Netanyhau, o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, a reacção nos EUA foi violenta.

De tal modo que o mesmo procurador ter emitiu mandados de captura semelhantes para dois líderes do Hamas, Yahya Sinwar, em Gaza, e Ismail Haniyeh, que comanda a secção internacional a partir do Catar, mas isso ficou quase esquecido nos media internacionais.

Todas as grandes potências estão fora do Estatuto de Roma que em 2002 fundou o TPI, desde logo os EUA, a Rússia e a China, mas também alguns países com menos relevância internacional, como Israel ou a Ucrânia.

O que não impediu que, há alguns meses, quando começou a ser falada a possibilidade de Netanyhau e Gallant, devido ao acumular de milhares de civis mortos em Gaza pelas Forças de Defesa de Israel (IDF), que já vai em 35 mil, um grupo de dezenas de congressistas norte-americanos tenha emitido uma declaração onde ameaça directamente o TPI com sanções.

Tanto democratas como a oposição republicana no Congresso dos EUA estão, quase sem excepção, unidos na agressiva crítica ao TPI por estar a colocar os dirigentes israelitas e os líderes do Hamas, estando em preparação um pacote de sanções financeiras e económicas aos membros deste tribunal com sede em Haia, Países Baixos.

Os mesmos congressistas que rejubilaram com o mandado de captura do Presidente russo, Vladimir Putin, em 2023, por crimes contra a humanidade por ter levado à força crianças ucranianas para a Rússia, mas que não vêem qualquer crime desta natureza nas mais de 15 mil crianças mortas em Gaza pelas bombas e aviões fornecidos pelos EUA a Israel.

Todavia, se no caso da emissão do mandado de captura contra Putin uniu Paris e Washington, bem como as restantes capitais europeias, neste caso, a posição não podia ser mais distinta entre franceses e norte-americanos.

Se os americanos não vacilam em defender os seus mais importantes aliados no Médio Oriente, em Paris, o Governo de Macron enfatiza a questão da coerência na forma como lida com acusações de gravidade similar, notando que Israel já estava sob aviso global para se comportar em Gaza de acordo com a lei internacional.

Enquanto isso, o Presidente Biden, em Washington, investiu fortemente contra esta emissão de mandados de captura contra Netanyhau e Gallant defendendo que não há comparação possível entre o Hamas e o Governo de Israel, a quem reconhecem o direito de se defender.

Porém, para o Hamas, também esta decisão é sem sentido, porque é o Hamas que se está a proteger da ocupação israelita há décadas e que são os palestinianos que estão a morrer aos milhares sob os bombardeamentos israelitas.

Perante estas posições, é evidente que todo o pensamento pró-israelita no contexto desta decisão do TPI parte do princípio de que o ataque de 07 de Outubro de 2023, onde o Hamas invadiu parte do sul de Israel, deixando um rasto de mais de mil mortos, é o começo do problema.

Já o Hamas e os seus aliados, naturalmente, contextualizam a mortandade provocada por Israel entre a população civil palestiniana no processo histórico de criação do Estado de Israel, em 1948, que levou à expulsão de milhões de palestinianos dos seus territórios, num processo que continua ainda hoje com a instalação de colonatos nos escassos territórios ainda na posse de palestinianos.

No entanto, após o ataque violento dos combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica no sul de Israel a 07 de Outubro deixou um rasto de morte, cerca de 1200 pessoas, na maioria soldados israelitas surpreendidos nas casernas, a resposta israelita com a invasão de Gaza já matou mais de 35 mil civis, dos quais 15 mil crianças, sendo que 80% destes são crianças, mulheres e idosos.

Além disso, Gaza, um território com apenas 365 Kms2, numa faixa de 40 kms por 9kms de largura, habitada por 2,3 milhões de pessoas, está reduzida a um extenso campo de destroços e ruínas, com a sua população concentrada em campos de refugiados onde falta água, comida, medicamentos e todo o tipo de ajuda humanitária que Israel dificulta o acesso. (ver links em baixo nesta página)

Alias, o procurador internacional do TPI, Karim Khan, sublinha na argumentação adjacente aos mandados de captura, que contra Netanyhau e Gallant estão as acusações de crimes de guerra e crimes contra a Humanidade com destaque para a procura de causar a exterminação do povo palestiniano, fome como ferramenta de guerra e a recusa de ajuda humanitária, assim como o alvejamento deliberado de civis.

Contra os líderes do Hamas, estão acusações de crimes de extermínio, assassinato, tomada de reféns, rapto e ataques sexuais.